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Até o começo de outubro de 2023 nunca ninguém havia fotografado (que se tenha registro) um beija-flor rabo-de-espinho (Discosura langsdorffi) no sudeste do Brasil. Mas a história mudou.
Era o segundo dia do mês e uma equipe de “passarinheiros”, composta pelos irmãos e condutores de turismo Afonso Carlos e Luiz Alberto, além do policial militar Diego Murta e do analista de negócios, Fábio Moraes estava pronta para novas descobertas.
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Quando entraram no Parque Estadual Alto Cariri, em Santa Maria do Salto (MG), pouco após às 05h, pretendiam encontrar espécies inéditas para Minas Gerais, mas jamais imaginavam que a surpresa seria tão especial.
Afonso, Diego e Fábio estavam próximos a um ingazeiro que tinha dezenas de beija-flores, principalmente topetinhos-vermelho, quando um deles avistou uma espécie diferente e alertou o grupo sobre a possibilidade da presença de um rabo-de-espinho, que logo voou para dentro da mata.
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Luiz estava um pouco atrás fotografando um araçari-poca (Selenidera maculirostris) e foi correndo saber da novidade. “Nunca nenhum de nós tinha visto a espécie e decidimos colocar o playback da ave com a esperança dela voltar. E ela não só voltou, como também pousou bem diante da nossa cara”.
Os quatro ficaram em êxtase. “Foi uma emoção enorme, eu não parava de tremer e não estava conseguindo fazer o foco na câmera. Consegui apenas três fotos e o bicho foi embora novamente”, relembra Luiz, que conta ainda que o grupo todo ficou super feliz e foi comemorar com um açaí.
De acordo com o biólogo Luciano Lima, há apenas um registro histórico da espécie em 2018, no Parque Nacional do Caparaó, em Minas Gerais, sem fotos e muitas informações relatado no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, Volume III, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Assim, as novas fotos do grupo são as primeiras da espécie não só no estado mineiro, mas em todo Sudeste.
Os observadores de aves ainda não sabem se o indivíduo flagrado é migratório ou se é residente do parque. “Mas é bem provável que o bicho ocorra em outras matas do Alto Cariri e Jequitinhonha aqui no estado”, torce.
Luciano Lima ressalta ainda que: “o registro desse beija-flor, e de várias outras fotografadas pelos observadores na mesma expedição, como o crejoá, reforça a grande importância, em âmbito mundial, do Parque Estadual do Cariri para conservação da biodiversidade da Mata Atlântica.
A espécie
Segundo Luciano Lima, o rabo-de-espinho é um dos beija-flores mais raros e menos conhecidos da Mata Atlântica.
“Existem pouquíssimos registros recentes do animal e ele é considerado extinto na maior parte das regiões do leste do país, onde ocorria no passado”, explica.
A espécie é uma das menores espécies de beija-flores do Brasil, com comprimento total que varia de 7 (fêmeas) a 12,5 centímetros no caso dos machos. Prefere as copas das árvores, o que faz com que qualquer encontro com ela seja motivo de muita comemoração por observadores de aves e ornitólogos (biólogo especialista em aves).
O rabo-de-espinho também ocorre na Amazônia. No entanto, está representado em cada um desses domínios naturais por subespécies distintas.
A subespécie da Mata Atlântica (Discosura langsdorffi langsdorffi) é associada à florestas de baixada, “que é um dos tipos de floresta desse domínio natural que foi mais destruído desde a chegada dos europeus”, afirma Luciano.
Não por acaso, a perda do habitat natural é uma das principais ameaças para a espécie, que está presente na lista da fauna brasileira ameaçada de extinção.
Fonte: G1