22 de dezembro, 2024

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Passa de mil o número de civis mortos em três semanas de ofensiva contra Guta Oriental, na Síria

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Mais de mil civis morreram desde o início, há três semanas, da ofensiva do regime sírio contra o enclave rebelde de Guta Oriental, de acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Das 1.002 vítimas contabilizadas até o momento, 215 são crianças, segundo a ONG com sede em Londres que monitora a guerra civil na Síria.

A região sitiada pelo regime fica nos arredores de Damasco e é um antigo destino de viagens de final de semana para os moradores da capital síria. Atualmente, tornou-se um dos últimos redutos de rebeldes que lutam contra o regime do ditador Bashar Al-Assad.

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Apesar da Organização das Nações Unidas (ONU) ter aprovado um cessar-fogo para a região, ele não foi colocado em prática. Nem mesmo durante as cinco horas diárias, que os russos se comprometeram a respeitar, a trégua humanitária funcionou. A Rússia culpa os rebeldes.

A televisão estatal síria transmitiu neste sábado a partir da cidade de Mesraba, que fica perto da estrada que liga as metades norte e sul do enclave, após reportar que o Exército a havia tomado. A transmissão ao vivo mostrou uma cortina maciça de fumaça subindo atrás de casas e árvores da região, com o som de explosões ao fundo. A TV disse que a cena filmada em Mesraba mostrava prédios abalados e paredes cheias de marcas de tiros.

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A captura de Mesraba e os avanços em direção às áreas rurais próximas deixaram importantes estradas diretamente sob o ataque do Exército, de acordo com o OSDH. Isso, na verdade, separou as grandes cidades de Harasta e Douma uma da outra e do resto do enclave, acrescentou.

No entanto, Hamza Birqadar, um porta-voz do Jaish al-Islam, um dos dois principais grupos insurgentes em Guta Oriental, disse que os rebeldes repeliram o ataque à Mesraba e nem Harasta nem Douma foram isoladas.

Destroços em Duma, na região de Guta Oriental (Fotos: Reprodução)

Cerco a Guta Oriental

Nesta região, de cerca de 100 quilômetros quadrados, 400 mil pessoas vivem cercados por forças pró-Damasco. O cerco a Guta Oriental teve início em 2013, dois anos depois de explodir a guerra na Síria.

Apesar de ser isolada e bombardeada há anos, as forças de Assad negligenciaram Guta Oriental durante os primeiros anos da guerra civil porque se concentraram em recuperar áreas consideradas cruciais para a sobrevivência do governo. No entanto, desde o dia 18 de fevereiro a região é alvo de uma nova campanha aérea lançada pelo regime de Assad e seu aliado, a Rússia.

Os governos sírio e russo dizem que a campanha é necessária para acabar com o bombardeio rebelde a Damasco e tentar acabar com o domínio de insurgentes islamitas sobre os civis da região.

A ofensiva segue o padrão de ataques anteriores à fortalezas rebeldes, utilizando poderio aéreo massivo e cercos apertados para forçar os insurgentes a aceitarem acordos para “retiradas”.

Ajuda humanitária

Nesta sexta-feira (9), 13 caminhões que transportavam comida e remédio entraram em Guta. No entanto, após a chegada do comboio humanitário, a região foi alvo de um ataque aéreo, segundo relato do OSDH.

As equipes conseguiram entregar a ajuda, que deveria ter chegado no dia 5 de março, mas tinha sido adiada por causa de bombardeios na região.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) afirmou em comunicado que sua equipe, em parceria com o Crescente Vermelho na Síria e a ONU, distribuiu 2.400 pacotes de comida suficientes para 12 mil pessoas durante um mês e 3.248 sacos de farinha na cidade de Duma.

“Os combates que aconteceram nos surpreenderam, porque as partes envolvidas neste conflito garantiram que as ajudas humanitárias podiam entrar em Duma. É imprescindível que essas garantias sejam renovadas e respeitadas no futuro para que mais ajuda entre nos próximos dias”, declarou o diretor regional do CICV para o Oriente Médio, Robert Mardini.

Ele aproveitou para ressaltar que “a segurança dos trabalhadores humanitários, assim como a dos civis, deveria ser garantida sempre”.

No início desta semana, uma carga com ajuda entrou em Guta Oriental pela primeira vez desde o início da ofensiva, mas teve que sair sem entregar toda a carga por causa dos bombardeios na região.

Crianças reúnem madeira em Guta (Foto: Reprodução)

‘Pulmão verde’ perto de Damasco

“Guta” é um nome informal usado para se referir aos subúrbios de Damasco, que ficam no entorno do rio Barada.

Antes da guerra, Guta era uma região agrícola produtora de vegetais e frutas, incluindo damasco. Já foi o maior fornecedor de arroz, açúcar, frutas e vegetais da capital.

Era também considerado um “pulmão verde”, onde os habitantes da capital passavam o final de semana.

Grupos que atuam em Guta Oriental

Os residentes de Guta Oriental estiveram entre os primeiros a se rebelar contra o regime de Assad, em 2011. A região foi tomada por rebeldes um ano depois, quando a agitação se tornou um conflito armado, com a repressão às manifestações pró-democracia, e uma sangrenta guerra civil.

Em julho de 2012, opositores que partiram para a luta armada e formaram o Exército Sírio Livre (ESL) lançaram, a partir de Guta, uma batalha contra Damasco.

A partir dessa região, os rebeldes lançam projéteis contra bairros de Damasco.

Atualmente, três grupos principais lutam em Guta Oriental:

  • Jaysh al-Islam, ou Exército do Islã. É a maior facção rebelde na região, com entre 10 mil e 15 mil combatentes, que lutam para substituir o governo Assad por um novo regime baseado na lei islâmica (sharia).
  • Faylaq al-Rahman, ou Legião al-Rahman. É ligado ao ESL e rival do Jaysh al-Islam, e diz que tem o objetivo de derrubar o regime sírio, mas não pretende transformar o país em um Estado do Islã.
  • Hay’at Tahrir al-Sham, ou Organização para a Libertação do Levante. A coalizão quer implementar uma doutrina religiosa ultraconservadora e é formada por membros da antiga Frente al-Nusra. Nega que seja a filial local da Al Qaeda.

Desnutrição e fome

Os constantes bombardeios aéreos e de fogo de artilharia, além de deixar muitas vítimas civis, destruíram edifícios residenciais, mercados, escolas e hospitais.

O cerco à região provocou um aumento nos preços e uma escassez de commodities. Consequentemente, gerou falta de alimentos, fome, desnutrição e uma séria crise humanitária. Os comboios humanitários da ONU raramente conseguem entrar na região.

Em 2017, a ONU condenou a “privação deliberada de alimentos para os civis” como uma tática de guerra, após a publicação de fotografias “chocantes” de crianças esqueléticas no leste de Guta.

E o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) denunciou a pior crise de desnutrição desde o início da guerra em 2011, com 11,9% das crianças menores de cinco anos sofrendo de desnutrição grave, contra 2,1% em janeiro.

Fumaça encobre Guta neste sábado (10) (Foto: Reprodução)

Fonte: Yahoo!

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