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Uma operação da Polícia Civil do RJ contra o tráfico de drogas no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro, deixou 25 pessoas mortas e provocou um intenso tiroteio no início da manhã desta quinta-feira (6).
Segundo o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF) e a plataforma Fogo Cruzado, trata-se da operação policial mais letal da história do Rio.
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O policial civil André Farias foi baleado na cabeça e morreu, segundo a polícia. A corporação afirma ainda que 24 suspeitos foram mortos, mas não esclareceu quem são a maioria das vítimas e a situação em que foram atingidas. Em coletiva à tarde, o delegado Rodrigo Oliveira, da Core, disse que dois dos mortos foram alvejados quando atacaram policiais que faziam a perícia no local de outras mortes.
Seis pessoas foram presas e armas foram apreendidas.
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Pelas redes sociais, moradores relataram mais mortes que as computadas, além de corpos no chão, invasão de casas e celulares confiscados. À tarde, eles chegaram a fazer um protesto na comunidade. A polícia negou que fez qualquer execução durante a operação.
“Se alguém fala de execução nessa operação, foi no momento em que o policial foi morto com um tiro na cabeça “, disse o delegado Rodrigo Oliveira, da Core.
Dois passageiros do metrô foram baleados dentro de um vagão da linha 2, na altura da estação Triagem, e sobreviveram. Um morador foi atingido no pé, dentro de casa, e passa bem. Dois policiais civis também se feriram.
Foram registrados som de rajadas, e explosões de bombas em diferentes pontos da favela.
Moradores contaram que não conseguiam sair de casa — como uma noiva de casamento marcado e uma grávida com cesariana agendada, ambas para esta manhã. Devido ao confronto, a Clínica da Família Anthidio Dias da Silveira e outros dois postos de vacinação contra a Covid precisaram ser fechados.
Maior nº de mortes, apesar de restrição do STF
Segundo a plataforma digital Fogo Cruzado, que registra dados de violência armada desde julho de 2016, é o maior número de mortes durante uma operação da polícia em uma comunidade desde o início dos levantamentos.
Desde junho do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu operações em favelas durante a pandemia. A decisão permite ações apenas em “hipóteses absolutamente excepcionais”.
Para isso, os agentes precisam comunicar ao Ministério Público sobre o motivo da operação. O órgão informou que foi notificado pela polícia sobre a ação “logo após o início da operação”. Em entrevista coletiva à tarde, o delegado Rodrigo Oliveira, da Core, afirmou que a ação cumpriu todos os protocolos da decisão do STF.
Um advogado da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acompanha o caso.
Números
Segundo a Polícia, até 15h30, a operação tinha apreendido:
- 15 pistolas
- 6 fuzis
- 1 sub-metralhadora
- munição antiaérea
A ação envolveu:
- 250 polícias
- 4 blindados
- 2 helicópteros
Aliciamento de crianças e adolescentes
A Operação Exceptis investiga o aliciamento de crianças e adolescentes para ações criminosas, como assassinatos, roubos e até sequestros de trens da Supervia. A polícia afirma que o tráfico da região adota táticas de guerrilha, com armas pesadas e “soldados fardados”.
O Jacarezinho é considerado uma base do Comando Vermelho, a maior facção do tráfico de drogas em atividade no Rio. A comunidade é predominantemente plana, repleta de ruelas e cercada de barricadas instaladas pelo crime — o que dificulta o acesso de blindados, por exemplo.
Às 6h45 policiais avançando pelos trilhos da Supervia e do metrô — que cortam o Jacarezinho na superfície — e se abrigando em postes. Helicópteros da polícia, em apoio às equipes em terra, davam rasantes na comunidade.
Às 7h30, criminosos com fuzis foram vistos pulando de laje em laje, em fuga. Os homens passavam as armas de mão em mão pelos muros enquanto corriam pelos telhados das casas.
Durante a operação, não havia movimentação de moradores nas ruas e vielas do Jacarezinho.
A troca de tiros afetou a circulação da Linha 2 do metrô e dos ramais de Saracuruna e de Belford Roxo da Supervia — trens da Central não partiam para esses destinos.
Escutas identificaram 21 criminosos
Com a quebra dos dados telemáticos autorizada pela Justiça, foram identificados 21 integrantes do grupo criminoso, todos responsáveis por garantir o domínio territorial da região com utilização de armas de fogo.
A polícia identificou uma estrutura típica de guerra provida de centenas de “soldados” munidos com fuzis, pistolas, granadas, coletes balísticos, roupas camufladas e todo tipo de acessórios militares.
Nota do Ministério Público
O MPRJ informa que a operação realizada nesta data na comunidade do Jacarezinho foi comunicada à Instituição logo após o seu início, sendo recebida às 9hs.
A motivação apontada para a realização da operação se reporta ao cumprimento de mandados judiciais – processo 0158323-03.2020.8.19.0001 – de prisão preventiva e de buscas e apreensão no interior da comunidade, sabidamente dominada por facção criminosa.
A Polícia Civil apontou a extrema violência imposta pela organização criminosa como elemento ensejador da urgência e excepcionalidade para realização da operação, elencando a “prática reiterada do tráfico de drogas, inclusive com a prática de homicídios, com constantes violação aos direitos fundamentais de crianças e adolescentes e demais moradores que residem nessas comunidades” como justificativas para a sua necessidade. Indicou, por fim, a existência de informação de inteligência que indicaria o local de guarda de armas de fogo e drogas.
Nesse contexto, importante esclarecer que a realização de operações policiais não requer prévia autorização ou anuência por parte do Ministério Público, mas sim a comunicação de sua realização e justificativa em atendimento aos comandos expressos do Supremo Tribunal Federal, a partir do julgamento da ADPF 635-RJ.
O MPRJ, desde o conhecimento das primeiras notícias referentes à realização da operação que vitimou 24 civis e 1 policial civil, vem adotando todas as medidas para a verificação dos fundamentos e circunstâncias que envolvem a operação e mortes decorrentes da intervenção policial, de modo a permitir a abertura de investigação independente para apuração dos fatos, com a adoção das medidas de responsabilização aplicáveis.
Informa, ainda, que o canal de atendimento do Plantão Permanente disponibilizado pelo MPRJ recebeu, nesta tarde, notícias sobre a ocorrência de abusos relacionados à operação em tela, que serão investigadas. Cabe ressaltar que, logo pela manhã, a atuação da Coordenação de Segurança Pública, do Grupo Temático Temporário e da Promotoria de Investigação Penal teve início a partir do conhecimento dos fatos pela divulgação na imprensa e redes sociais.
Equipe de Promotores de Justiça acompanha a situação no momento, não havendo ainda confirmação de retomada da estabilidade da segurança no local.
O MPRJ reitera a disponibilidade dos canais de comunicação com o Plantão Permanente (21 2215-7003, telefone e Whatsapp Business) para a apresentação de informações e o oferecimento, por parte da população e sociedade civil em geral, de registros audiovisuais que possam contribuir para a regular apuração dos fatos e identificação de vítimas e familiares que possam vir a colaborar com as investigações.
Por fim, o MPRJ reafirma que todas as apurações serão conduzidas em observância aos pressupostos de autonomia exigidos para o caso, de extrema e reconhecida gravidade.
Fonte: G1