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O Conselho de Segurança da ONU foi convocado neste sábado (11) a votar em uma renovação por um ano da ajuda transfronteiriça na Síria, ainda que com um dispositivo reduzido imposto pela Rússia aos países ocidentais, segundo fontes diplomáticas.
Após uma semana de divisões e sete votações, uma resolução apresentada pela Alemanha e pela Bélgica, que permite usar por um ano um ponto de travessia na fronteira turca em Bab al Hawa, ao invés dos dois utilizados até agora, foi adotado por 12 votos.
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Três países se abstiveram (china, Rússia e República Dominicana), segundo diplomatas.
A autorização transfronteiriça das Nações Unidas, em vigor desde 2014, permite a entrega de ajuda à população síria sem a necessidade de aprovação de Damasco.
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Em janeiro, o mecanismo já tinha sido severamente reduzido pela Rússia, que considera que o mesmo viola a soberania da Síria, sua aliada.
O texto aprovado satisfaz a pretensão de Moscou de eliminar o cruzamento de Bab al Salam, também na fronteira turca, que leva à região de Aleppo (norte).
Controlando o jogo desde o início, a Rússia voltou a impor sua vontade aos ocidentais, infligindo um revés a Alemanha e Bélgica, patrocinadoras da resolução e membros não permanentes do Conselho responsáveis pelo aspecto humanitário da crise síria na ONU.
“A Rússia tem o controle deste processo”, disse Richard Gowan, do grupo de especialistas International Crisis Group (ICG).
O veto da semana “foi secundário porque, em última instância, a Rússia sempre iria impor uma solução nos termos” aceitos neste sábado, declarou à AFP.
Nas últimas semanas, Moscou tinha afirmando a seus interlocutores que o ponto de entrada de Bab al Salam era muito menos usado que o de Bab al Hawa, que serve à região insurgente de Idlib, onde vivem milhões de sírios, incluindo deslocados, com forte presença de mulheres e crianças.
A Rússia também argumentou que a ajuda que passa pelo controle de Damasco pode ser aumentado para a região de Aleppo.
Uma derrota pesada
A resolução aprovada estabelece que o ponto de travessia de Bab al Hawa, no noroeste da Síria, será mantido “durante 12 meses até 10 de julho de 2021”.
O texto pede ao secretário-geral da ONU, António Guterres, um informe periódico “ao menos a cada 60 dias”.
Para os Estados Unidos, que tinham feito da manutenção dos dois acessos à Síria uma “linha vermelha”, o fracasso também é considerável.
Os ocidentais acreditam não haver uma alternativa confiável ao sistema transfronteiriço, e denunciam os obstáculos criados pela burocracia e a política sírias a um fluxo de ajuda efetivo em áreas não controladas por Damasco.
Várias ONGs têm a mesma opinião.
Sem este mecanismo, que constitui “o canal mais viável” de ajuda, os civis “estão à mercê do governo sírio”, que pode ou não aprovar as entregas de ajuda humanitária em áreas sob o controle da oposição, disse à AFP Susannah Sirkin, da organização Physicians for Human Rights.
A redução do sistema transfronteiriço também é um revés para António Guterres, que solicitou em um relatório em junho que fossem mantidos pelo menos os dois pontos de acesso usados até agora.
Guterres pode apontar a seu favor que o ponto de passagem de Bab al Hawa terá visibilidade de um ano e não de seis meses, como se previa em certo momento, mas este feito não compensa o fracasso global.
China e Rússia tinham recorrido duas vezes esta semana à sua condição de membros permanentes do Conselho de Segurança para vetar os textos de Berlim e Bruxelas. Desde o começo da guerra na Síria, em 2011, a Rússia o empregou em 16 ocasiões e a China em 10.
Para que uma resolução seja adotada no Conselho, deve contar com um mínimo de 9 votos dos 15 integrantes do colegiado, sem o voto contrário de nenhum dos cinco membros permanentes.
Em janeiro, já em posição de força, Moscou tinha conseguido que o sistema transfronteiriço perdesse dois dos quatro pontos de acesso autorizados, situados na Jordânia, para acessar o sul da Síria, e no Iraque, para levar ajuda ao nordeste do país.
Fonte: Yahoo!