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O aumento da violência antissemita e o incitamento ao ódio forçaram a França a enfrentar um doloroso passado de discriminação e preconceito contra os judeus.
“O antissemitismo tem profundas raízes na sociedade francesa”, declarou o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, depois que um importante escritor foi vítima de insultos antissemitas em uma rua no centro de Paris.
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O número de crimes antissemitas denunciados à polícia passou de 311 em 2017 para 541 em 2018, depois de ter caído por dois anos.
Cem sepulturas foram profanadas na semana retrasada em um cemitério judeu no leste do país e pichações antissemitas, incluindo suásticas, apareceram nas fachadas de prédios e lojas.
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A França, que abriga a maior comunidade judaica da Europa (cerca de 500.000 segundo estimativas), prometeu medidas para lutar contra o ressurgimento de atos antissemitas.
Mas o problema remonta a séculos atrás em um país com uma longa história de antissemitismo, às vezes apoiado pelo Estado.
França medieval
No século XIII, na França medieval, majoritariamente católica, Luís IX emitiu um decreto que obrigava os judeus a usar a “rouelle”, um pedaço de pano amarelo que pendia de seus casacos.
Os ataques soberanos autorizados contra a fé judaica tornaram-se mais proeminentes sob o reinado de Filipe IV que, em 1306, passou a confiscar a propriedade dos judeus e expulsá-los do país, a menos que se convertessem ao catolicismo.
Quase 90 anos depois, Carlos VI anunciou que nenhum judeu poderia continuar a viver em seu reino.
Segundo a historiadora Marie-Anne Matard-Bonucci, o constante assédio contra a população judaica era motivada por dinheiro.
“Quando (os reis) precisavam de dinheiro, usavam de qualquer pretexto para perseguir os judeus e confiscar suas propriedades”, explicou.
Mas a França não foi exceção. As comunidades judaicas da Europa em geral eram acusadas por todos os males, desde as epidemias da peste negra até a contaminação da água dos poços.
Emancipação dos judeus
Alguns anos após a Revolução Francesa, em 1791, a França tornou-se o primeiro país da Europa a emancipar os judeus, concedendo-lhes direitos iguais perante a lei.
“O período revolucionário foi um período de questionamento das elites do regime anterior e dos poderes da Igreja”, aponta Matard-Bonucci.
Nesse período, explica a historiadora, nasceu o termo judaico-maçônico, uma suposta coalizão secreta entre judeus e maçons.
“Uma vez que os judeus se beneficiaram da Revolução, começaram a pensar que eram responsáveis e que estavam relacionados a sociedades secretas”.
“Todos os partidários do Antigo Regime e os católicos mais conservadores passaram a ser hostis aos judeus, que, como na Idade Média, se tornam novamente bodes expiatórios”.
O caso de Alfred Dreyfus
Na história mais recente, o caso de Alfred Dreyfus tornou-se um exemplo do antissemitismo na França, revelando profundas divisões na sociedade no final do século XIX.
O escândalo revelou a profundidade do sentimento antijudaico no país e desencadeou uma crise nacional.
Amparado por uma imprensa antissemita virulenta, o capitão Alfred Dreyfus, que era judeu, foi condenado por traição em 1894 sob falsas acusações de espionagem.
Apesar da falta de provas, ele foi condenado à prisão perpétua na terrível prisão da Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, e publicamente destituído de sua patente.
Por 12 anos, Dreyfus lutou para expor a trama antissemita que levou à sua condenação.
Em 1898, o escritor Emile Zola publicou sua famosa carta “J’accuse” (Eu acuso) ao presidente da época, na qual nomeava os funcionários que haviam incriminado Dreyfus.
Depois que seu julgamento foi revisado, Dreyfus foi exonerado e reincorporado como comandante do exército francês.
Para alguns judeus na França, o caso Dreyfus representou um triunfo dos valores republicanos sobre a discriminação, mas outros viram o escândalo como uma prova do antissemitismo endêmico.
Segunda Guerra Mundial
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o governo francês de Vichy colaborou com a Alemanha nazista, especialmente na deportação de judeus para campos de extermínio.
Sob o comando do marechal Philippe Pétain, o regime de Vichy executou 15.000 pessoas e ajudou a deportar quase 80.000 judeus.
Depois da guerra, Pétain foi declarado culpado de traição e condenado à morte, mas general Charles de Gaulle comutou sua pena pela de prisão perpétua.
Fonte: Yahoo!