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Um estudo publicado na revista Science em junho revela que os oceanos estão mudando de cor, ficando mais verdes nas regiões polares e mais azuis nas áreas tropicais. A análise, baseada em dados de satélite coletados entre 2003 e 2022, aponta para uma alteração nas concentrações de clorofila, pigmento produzido por fitoplânctons, organismos microscópicos que realizam fotossíntese e formam a base da cadeia alimentar marinha.
“No oceano, o que observamos com base nas medições por satélite é que os trópicos e subtrópicos estão, em geral, perdendo clorofila, enquanto as regiões polares, em altas latitudes, estão ficando mais verdes”, explicou Haipeng Zhao, pesquisador da Universidade Duke e autor principal do estudo.
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Os dados foram obtidos por um instrumento da NASA capaz de medir a luz refletida pela superfície do planeta a cada dois dias. Os cientistas usaram a concentração de clorofila como um indicador da biomassa de fitoplânctons, focando nas águas oceânicas abertas e excluindo zonas costeiras, onde sedimentos em suspensão poderiam distorcer as medições.
Para interpretar as mudanças, os pesquisadores recorreram a ferramentas da economia, como a curva de Lorenz e o índice de Gini, utilizados para representar a distribuição de renda ou riqueza em uma população. “Pensamos: vamos aplicar esses conceitos para ver se a proporção do oceano que contém mais clorofila mudou ao longo do tempo”, contou Nicolas Cassar, coautor do estudo e professor da Universidade Duke. Os resultados mostram que as regiões já verdes ficaram mais verdes, e as azuis, ainda mais azuis. “É como os ricos ficando mais ricos e os pobres ficando mais pobres”, comparou Zhao.
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Embora o aquecimento dos oceanos tenha mostrado correlação com a mudança nas concentrações de clorofila, os pesquisadores alertam que o estudo ainda não pode confirmar o papel direto das mudanças climáticas. “O período analisado é curto demais para descartar a influência de fenômenos climáticos recorrentes, como o El Niño”, afirmou Susan Lozier, coautora e professora no Georgia Institute of Technology. “Precisamos de dados por mais décadas para compreender as influências além das oscilações naturais.”
Os impactos potenciais são significativos. Se a tendência de deslocamento dos fitoplânctons para os polos continuar, poderá haver efeitos no ciclo global do carbono. Isso porque esses organismos absorvem dióxido de carbono durante a fotossíntese e, ao morrerem, levam o carbono ao fundo do mar. “Se o carbono afunda em regiões onde a água demora a retornar à superfície, ele fica armazenado por mais tempo. Em áreas rasas, ele pode voltar rapidamente à atmosfera”, explicou Cassar.
Além disso, a redução dos fitoplânctons nas zonas equatoriais pode comprometer a pesca em países de baixa e média renda, como os das Ilhas do Pacífico, que dependem desses recursos para alimentação e economia. “Os fitoplânctons estão na base da cadeia alimentar marinha. Se sua quantidade diminui, os níveis superiores também podem ser afetados, o que pode significar uma redistribuição potencial das pescarias”, alertou Cassar.
O estudo reforça a necessidade de monitoramento contínuo das mudanças nos oceanos, com foco em seus impactos ecológicos, climáticos e socioeconômicos.
Fonte: Um Só Planeta