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Por décadas, a Ilha de Páscoa (Rapa Nui), localizada no meio do Oceano Pacífico, foi vista como um posto avançado remoto e isolado da cultura polinésia, famosa pelos enigmáticos moais — as gigantescas estátuas de pedra esculpidas por seus habitantes. No entanto, uma nova pesquisa da Universidade de Uppsala, na Suécia, está reescrevendo essa narrativa ao apontar que Rapa Nui foi muito mais do que um receptor passivo de tradições culturais. Ela foi um polo ativo de inovação e intercâmbio na Polinésia Oriental.
O estudo, publicado na revista Antiquity e liderado pelos professores Paul Wallin e Helene Martinsson-Wallin, analisou dados arqueológicos e datas de radiocarbono de sítios rituais, assentamentos e estruturas monumentais em todo o território polinésio. As descobertas desafiam a ideia de que o desenvolvimento cultural seguiu uma trajetória linear de oeste para leste — das ilhas centrais de Tonga e Samoa para áreas mais distantes como Havaí, Nova Zelândia e Rapa Nui.
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“Não estamos contestando a migração inicial das áreas centrais da Polinésia Ocidental para o leste, mas os dados mostram que o fluxo cultural não foi estático nem unilateral”, explicam os autores. “Rapa Nui não foi colonizada apenas uma vez para então se desenvolver isoladamente; houve múltiplas interações e trocas culturais através de redes marítimas.”
Os pesquisadores identificaram três fases distintas no desenvolvimento dos espaços rituais:
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- Expansão Inicial (c. 1000–1300 d.C.): colonizadores estabeleceram locais simples marcados por pedras verticais, usados para rituais fúnebres e banquetes comunitários.
- Formalização e Difusão Reversa (c. 1300–1600 d.C.): complexos rituais mais elaborados, como as plataformas ahu de Rapa Nui, surgiram primeiro ali e depois se espalharam de volta para o oeste, invertendo o fluxo cultural antes presumido.
- Monumentalismo Hierárquico (c. 1350–1800 d.C.): sociedades como as de Rapa Nui, Taiti e Havaí desenvolveram enormes estruturas de pedra para simbolizar poder e autoridade, como os famosos moais.
As plataformas ahu, onde os moais foram erguidos, também possuem equivalentes em outras ilhas polinésias, conhecidas pelo termo marae. Isso reforça a ideia de uma base ritual compartilhada que se desenvolveu de forma dinâmica e multidirecional.
Além de povoar ilhas distantes, os polinésios eram navegadores habilidosos, o que possibilitou não só a migração de pessoas, mas também a transmissão de ideias, tradições e estilos arquitetônicos ao longo de milhares de quilômetros de oceano. Assim, a Ilha de Páscoa, hoje Patrimônio Mundial da UNESCO, deixa de ser vista como um território isolado e passa a ser reconhecida como um centro de inovação cultural que influenciou toda a Polinésia Oriental.

Fonte: Um Só Planeta