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A mais nova novela das 9 da Globo tem no centro de sua narrativa as histórias de três personagens que possuem em comum o fato de serem mulheres e mães. Apesar dessa ligação entre as matriarcas, elas vivem em classes sociais diferentes: baixa, média e alta.
A obra se destaca por levantar pautas relevantes aos movimentos feminista, negro, ambientalista e também por abordar questões de classe, discutindo temas como o acesso das mulheres negras à universidade, por meio da personagem Camilla dos Santos, interpretada por Jéssica Ellen.
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Mulher, negra e professora
No capítulo de estreia da novela um longo trecho foi dedicado a uma cena em que Camila, uma jovem negra, homenageia sua mãe, Lurdes, uma doméstica e babá nordestina interpretada por Regina Casé. Ela está recebendo seu diploma de graduação na faculdade. Em seu discurso, Camila também chama atenção por defender a classe dos professores, cujo trabalho é muitas vezes desvalorizado pelo poder público e pelo próprio imaginário social brasileiro.
“A gente sabe que ser professor no Brasil é um ato de resistência. Ensinar é muito importante e muito difícil também”, disse a personagem, que acabava de receber o diploma de graduação. “Eu fiz história para ser professora porque eu acredito que só a educação de qualidade pode realmente mudar o nosso país e eu quero dedicar o dia de hoje à pessoa que mais me apoiou em todos os dias da minha vida: a minha mãe, Dona Lurdes, que ‘tá’ bem ali.”
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A personagem se emociona, assim como sua família, que, segundo ela “nunca teve condição”, mas por meio do esforço de sua mãe, uma “guerreira e heroína”, alcançou a oportunidade de estudar. Lurdes deixou o Rio Grande do Norte com 26 anos e 4 filhos em direção ao Rio de Janeiro para encontrar o paradeiro de seu filho de 2 anos que havia sido vítima do tráfico infantil, arquitetado por seu próprio marido.
Outra mulher negra que tem destaque na trama é Vitória, uma advogada com salário de cerca de R$ 200 mil e vivida na pele de Taís Araújo. Ela sonha em ser mãe e é “adotada” — como ela gosta de dizer — por um garoto de sete anos que vivia em um abrigo.
Na vida real
A vida da atriz Jéssica Ellen — que traz a personagem Camilla dos Santos — fora das telas também não foi feita só de flores. Antes de assumir esse importante papel na telenovela brasileira, batalhou muito como estudante.
Mulher, negra e moradora da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, ela foi faxineira em um restaurante Outback no Shopping do Leblon e realizou cursos de artes em todas as oportunidades que pôde por meio do trabalho de organizações não governamentais (ONGs). Ela conta que foi uma das únicas pessoas de sua família a fazer faculdade, pois sua mãe deixou a escola depois da 4ª série para ajudar sua avó, que é analfabeta.
Por trás das câmeras
E além de todas essas mulheres, a roteirista da trama também é do sexo feminino. Manuela Dias foi atriz e a primeira mulher a ser aprovada como autora principiante de uma novela do horário nobre. Manuela já havia escrito duas minisséries, entre elas Justiça (2016), que foi indicada ao Emmy Internacional. Ela já foi aluna do renomado escritor Gabriel García Márquez, quando estudou Cinema em Cuba.
Se tem uma coisa na qual a novela não peca, é na presença do drama bem colocado. Um dos diretores artísticos também trabalhou na composição do resultado estético da novela Avenida Brasil, de 2012, que bateu recorde de comercialização internacional, sendo vendido para 125 países.
A grande audiência que essa obra atingiu teve muito a ver com a mudança brusca de foco em sua narrativa. Assim como Amor de mãe, ela também focou em personagens de classe média e baixa e em situações que se assemelham ao dia a dia da maioria das pessoas. Ou seja, em ambas as obras há uma escolha de mergulhar na profundeza do sentimento humano, que, por vezes, passa por extremos de angústia, amor, medo, raiva ou euforia.
Antes de ser aprovado, o título de Amor de Mãe era “Troia”. A referência à obra clássica é outro sinal de que se trata de uma longa jornada que será dividida entre os personagens e os espectadores da novela.