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A Islândia é um país insular localizado no Atlântico Norte, conhecido por suas paisagens contrastantes, que unem vulcões ativos, geleiras imponentes, gêiseres e cachoeiras. Popularmente chamada de “terra do fogo e do gelo”, oferece um dos ecossistemas mais singulares do planeta. Mas a nação tem uma outra característica curiosa e pouco conhecida: lá – para alegria de muitos – não existem mosquitos.
E como isso é possível? A ausência não é por falta de oportunidade. Os insetos já chegaram ao país a bordo de aviões, como mostrou Gísli Már Gíslason, professor emérito de limnologia (o estudo de lagos e água doce) na Universidade da Islândia, ao relatar que capturou um exemplar em um voo vindo da Groenlândia. O problema para os mosquitos está em se estabelecer na região. Embora a Islândia tenha lagos e áreas úmidas que poderiam servir de criadouros, seu clima rigoroso não facilita para esta forma de vida.
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Importante destacar que o ciclo de vida de um mosquito tem quatro estágios: ovo, larva, pupa e adulto. Um adulto deposita seus ovos na água; esses ovos, então, eclodem e dão origem a larvas, que se desenvolvem em pupas, e o mosquito adulto emerge dessa pupa.
Robert Jones, biólogo de insetos e professor assistente da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, na Inglaterra, lembrou ao Live Science que as larvas de mosquito precisam de água líquida não congelada para se desenvolver. Em regiões extremamente frias, como o Ártico canadense, algumas espécies sobrevivem entrando em dormência na fase de ovo, onde podem suportar meses de água congelada.
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“Em áreas mais quentes, como partes da Europa Central, os mosquitos podem sobreviver ao inverno como ovos ou larvas em corpos d’água relativamente protegidos, que não congelam, ou como adultos escondidos em tocas e outros locais protegidos”, explicou.
O clima da Islândia, no entanto, é diferente. Tem invernos longos e seus ciclos frequentes de congelamento e degelo no outono e na primavera fazem com que os corpos d’água congelem, derretam e recongelem repetidamente.
“Esses ciclos interrompem o desenvolvimento e matam os ovos e larvas do mosquito antes que eles possam emergir como adultos, dificultando muito o estabelecimento das populações”, disse Jones.
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Embora as piscinas geotérmicas do país permaneçam descongeladas no inverno, suas temperaturas podem ser altas demais para larvas de qualquer espécie de mosquito adaptada a altas latitudes. “Além disso, é improvável que a composição química das águas geotérmicas seja adequada para o desenvolvimento de mosquitos”, acrescentou o biólogo.
Mas toda essa condição pode ser ameaçada pelas mudanças climáticas. Jones observou ao Live Science que primaveras e outonos mais quentes podem criar períodos mais longos de água parada descongelada, permitindo que os mosquitos estabeleçam populações permanentes.
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Immo Hansen, professor de biologia na Universidade Estadual do Novo México, tem a mesma opinião: “Estamos observando atualmente mosquitos tropicais expandindo seu alcance para o norte dos Estados Unidos”, comentou.
A história mostra que esse risco não é apenas teórico. O Havaí, por exemplo, permaneceu livre de mosquitos até 1826, quando navios europeus e estadunidenses os introduziram inadvertidamente. Graças ao clima favorável do arquipélago, eles prosperaram e se espalharam rapidamente pelas ilhas.
Desde então, o aquecimento do planeta favoreceu a ida dos insetos para as florestas de altitudes mais elevadas do Havaí, que antes eram frias demais para sua sobrevivência.
No caso da Islândia, apesar do potencial de chegada de mosquitos, Jones salientou que o risco de espécies portadoras de doenças, como as do gênero Aedes – conhecidas por transmitir dengue e chikungunya -, se estabelecerem é baixo, pois elas precisam de climas tropicais e subtropicais para sobreviver.
Ainda assim, fica o alerta de que até mesmo um dos últimos refúgios do planeta sem mosquitos pode não estar imune às transformações do clima.

Fonte: Um Só Planeta