05 de maio, 2025

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No Brasil, 12,7 milhões de famílias ainda dependem da lenha ou do carvão para preparar alimentos

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Toda semana, Luciane Pereira da Silva, de 37 anos, sai de casa, na zona rural de Humberto de Campos (MA), e caminha três horas até o centro da cidade. Lá, coleta lenha e carvão para cozinhar em casa. Depois, refaz o caminho de volta, em uma rotina necessária devido ao acesso precário à eletricidade e à falta de dinheiro para botijões de gás.Apesar da expansão da distribuição de energia no país nas últimas décadas, ainda há cerca de 12,7 milhões de domicílios, ou 17,1% do total de lares, que usam lenha para preparar comida. Além de várias dificuldades, o combustível gera fumaça nociva aos pulmões.

— A fumaça incomoda muito, principalmente a vista. A gente fica com os olhos vermelhos, escorrendo lágrimas — resume Luciane, cujo filho é asmático. — Quando tem fumaça, ele fica cansado, com falta de ar.

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Neste mês, a plataforma Transição Justa e a Agenda Pública, organização que atua em favor do aprimoramento dos serviços públicos no país, divulgaram a pesquisa “Pobreza energética no Brasil”, com dados e depoimentos de pessoas que dependem do carvão e da lenha no cotidiano. A análise concluiu que crianças, mais vulneráveis, e mulheres, responsáveis pela maioria dos lares, são quem mais sofrem com essa situação.

Segundo as estatísticas do IBGE, 17,1% dos domicílios do Brasil ainda utilizavam lenha ou carvão em 2022. Os números indicam padrões e variações regionais: o Norte é a única região onde carvão e lenha são mais usados no preparo da comida do que energia elétrica, atrás apenas do botijão de gás. No Nordeste, carvão e energia elétrica têm importância semelhante, enquanto no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste, a lenha é muito menos usada que as outras duas fontes de energia.

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Nos últimos anos, acompanhando o petróleo, o preço do gás disparou no mundo, o que dificulta mais a vida de quem depende de fontes diferentes da energia elétrica para usar o fogão. Segundo a pesquisa, em 2019, a metade mais pobre da população era responsável por 80% do consumo de lenha para cocção, principalmente na área rural.

Na casa de Luciane, o carvão é a solução tanto para o fogão improvisado, montado com três tijolos no chão, quanto para o pequeno fogão de barro. Em seu périplo até a cidade para coletar lenha e carvão, ela precisa da ajuda do marido ou do filho de 14 anos, além do cavalo que leva o material no lombo. A família, que vive da renda dos roçados de milho, melancia, abóbora e mandioca, além do Bolsa Família, não tem dinheiro para custear os botijões de gás.

— Nem todo dia a gente está com saúde para pegar lenha lá no interior.

A queima de lenha emite dióxido de carbono em níveis comparáveis aos do setor de aviação. Quando a fumaça tóxica entra no pulmão e na corrente sanguínea, pode causar pneumonia, doenças cardiovasculares, câncer no pulmão e natimortalidade.

Patrícia não tem dinheiro para cozinhar com gás (Foto: Divulgação)

Sugestão de cozinhas comunitárias

A faxineira Patrícia Soares, de 53 anos, moradora de Pedra Azul, em Minas Gerais, tem fogão a gás, mas evita o uso para economizar os R$ 130 do botijão.

Todo sábado, ela e os três filhos, com idades entre 9 e 15 anos, acordam às 5h e caminham 40 minutos até uma mata, com cordas, panos, foice e facão. para buscar os troncos. Ela já se acostumou a cozinhar com a lenha, mas mantém as crianças longe dessa função.

— Uma vez, estava grávida, queimei a perna todinha. Fiquei um mês internada. Eu sei a dor que passei, então mantenho os meninos longe do fogão — afirma Patrícia, que precisa limpar a casa constantemente. — Onde a fumaça passa, deixa manchas.

Coordenador da pesquisa e diretor da Agenda Pública, Sergio Andrade explica que o trabalho também reuniu sugestões de melhoria. A primeira urgência é a produção de mais dados. As medidas imediatas mais eficazes seriam a instalação de cozinhas comunitárias em zonas vulneráveis e a ampliação de acesso a gás de cozinha. Recentemente, o governo federal enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei Gás para Todos, que prevê descontos para botijões.

— O preço muitas vezes é impeditivo e nem sempre é a prioridade das famílias mais vulneráveis — explica Andrade. — Há uma narrativa comum entre as entrevistadas, que é a descrição da fumaça como algo inevitável. É percebida como algo que faz mal, mas que é inevitável, devido à vulnerabilidade.

Fonte: Um Só Planeta

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