21 de junho, 2025

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Na Alemanha, cientistas cobram de presidente Lula liderança firme contra combustíveis fósseis na COP30

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Nesta quarta-feira (18), durante a Conferência de Bonn, na Alemanha, o físico climático Bill Hare entregou uma carta assinada por mais de 250 cientistas de 27 países ao embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30. A carta é destinada ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, e pede que ele lidere uma transição justa e completa para longe dos combustíveis fósseis na próxima COP, que acontecerá em novembro, em Belém, no Pará. “Se o Brasil não conseguir avançar nessa agenda, a história não será generosa com sua presidência da COP30″, disse Hare.

A mensagem do documento, direta e respaldada por evidências científicas, reforça um ponto que a ciência do clima já repete há décadas: a única forma comprovada de frear as mudanças climáticas é abandonar os combustíveis fósseis com rapidez, justiça e eficácia.

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“A ciência é clara: a queima de combustíveis fósseis está impulsionando as mudanças climáticas e seus impactos desastrosos nas vidas e meios de subsistência de pessoas em todo o mundo. Esses impactos climáticos apagarão décadas de progresso no desenvolvimento e tornarão mais difícil – senão impossível – reduzir desigualdades, aliviar a pobreza e acabar com a fome. Acreditamos que compartilhamos esses objetivos com você”, diz o texto da carta.

O documento segue destacando que, uma década depois da assinatura do Acordo de Paris, ainda estamos muito aquém das metas climáticas estabelecidas. “Os últimos 10 anos também foram os 10 anos mais quentes da história. Pela primeira vez, o mundo ultrapassou o limite de 1,5°C de aquecimento global em um único ano, segundo os registros. Estamos enfrentando impactos climáticos cada vez mais graves em todos os continentes – de ondas de calor e megaincêndios a inundações devastadoras, quebras de safra e deslocamentos provocados pelo clima.”

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Os autores da carta salientam que, além da terra, os oceanos estão sendo afetados, com a elevação do nível do mar, o aumento das temperaturas e a acidificação colocando uma pressão insustentável sobre os ecossistemas marinhos. E defendem cortes profundos, imediatos e sustentados no uso de combustíveis fósseis, com sistemas energéticos alimentados predominantemente por fontes renováveis.

“Sem uma transição rápida, justa e planejada dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos – conforme acordado durante a COP28 – será impossível evitar impactos socioeconômicos graves que afetarão a humanidade por séculos”, escreveram. “Reconhecemos que este é um desafio significativo que deve ser enfrentado com urgência, coragem e pragmatismo.”

Por fim, pedem que o presidente Lula torne a transição dos combustíveis fósseis uma prioridade máxima para a COP30, “liderando uma conversa e negociações globais para consolidar os próximos passos dessa transição, e oferecendo a clareza e a esperança que a humanidade precisa para construir um futuro mais seguro e próspero”.

“À medida que nos aproximamos rapidamente do 10º aniversário do Acordo de Paris, a história lembrará este momento em que os líderes decidirão se farão o que é cientificamente e moralmente correto ou se manterão o status quo. O momento para uma liderança corajosa, respaldada pela ciência, é agora”, finalizam os cientistas que assinam a carta.

Dentre os signatários estão Paulo Artaxo, coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável e professor de Física Atmosférica; Mercedes Bustamante, professora e pesquisadora na Universidade de Brasília e membro da Academia Brasileira de Ciências; Luciana Gatti, coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); Carlos Nobre, cientista sênior no Instituto de Estudos Avançados da USP e primeiro brasileiro a fazer parte do grupo Planetary Guardians; Friederike Otto, professora sênior do Imperial College London, da Inglaterra; Stefan Rahmstorf, cientista climático do Instituto de Pesquisa Climática de Potsdam, da Alemanha; e Marina Romanello, diretora executiva do Lancet Countdown, um dos principais relatórios globais sobre saúde e mudanças climáticas.

Uma petição também foi aberta para que todos os cidadãos possam assinar a carta. Está disponível neste link.

O físico climático Bill Hare (à direita) entregando uma carta assinada por mais de 250 cientistas de 27 países ao embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30 (à esquerda) (Foto: Divulgação/Climainfo)

Brasil leiloa blocos de petróleo na Foz do Amazonas

Enquanto se apresenta como líder climático internacional nas negociações da pré-COP30 em Bonn, na Alemanha, o governo brasileiro autorizou, nesta terça-feira (17), um mega leilão de petróleo e gás que concedeu 19 blocos de exploração na Foz do Rio Amazonas — uma altamente sensível ambientalmente. O certame, conduzido pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), arrecadou R$ 989 milhões com a concessão de um total de 34 blocos, sendo a maioria na Bacia da Foz do Amazonas. Os arremates foram feitos por gigantes do setor como Petrobras, ExxonMobil, Chevron e CNPC Brasil.

As concessões incluem 16.312 km² de áreas marinhas localizadas na costa do Amapá e ocorreram sem a realização da Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS), instrumento recomendado por órgãos técnicos como o IBAMA e o Ministério do Meio Ambiente para orientar decisões em áreas de alta sensibilidade. Tampouco houve consulta prévia, livre e informada às comunidades indígenas e tradicionais, em descumprimento direto à Convenção 169 da OIT, da qual o Brasil é signatário.

A medida também contradiz os compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris e no Balanço Global (Global Stocktake), que prevê uma transição energética além dos combustíveis fósseis. “Este leilão, no ano em que o Brasil sedia a COP30, marca um momento crítico em que o governo escancara as portas para a indústria fóssil em um dos biomas mais sensíveis do planeta”, avaliou Ilan Zugman, diretor da 350.org para a América Latina.

Para os críticos da decisão, o Brasil ignora alternativas viáveis como bioeconomia, energias renováveis e infraestrutura verde — setores com maior potencial de geração de renda local, inclusão social e sustentabilidade. “A insistência em abrir novas fronteiras exploratórias nos prende a um modelo fóssil ultrapassado”, conclui nota do WWF.

Ao entregar hoje ao presidente da COP a carta assinada por 250 cientistas, Bill Hare comentou que o leilão “abriu a bacia amazônica para exploração de petróleo e gás” e que “esse desenvolvimento desastroso ocorre bem no meio de negociações climáticas cruciais da ONU em Bonn, das quais o Brasil participa como futuro presidente da COP”.

A visão geral é de que, às vésperas da COP30, que será realizada no coração da Amazônia, em Belém, em novembro, o leilão compromete a credibilidade do Brasil como liderança ambiental global. “A sociedade exige coerência. Não há transição justa com petróleo na Amazônia.”

Fonte: Um Só Planeta

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