Anúncios
Após nove anos fechado para visitação, o Museu do Ipiranga foi reinaugurado para convidados na noite desta terça-feira (6), em cerimônia oficial.
A reabertura faz parte das comemorações do Bicentenário de Independência do Brasil, que terá uma ampla agenda de eventos durante toda a semana em São Paulo.
Anúncios
Entre os presentes estavam o secretário de Governo, Marcos Penido, o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), o secretário da Cultura do estado, Sérgio Sá Leitão, o ministro do Turismo, Carlos Alberto Gomes de Brito, o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) e o príncipe Dom João de Orleans e Bragança, representando a família real.
Sá Leitão fez críticas ao governo federal que, segundo ele, “foi negligente em relação ao bicentenário da Independência”. “Nós aqui estamos entregando o único legado do bicentenário, que é o restauro e a ampliação do Museu do Ipiranga, e estamos entregando a única programação cultural consistente, aberta ao público, relativa a esse assunto”, disse.
Anúncios
“É uma pena porque foi uma oportunidade perdida. A independência não é de São Paulo, é a independência do Brasil”, completou.
Doria, em sua fala, afirmou que a reinauguração do museu “é a vacina contra o obscurantismo que assola o Brasil”. “A reabertura do Museu do Ipiranga simboliza a vacina contra o obscurantismo, o ódio e o separatismo que assolam o nosso país. O Brasil pede paz, harmonia, educação. Pede respeito à cultura e pede que o país se una em respeito a uma única causa.”
Momentos antes, ao discursar, Sá Leitão havia citado o esforço do ex-governador ao captar recursos na iniciativa privada para reformar o museu e mencionou o legado de Doria à frente do governo de São Paulo no enfrentamento da pandemia.
Em sua fala, o ministro Carlos Brito recebeu algumas vaias ao fazer comentário sobre vacina contra a Covid-19 e mandar uma indireta ao secretário Sá Leitão e a Doria. “Sérgio [Sá Leitão], você falou aqui sobre vacina. Nós não estamos aqui para falar de política, mas já que você citou, digo que nenhuma vacina chegou aos municípios do Brasil sem o investimento do governo federal”, afirmou.
“É muito bom também falar nesse momento festivo, de comemoração: enquanto o mundo fala em inflação, o Brasil fala em deflação. O maior programa de transferência de renda que o Brasil teve está sendo deste governo, que é o Auxílio Brasil”, disse o ministro novamente sendo interrompido por vaias.
A plateia era composta majoritariamente por convidados do governo de São Paulo e das 34 empresas patrocinadoras da reforma.
A reabertura contou com discursos das autoridades e apresentação da Orquestra Sinfônica da USP. Os convidados puderam fazer uma visita guiada pelo novo museu, que teve a área total ampliada de 6.400m² para cerca de 13.400m².
A obra teve o custo total de R$ 235 milhões, custeados pela Lei de Incentivo à Cultura, por investimentos privados sem incentivo fiscal e também aportes públicos feitos pelos governos do estado e federal.
Na quarta-feira, feriado de 7 de setembro – Dia da Independência – o museu fará uma abertura simbólica para funcionários e trabalhadores da obra e seus familiares, além de um grupo de 200 estudantes de escolas públicas selecionados pelas secretarias estadual e municipal de educação.
Com a reabertura, o Museu do Ipiranga estima receber cerca de 900 mil a 1 milhão de visitantes por ano.
Novidades do museu
Ao entrar no museu, é possível observar a interatividade em todas as salas. Foram colocadas telas com explicações históricas e também objetos que o público poderá tocar.
Em todos os objetos há braille e há intérpretes de libras nos vídeos exibidos nas telas. Segundo Solange Ferreira, professora e curadora da USP, as primeiras obras táteis foram implantadas no museu em 2007. Mas agora, a imersão é o grande diferencial.
“Tato é uma grande ajuda para a gente ver. Essa preocupação está desde a modernização. Agora, temos muita objetos para tocar, tecnologia interativa e vídeo imersivo do que é cultura material.”
Uma preocupação do museu nos últimos 30 anos, destaca Solange, foi de expor não só objetos da elite, mas dos trabalhadores – mostrado já nas duas primeiras salas, que explicam a história do museu.
No salão nobre, onde está a grande pintura “Independência ou Morte”, de Pedro Américo, o grande diferencial é uma tela interativa que faz a explicação de como a obra foi feita e inspirada em outra da Europa, explicando que não foi uma cópia.
O vídeo tem um tempo regressivo para que o visitante olhe a obra e, depois, veja as inspirações feitas.
O curador no museu Paulo Garcez Marins disse que a partir do momento que a tecnologia amplia o aprendizado, é ótimo para estudantes e visitantes. “Permite que tenhamos a explicação logo.”
Exposições
São mais de 3 mil objetos do acervo que passaram por restauração. Entre eles, estão 122 pinturas e duas maquetes de grande porte, uma do museu e outra da cidade de São Paulo.
No total, o acervo do Museu do Ipiranga tem 450 mil itens e documentos.
Obras
A obra foi executada em duas grandes frentes: restauro do Edifício-Monumento e construção de um edifício ampliação.
No restauro do Edifício-Monumento, foram realizados reparos em todos os detalhes da refinada arquitetura, incluindo os 7.600m² das fachadas, que pela primeira vez passaram por limpeza, decapagem, recuperação dos ornamentos, aplicação de argamassa, tratamento de trincas e, por fim, a pintura.
Para pintar, foi utilizada uma tinta mineral (desenvolvida especialmente para o Museu) que permite a troca de umidade entre prédio de cal e o ambiente.
Um estudo estratigráfico, ramo da geologia que estuda as camadas de rochas, e o processo de decapagem também tornaram possível recuperar a cor original da construção do século 19. Tetos e paredes do interior receberam tratamento similar.
Na parte da ampliação, foi realizada uma escavação em frente ao prédio, na área da esplanada, que retirou 35 mil metros cúbicos de terra, o que equivale à capacidade de 2 mil caminhões. Com o novo espaço, de 6.800m², o Museu dobrou de tamanho.
A expansão abriga uma nova entrada integrada ao Jardim Francês, além de bilheteria, café, loja, auditório para 200 pessoas, espaços e salas para atendimento educativo e uma grande sala de exposições temporárias.
Pela primeira vez na história do museu, a instituição estará apta a receber acervos de outras instituições, inclusive internacionais, graças à instalação de ar-condicionado.
Fonte: G1