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As ocorrências recentes de mortes de crianças picadas por escorpiões na região têm deixado os municípios em alerta. Em dois dias, foram registrados dois casos, em Bariri e Araçatuba, que vitimaram uma menina e um menino, ambos de nove anos. Além da primeira cidade, ações de conscientização e de combate ao aracnídeo ocorrem em Agudos, Botucatu e Barra Bonita. Nesta última, um menino de seis anos morreu após ser picado por escorpião em abril. Também há registros de óbitos em Ourinhos e Cabrália Paulista. Para especialista, aparições frequentes do animal precisam ser analisadas (leia mais abaixo).
A vítima mais recente do aracnídeo na região foi Nicoly Stephanie da Silva de Nicolai. Moradora da zona rural de Bariri (56 quilômetros de Bauru), ela foi picada no pé na manhã desta sexta-feira (23) quando brincava sobre papelões no quintal de casa. O interventor da Santa Casa local, Fábio Zenni, conta que a menina deu entrada no hospital às 10h.
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“De imediato, a plantonista já iniciou o protocolo de atendimento, com as pré-medicações. E, vendo que o caso era grave, às 10h30, foi iniciada a aplicação do soro (antiescorpiônico), com seis ampolas”, revela. O interventor explica que, apesar de uma melhora no quadro de saúde da criança, a equipe médica decidiu encaminhá-la para a Santa Casa de Jaú.
Nicoly deu entrada na unidade por volta das 12h30 e foi internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica, onde sofreu uma sequência de paradas cardiorrespiratórias e morreu às 2h15 do sábado (24). “Foi feito todo o procedimento necessário, e de forma rápida”, afirma Zenni. “Infelizmente, a quantidade de veneno injetada pelo animal foi fatal”. Neste domingo (25), outras duas crianças foram picadas por escorpião em Bariri. Nos dois casos, elas chegaram a ser medicadas, mas não precisaram tomar soro.
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MUTIRÃO
A diretora de Saúde de Bariri, Samara Ferro Jacó de Carvalho, informou que, a exemplo do que ocorreu no fim de setembro, a prefeitura fará mutirão de limpeza na cidade na próxima semana para tentar combater os escorpiões. “Em razão da chuva e do calor, este é um período propício para que eles apareçam”, diz. Os bairros e horários do mutirão serão divulgados nesta semana.
MAIS AÇÕES
Desde a semana passada, a Prefeitura de Barra Bonita (68 quilômetros de Bauru) realiza o programa “Meu Bairro Limpo” para eliminar criadouros do mosquito Aedes aegypti e possíveis esconderijos de escorpiões. Além da dedetização das bocas de lobo, estão sendo realizadas campanhas de conscientização e coleta de materiais como pneus, garrafas, móveis velhos, restos de madeira e sucatas.
Nesta terça e quarta-feira (27 e 28), as ações serão realizadas nos bairros Habitacional, Colina da Barra, Jardim das Orquídeas, Recanto da Barra e Vila Narcisa (ao lado da Habitacional).
A Prefeitura de Agudos (13 quilômetros de Bauru) também está desenvolvendo ações de prevenção e combate aos escorpiões. Funcionários da Secretaria de Saúde monitoram diariamente locais de maior incidência do aracnídeo e orientam os moradores sobre os cuidados para evitar que eles apareçam.
As equipes também fazem dedetização periódica nas bocas de lobo para eliminar insetos que possam atrair escorpiões e notificam proprietários de imóveis com mato alto para que eles sejam limpos. Aparições do aracnídeo devem ser informadas ao Centro de Controle de Vetores pelo (14) 3262-2383.
A Prefeitura de Botucatu anunciou ontem a realização de mega tarefa visando à notificação de proprietários de terrenos sujos e com vegetação alta na cidade para que eles efetuem a limpeza com o objetivo de evitar a proliferação e reprodução de animais peçonhentos e insetos.
AS MORTES
No dia 14 de abril, Bryan Gabriel Alves, de seis anos, morreu após ser picado no pé por um escorpião no quintal da casa dele, em Barra Bonita. Ele recebeu os primeiros atendimentos no Hospital e Maternidade São José. Após cerca de 40 minutos, foi transferido de ambulância até a Santa Casa de Jaú.
A transferência foi necessária porque o hospital de Barra Bonita não possuía o soro antiescorpiônico. Em Jaú, Bryan recebeu o soro, mas o quadro de saúde dele já havia se agravado e ele foi levado à UTI, onde foi entubado e morreu cerca de uma hora depois. A família registrou BO para apuração do caso.
No dia 10 de julho, Yasmin Lemos Campos, de quatro anos, foi picada por um escorpião de manhã, no quintal de sua casa, em Cabrália Paulista (45 quilômetros de Bauru). Com quadro de vômito, foi transferida para o Hospital Santa Luzia de Duartina.
Às 13h20, foi encaminhada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bela Vista, em Bauru. Ela recebeu o soro antiescorpiônico por volta das 14h, mas sofreu parada cardiorrespiratória e morreu às 17h25. Eventuais falhas no atendimento também são apuradas pela polícia.
No dia 22 de outubro, Giovana Guedes Martins, de quatro anos, foi picada por um escorpião na casa dela, na Vila Sândalo, em Ourinhos (130 quilômetros de Bauru). O aracnídeo estava escondido na manga de uma blusa. Ela foi levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade por volta das 8h e medicada.
Por volta das 8h10, o quadro de saúde da menina piorou e ela foi encaminhada à Santa Casa, onde recebeu dose de soro antiescorpiônico e apresentou melhora. Porém, voltou a passar mal e foi transferida para a UTI Infantil, onde sofreu três paradas cardiorrespiratórias e morreu por volta das 21h15.
LIMINAR
Em setembro, o Ministério Público Federal (MPF) em Jaú ajuizou ação civil com pedido de liminar para obrigar União e Estado de São Paulo a disponibilizarem pelo menos seis doses de soro antiescorpiônico para cada um dos 11 municípios da região visando garantir atendimento emergencial em episódios graves de picadas de escorpião.
No dia 18 de outubro, a Justiça Federal concedeu a liminar e deu prazo de 20 dias para que as doses do soro fossem direcionadas para unidades de saúde de Bariri, Barra Bonita, Bocaina, Boraceia, Brotas, Dois Córregos, Igaraçu do Tietê, Itaju, Itapuí, Mineiros do Tietê e Torrinha, sob pena de multa. A decisão foi cumprida e as cidades já receberam as ampolas.
Roberto Marono/DivulgaçãoBiólogo conta com lanterna ultravioleta para localizar escorpiões
‘Fenômeno envolvendo escorpiões deve ser estudado’
A frequência com que escorpiões têm aparecido na área urbana e a quantidade de casos de crianças picadas, muitas delas sucumbindo ao veneno do aracnídeo, merecem ser alvo de pesquisa científica. A avaliação é do biólogo da Unesp do campus de Bauru, especialista em animais peçonhentos, Roberto Marono. “É um fenômeno novo e que deve ser estudado. Nos últimos dois anos tem havido um aumento em Bauru e região”, reitera.
Sem dados sustentados por uma investigação técnica, ele elenca hipóteses para explicar a grande incidência de ocorrências, muitas vezes trágicas, como os que marcaram o último final de semana. Entre elas estão o desmatamento, que tira o animal do ambiente dele; a grande quantidade de alimentos, sendo as baratas o ”prato’ principal; a falta de predadores naturais, como é o caso de aranhas, outros escorpiões e das aves em geral, mas em especial a galinha; além da abundância de abrigos, como material de construção civil, caixas, madeiras etc.
“Só posso falar de hipóteses”, destaca o biólogo, que trabalha em parceria com a prefeitura de Bauru e dá consultoria em locais apontados pela administração municipal. Nestes pontos, o biólogo tem a prerrogativa de usar uma lanterna ultravioleta para enxergar o escorpião à noite. Sob a luz ultravioleta, ele emite fluorescência corporal, ficando fácil localizá-lo.
Ele próprio não descarta iniciar uma pesquisa que possa explicar esse novo fenômeno. Outro aspecto que pode explicar a grande quantidade de escorpiões é o fato do aracnídeo não precisar, necessariamente, de um macho para se reproduzir (partenogenético).
É o caso do escorpião amarelo, comum na região. Segundo o biólogo, seu veneno é bastante potente, assim como de outras espécies. “O escorpião pode entrar na casa pelo ralo e pela parte elétrica. Vai caminhando, caminhando, até entrar. Não é o lixo que vai atrair o escorpião, mas o alimento como a barata. O escorpião encontra tudo na área urbana”, comenta.
O animal vive em média três anos e, a cada ano, tem cerca de 20 filhotes, no mínimo. Ele é noturno e procura abrigo em locais escuros e úmidos, por isso é tão frequente nas lápides de cemitérios.
Fonte: Jcnet