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O juiz federal Sérgio Moro disse nesta sexta-feira (8), em uma palestra para estudantes brasileiros nos Estados Unidos, que a Operação Lava Jato “tem sofrido ataques severos” e que uma “reação do sistema político” pode impedir que o Brasil consiga “ganhos institucionais duradouros”.
Moro fez as afirmações em referência à Operação Mãos Limpas, que combateu a máfia na Itália nos anos 90 e atingiu os dois principais partidos do país. O juiz lembrou que a Mãos Limpas começou em 1992 com a prisão de um dirigente em Milão e logo cresceu, com a prisão de 800 pessoas nos dois primeiros anos.
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“Apesar de toda a intensidade da Mãos Limpas, ela não refletiu em ganhos institucionais duradouros”, disse Moro, em referência a “leis que afetaram o trabalho da Justiça”. “Houve reação política que minimizou os efeitos daquilo. É evidente que não há de se culpar os magistrados. O grande problema foi a reação politica. Falando com risco de cometer equívocos, a democracia italiana não foi forte suficiente.”
Para ele, “a grande questão diante do que a Operação Lava Jato revelou”, é se teremos ganhos institucionais duradouros ou não. “Isso depende dos políticos, dos eleitores. O que é necessário é que não haja uma reação política, ou, se houver, que nossa democracia seja forte o suficiente, que os casos não sejam desconstruídos em decorrência da reação do sistema político.”
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A palestra de Moro foi parte da BrazUSC 2016 (Brazilian Undergraduate Student Conference), uma conferência para estudantes brasileiros no exterior. O evento acontece sexta e sábado na Universidade de Chicago, nos EUA, e tem ainda em sua programação nomes como Marina Silva, Joaquim Levy e Drauzio Varella, entre outros.
Sem nomes da Lava Jato
Moro falou por cerca de uma hora e, depois, respondeu a perguntas da plateia. Ele disse que não mencionaria personagens envolvidos na Lava Jato por haver casos ainda em julgamento.
Ele demonstrou preocupação com o que chamou de “corrupção sistêmica” no Brasil. “Isso mina a confiança na regra da lei, na democracia. O cidadão comum passa a desconfiar dos políticos, de seus representantes eleitos de uma forma generalizada e injustamente. Ele passa a entender que política é algo ligado a dinheiro e corrupção e não a cidadania.”
“Sei que o quadro no Brasil é um pouco preocupante do ponto de vista da instabilidade política. Mas o que vi foram pessoas indo às ruas sem violência, as instituições democráticas parecem estar funcionando… quanto ao futuro, é difícil ter uma bola de cristal, mas o importante é ter confiança e trabalhar para que as instituições melhorem e para termos uma democracia mais profunda, não contaminada pela corrupção sistêmica”, disse.
Moro também destacou o papel dos empresários, a quem tem falado em uma série de palestras, e a importância de eles não alimentarem um sistema corrupto. “Temos tendência de localizar nossos males todos no governo, temos essa cultura messiânica. Pensamos que basta escolher a pessoa certa numa eleição que os problemas se resolvem. Tenho feito palestras para empresários para chamar atenção de que corrupção não é só problema do governo. Há quem paga e quem recebe e ambos são culpados.”
Por fim, o juiz demonstrou otimismo. “O que acontece é que no fundo instituições estão reagindo, trazendo casos à tona para que pessoas culpadas sejam punidas e inocentes sejam absolvidos. Não é um desafio insuperável em um sistema democrático”, disse.
Fonte: G1