Anúncios
No espaço onde só viviam peixes, atualmente há outras formas de vida. Pessoas que moram ao redor da Represa de Jurumirim contaram que estavam acostumados a ver uma paisagem completamente diferente há alguns anos na região de Avaré (SP).
Nos últimos meses, o baixo nível da represa revelou uma ilha que estava submersa no interior de São Paulo. E o Rio Paranapanema, que era o lar de muitos peixes, deu lugar a um banco de areia, que já abriga uma extensa vegetação e até formigas.
Anúncios
“É triste que você não vê mais peixes. As capivaras sumiram todas, e as lontras que a gente acordava de manhã e via passeando na frente de casa não existem mais”, lamenta o aposentado Paulo César Gonçalves, que se mudou para uma casa perto da represa pela beleza da paisagem.
“Como qualquer morador que vem para a beira da represa, vim por causa do atrativo da represa, o esporte aquático, ter a beleza de uma água na frente de casa. Eu acredito que isso seja o grande ‘trunfo’ de quem tem casa às margens da represa”, conta.
Anúncios
A advogada Vanessa Cristina da Silva teve a mesma ideia e comprou uma casa perto do Rio Paranapanema em 2014. No entanto, segundo ela, a paisagem tem ficado bastante diferente desde 2018.
“A gente fica muito triste porque, em 2018, a gente ainda tinha água. A represa ainda banhava esse braço, e a gente podia ver vários animais, peixes, pássaros que vivam aqui. Mas desde 2018, a água começo a baixar e os animais sumiram também”, relata.
‘Afunde esta ilha’
Atualmente, o nível do reservatório em Avaré está em 21% da capacidade, conforme a Agência Nacional de Águas (ANA), o que tem preocupado ativistas ambientais.
Por causa disso, o ativista Guto Zorello foi convidado pela Rede Brasil do Pacto Global, uma iniciativa de sustentabilidade corporativa vinculada à ONU, para participar do projeto “Afunde esta ilha”.
Guto montou um acampamento no local para chamar atenção para o problema, que é considerado um símbolo da crise hídrica no país. Ele e uma agência de marketing que faz ações publicitárias para o Pacto Global produziram um vídeo para relatar a gravidade da situação.
De acordo com o ativista, quando a represa está em um nível normal de água, a ilha fica completamente submersa e não é possível encontrá-la em nenhum mapa.
No entanto, com o baixo volume de chuva registrado nos últimos dias, ela apareceu na superfície e vem ficando cada vez maior. Ainda segundo o ativista, não há documentos históricos que comprovem que o fenômeno possa ter ocorrido anteriormente.
Atualmente, a ilha tem cerca de 38.880 metros quadrados, o equivalente a quase cinco campos de futebol. De acordo com o projeto, o banco de areia em Avaré é fruto da maior seca dos últimos 90 anos no Brasil, criada pelo aquecimento global e o desmatamento da Amazônia.
Impacto ambiental
A Represa de Jurumirim banha sete cidades da região e ao menos quatro delas usam o reservatório para o turismo.
A usina hidrelétrica, que opera sob a concessão da empresa CTG Brasil, é responsável pelo abastecimento de energia para a região do médio Paranapanema. Com potência instalada de 100 megawatts, a usina tem capacidade para atender mais de 900 mil pessoas.
O aproveitamento hidrelétrico possui um reservatório com capacidade para acumular cerca de 7,2 trilhões de litros de água, além de abranger uma área inundada de 449 quilômetros quadrados.
Por isso, o baixo nível do reservatório afeta o meio ambiente, moradores, turistas, marinas e até hotéis da região que utilizam a represa como atrativo turístico.
A CTG Brasil informou que a operação da Usina Jurumirim é coordenada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e que acolhe todas as determinações recebidas, “cumprindo rigorosamente a legislação, procedimentos e normas do setor elétrico brasileiro”.
Disse ainda que a empresa vem adotando medidas para cumprir às deliberações decorrentes das reuniões da “sala de crise” do Rio Paranapanema, coordenada pela ANA e outros órgãos.
A CTG Brasil também informou que gera energia 100% limpa e é signatária do Pacto Global, por isso, “adota ações para apoiar o atendimento aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), com investimentos em programas e projetos socioambientais”.
Fonte: G1