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Um mistério curioso está chamando a atenção em Chernobyl, na Ucrânia. Vários cães de rua que vivem perto da antiga usina nuclear surgiram com a pelagem azul brilhante e ninguém sabe ao certo o motivo. As imagens, divulgadas pela organização Dogs of Chernobyl, mostram três cães de tom azulado vagando pelas ruínas da usina onde ocorreu o desastre nuclear de 1986.
— Já vimos muita coisa em Chernobyl, mas isso foi realmente único — afirma um porta-voz do grupo.
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Ligada à ONG Clean Futures Fund, a instituição atua na região desde 2017 e afirma que esses animais são descendentes dos cães domésticos deixados para trás há quase 40 anos, quando os moradores fugiram após o acidente.
“Estamos no local capturando cães para esterilização e encontramos três completamente azuis. Ainda não sabemos o que está acontecendo”, informou a organização em um post no Instagram que já ultrapassou 330 mil visualizações.
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Moradores da área relatam que, uma semana antes, os mesmos animais tinham a pelagem normal.
— Não sabemos a causa, mas tentamos capturá-los para entender o que está acontecendo. O mais provável é que tenham entrado em contato com alguma substância química — explica o porta-voz.
Segundo a ONG, apesar da cor incomum, os cães pareciam “muito ativos e saudáveis”.
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O projeto Dogs of Chernobyl presta atendimento veterinário, fornece alimento e realiza esterilizações em cerca de 700 cães de rua que vivem na zona de exclusão de 30 km em torno da usina, área ainda proibida para a maioria das pessoas desde o desastre no Reator nº 4.
Segundo informações do tabloide britânico The Sun, especialistas descartam que o tom azul esteja ligado diretamente à radiação. Mas a descoberta reacendeu o interesse científico em entender como esses animais vêm se adaptando a um ambiente hostil há tantas décadas.
Um estudo publicado em 2023 na revista Science Advances, feito por pesquisadores da Universidade da Carolina do Sul e do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano dos EUA, analisou o DNA de 302 cães selvagens que vivem dentro e nos arredores da zona de exclusão.
Os cientistas encontraram diferenças genéticas significativas em relação a cães que vivem a apenas 16 km de distância, o que sugere que esses animais podem estar evoluindo mais rápido.
— Eles desenvolveram mutações que permitem sobreviver e se reproduzir nessa região? Quais desafios enfrentam e como lidam com eles geneticamente? — disse a geneticista Elaine Ostrander, coautora da pesquisa, ao The New York Times.
O estudo apontou sinais de adaptação rápida, mas não comprovou que a radiação seja o motivo. Pesquisas posteriores também não encontraram evidências diretas de mutações causadas pela exposição radioativa. Mesmo assim, os cientistas destacam a resiliência impressionante dos cães.
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Outras pesquisas, lideradas por Norman J. Kleiman, da Universidade Columbia, mostraram que existem duas populações distintas desses cães: uma nas proximidades da usina e outra na cidade de Chernobyl, que continuam se reproduzindo apesar da contaminação.
— Além de analisar a dinâmica populacional desses animais, demos os primeiros passos para entender como a exposição crônica a múltiplos riscos ambientais pode ter impactado essas populações — explica o pesquisador.
Já Matthew Breen, da Universidade Estadual da Carolina do Norte, destacou à Science News:
— A grande questão é: um desastre ambiental dessa magnitude pode causar impacto genético duradouro na vida da região?
Alguns cães apresentam marcadores genéticos ligados à reparação de DNA, o que pode ajudar a entender como os seres vivos se adaptam em zonas de radiação extrema.
— Esses marcadores apontam regiões do genoma que merecem ser estudadas com mais atenção — explica Breen.
Embora ainda não existam “supercães mutantes”, os cientistas acreditam que compreender a genética desses animais pode, no futuro, ajudar a proteger humanos contra radiação, até mesmo em viagens espaciais.
Cães, lobos, alces e até rãs negras, que desenvolveram pigmentação mais escura, transformaram a zona de exclusão em um verdadeiro laboratório vivo da evolução.
Sem a presença humana, a natureza floresceu: a fauna cresceu livre da caça e da indústria.
— É impressionante pensar em famílias de cães vivendo perto de barras de combustível nuclear — afirma Ostrander. — Isso mostra o quanto essa espécie é resistente. Podemos ver a história dos antigos animais de estimação refletida no DNA dos cães que vivem hoje em Chernobyl — conclui.

Fonte: Extra