05 de fevereiro, 2025

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Miguel Díaz-Canel assume governo de Cuba, mas Raúl Castro não deixa poder

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Não houve surpresa quanto à votação da Assembleia Nacional, tampouco comoção nas ruas. Miguel Mario Díaz-Canel Bermudes, o homem escolhido por Raúl Castro para sucedê-lo como chefe de Estado e de governo em Cuba, tomou posse nesta quinta-feira (19) após ser confirmado, em votação previsível, por 99,83% dos deputados.

A maior mudança política na ilha desde que Fidel Castro tomou o poder, por meio da revolução, há quase 60 anos, confirmada na sessão da Assembleia, no Palácio da Convenções de Havana, foi transmitida pela TV estatal, mas poucos cubanos se esforçaram para acompanhá-la.

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Em seus discursos, Díaz-Canel, que nesta sexta-feira (20) completa 58 anos, e Castro, 86, deixaram mais do que evidentes as condições da mudança que justificam o desinteresse da população na transição.

Enquanto o novo presidente do Conselho de Estado insistiu que seguirão nas mãos de Castro as principais decisões políticas do país, o comandante que deixou o posto falou três vezes mais que o sucessor (durante uma hora e meia), dando todas as diretrizes que ele deverá seguir.

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Castro permanecerá à frente do Partido Comunista Cubano até 2021 e também das Forças Armadas, postos que, de fato, são responsáveis pelas decisões políticas na ilha.

“Afirmo a esta assembleia que o companheiro general do Exército Raúl Castro Ruz, como primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba, encabeçará as decisões de maior transcendência para o presente e o futuro da nação”, disse o engenheiro eletrônico Díaz-Canel, que ocupava o posto de primeiro vice-presidente do Conselho de Estado, o Executivo cubano.

O novo dirigente disse que sua missão é “dar continuidade à revolução cubana em um momento histórico crucial”, marcado por “tudo que se deve avançar na atualização do modelo econômico e social”.

Ele, contudo, afirmou que não haverá espaço em seu governo para os que “aspiram a uma restauração capitalista”. “Esta legislatura defenderá a revolução e seguirá o aperfeiçoamento do socialismo.”

Díaz-Canel, que nasceu um ano depois de Fidel chegar ao poder, fez questão de render honras a Castro e aos representantes da geração que lutou a revolução ali presentes. “Vocês enobrecem esta sala e nos dão a oportunidade de abraçarmos a história viva”, disse.

Castro, que recebeu o discípulo com dois abraços no parlatório do plenário, ressaltou que Díaz-Canel não deve ficar mais do que dois mandatos no posto e sugeriu que ele o suceda também à frente do Partido Comunista depois de 2021 –quando o general se tornará “mais um soldado defendendo, junto ao povo, a revolução”, “se a saúde permitir”.

Castro deixou claro que quer que se repita, em dez anos, o modelo de transição que está sendo visto agora.

“Quando ele [Díaz-Canel] cumprir seus dois mandatos, se trabalhar bem, deve dar [o poder] ao seu substituto, como está se fazendo aqui”, disse. “Cessados os dez anos de presidência no conselho, nos três que lhe faltarem até o congresso [seguinte do partido comunista], ficaria como primeiro-secretário [do partido] para viabilizar o trânsito seguro e honrando as aprendizagens de seu substituto até que se aposente.”

Como parte das orientações mais imediatas, Castro determinou que a Assembleia Nacional crie uma comissão para elaborar uma reforma constitucional em conformidade com as “transformações na ordem política, econômica e social” em Cuba, que deverá ser colocada em referendo.

Ele, contudo, alertou: “É propícia a ocasião para esclarecer que não pretendemos modificar o caráter irrevogável do socialismo em nosso sistema político e social”.

Castro enalteceu pontos de seu mandato, como a permissão para a abertura de alguns tipos de negócios privados, mas ressaltou que o regime aprendeu com os erros no controle do novo sistema.

“[Os erros] favoreceram não poucas manifestações de indisciplina, evasões de obrigações tributárias, ilegalidades e violações das normas em nome de um acelerado enriquecimento pessoal.”

Ele também defendeu que se busque solução para o câmbio duplo, “que continua nos dando sérias dores de cabeça”, e para os possíveis impactos da crise venezuelana –sem mencioná-la diretamente.

“Não resta alternativa que não planejar bem, e sobre base segura, para suprimir todo gasto não imprescindível, que ainda há bastante”, afirmou.

Castro e seu sucessor criticaram em uníssono o que chamam de imperialismo dos Estados Unidos sob Donald Trump, que vem revertendo a distensão iniciada pelo antecessor, Barack Obama. Díaz-Canel disse que a política externa cubana será mantida.

“Cuba não faz concessões contra sua soberania e independência, não negociará princípios nem aceitará condições. Jamais cederemos a pressões e ameaças”, declarou.

Enquanto os dois discursavam no Palácio da Convenções, afastado do centro de Havana e com forte esquema de segurança para evitar que curiosos e eventuais manifestantes se aproximassem, a rotina dos cubanos seguia.

Num bar de esquina no bairro Vedado, o gerente Mario Rodríguez, 60, não tirou do canal que passa videoclipes antigos para sintonizar a televisão na transmissão da posse. “Não sou eu que não me interesso, são eles”, diz, apontando para os poucos clientes, todos cubanos.

“Para que vou assistir? No fundo, vai ser mais do mesmo. Quem seguirá no poder é o comandante”, afirmou, a poucos metros dali, a vendedora de uma pequena loja de doces, que pede para ser identificada apenas como Rosa.

“Pelo menos ele é jovem, isso é já é bom.”

 

Raúl Castro e Miguel Díaz-Canel (Fotos: Reprodução)

 

Fonte: Yahoo!

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