26 de julho, 2024

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Medo de agulha: especialistas ensinam como controlar a dor e superar a fobia de injeção

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As coberturas vacinais nunca estiveram tão baixas no Brasil. Desde 2015, os índices vêm caindo sucessivamente, com piora durante a pandemia de Covid-19. A hesitação vacinal é considerada uma das dez maiores ameaças à saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Existem muitos fatores que contribuem para isso, como os movimentos antivacina, as fake news, a falsa crença de que algumas doenças prevenidas por vacinas não existem mais, medo de efeitos colaterais, problemas de acesso e de comunicação e, um fator pouco abordado, mas bastante presente: o medo de agulhas.

Ninguém gosta de agulhas. Algum grau de medo de injeções ocorre na maioria das crianças, em até metade dos adolescentes e em 20% a 30% das pessoas de 20 a 40 anos. No medo das agulhas, há pessoas que simplesmente ficam nervosas quando estão perto do objeto pontiagudo, até aquelas que atendem aos critérios de diagnóstico de aicmofobia, como é chamado o medo ou fobia de agulhas e/ou injeção.

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Independentemente do nível, o fato é que esse temor pode afetar negativamente os programas de vacinação. Cerca de um em cada 10 adultos tem tanto medo de agulhas que atrasa ou evita as vacinas. Mesmo para aquelas pessoas que têm coragem de enfrentar seu medo, o ato pode ser tão angustiante que elas chegam a ter tontura ou desmaio, como uma resposta do estresse da imunização. Isso pode não só piorar o medo de agulha nessas pessoas, como gerar medo em outras que não entendem que a reação é resultado de uma reação emocional e não da vacina em si.

— Um dos motivos da baixa cobertura vacinal é o medo. As pessoas adiam a vacinação por causa disso. É desafiador, mas esse problema precisa ser levado a sério e abordado — diz Mayra Moura, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

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A fobia de injeção pode ter sua origem em uma experiência anterior negativa, na hipersensibilidade à dor ou desconfiança psicológica profunda de ter substâncias estranhas injetadas em seu corpo. Também pode haver um componente biológico que faz com que alguns reajam fortemente à ideia de procedimentos envolvendo uma agulha.

Os familiares também podem impactar o surgimento desse medo. Segundo dados da SBIm, 40% dos adolescentes desmaiam em procedimentos com agulha. Muitas vezes, isso acontece pelo que foi construído na infância, por essa cultura do medo de injeções.

— O medo é muito passado de geração para geração. É a mãe que tem medo que o filho tome a vacina e não quer segurá-lo na hora da injeção. A ameaça que os pais fazem para as crianças, dizendo “se você não se comportar, vou te levar para tomar vacina” — explica Moura.

O perigo é imaginado, mas para a pessoa, o medo ou fobia é real e não uma escolha. Os sintomas da fobia de agulha podem variar de pessoa para pessoa. Mas no geral, há taquicardia, sudorese, medo e sensação de pânico. Em casos extremos, pode haver desmaio.

Pode parecer bobagem, mas uma pesquisa feita nos Estados Unidos mostrou que as repetidas imagens de agulhas usadas em campanhas visuais sobre o tema contribuem para o aumento da hesitação vacinal em pessoas com medo de injeção. No Brasil, uma estratégia adotada por muitas prefeituras para incentivar a vacinação infantil foi dar um “Certificado de Coragem” para aquelas que se vacinavam.

Respiração e alimentação

Existem estratégias que podem ser praticadas de forma individual para ajudar a tornar o momento da vacinação menos desconfortável. Praticar a respiração profunda ou outras técnicas de relaxamento pode ajudar a manter a calma no local. Comer alguma coisa e beber água antes da vacina também ajuda a reduzir o risco de desmaio.

Estratégia CARD

A estratégia CARD, sigla para a combinação de palavras “comfort, ask, relax, distract”, que em tradução livre significa “confortar, perguntar, relaxar e distrair”, é uma opção eficaz com base em estudos clínico. O método consiste em se preparar antes, durante e após a vacinação. Por exemplo, pensar no que irão vestir para facilitar o acesso aos braços. Considerar o que pode deixá-lo relaxado ou distraí-lo enquanto espera na clínica, como ler um livro, ouvir música ou jogar videogame. Pode ser útil até mesmo comprar um anestésico tópico. A simples presença de um familiar ou amigo próximo também pode ajudar a reduzir a ansiedade desse momento.

Distração

Mas, segundo Amanda Reis Junqueira, gerente de Imunizações na Beep Saúde, a estratégia que mais conforta e dá resultado é a distração. No caso de crianças, isso pode ser feito com o uso de um brinquedo que ela goste muito. Para adolescentes, vale um livro ou uma música e, para adultos, uma conversa sobre qualquer assunto que não seja a vacina. “Se for uma opção, vimos que a vacinação em ambiente domiciliar pode ajudar, em especial para crianças. Porque ela estará em um ambiente no qual se sente confortável. Outra estratégia que comprovadamente reduz a sensação de dor e é recomendada pela OMS é colocar a criança para mamar durante a aplicação da vacina”, orienta Junqueira.

Ajuda profissional

No entanto, para aquela minoria com aicmofobia, pode ser necessário recorrer à ajuda de um profissional de saúde para aprender a controlar o medo e conseguir chegar até o local de vacinação. Um método de terapia baseada em exposição costuma ser indicado nestes casos. Ele envolve o enfrentamento seguro, voluntário e lento do medo. Com a prática, as pessoas aprendem que sua ansiedade é administrável e que o que mais temem não vai acontecer. Os profissionais de saúde que vão aplicar a vacina também desempenham um papel fundamental nesse momento. Para começar, eles devem estar bem preparados.

A diretora da SBIm explica que tudo começa com a técnica correta de administração. “Todo mundo acha que é simples administrar uma vacina. Mas não. Tem o tamanho certo da agulha que deve ser usada e a região correta para administrar e causar menos dor”, diz Moura. Também é recomendado evitar mostrar a agulha, a menos que a pessoa peça. É preciso colocar o paciente sentado, de forma confortável e orientar que a pessoa relaxe o braço, para a picada e o pós-injeção doerem menos.

Campanhas

Para aumentar a cobertura vacinal, é fundamental que as campanhas de vacinação abordem o medo de agulhas, tanto em crianças quanto em adultos. Isso pode ser feito de formas simples, como ressaltar a importância da vacina na prevenção de doenças, mostrando que os benefícios superam os riscos; evitar o uso de palavras que criem ansiedade, como “agulha”, “injeção”, “furar” ou “espetar”; e preferir imagens positivas e neutras, que não mostrem as agulhas.

Fonte: Extra

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