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Polícias de vários países europeus lançaram nesta quarta-feira (03/05) uma grande operação contra membros da máfia calabresa ‘Ndrangheta. Somente na Alemanha e na Itália, mais de 100 suspeitos foram presos.
Os detidos são acusados de lavagem de dinheiro, crime fiscal, evasão, fraude, tráfico de drogas e de armas, associação criminosa com a máfia e posse ilegal de armas. A investigação conjunta que resultou nas prisões envolveu Alemanha, Bélgica, França, Itália, Portugal e Espanha e foi coordenada as agências europeias Europol e Eurojust.
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Somente na Alemanha, a operação envolveu mais de mil agentes que realizaram buscas em dezenas de casas, escritórios e lojas nos estados da Baviera, Renânia do Norte-Vestfália e Renânia-Palatinado. Foram detidos mais de 30 suspeitos que tinham mandados de prisão pendentes.
De acordo com a imprensa alemã, mais de 100 mandados de prisão estão sendo cumpridos na operação. Na Itália, 108 suspeitos foram detidos em diferentes regiões.
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Na Alemanha, a operação envolveu mais de mil agentes que realizaram buscas em dezenas de casas, escritórios e lojas nos estados da Baviera, Renânia do Norte-Vestfália e Renânia-Palatinado. Entre os suspeitos, mais de 30 tinham mandados de prisão pendentes.
A ‘Ndrangheta, que tem suas raízes na região da Calábria, no sul da Itália, superou a Cosa Nostra como o grupo mafioso italiano mais poderoso e é uma das maiores redes criminosas do mundo, atuando em mais de 40 países.
Três anos de investigação
Batizada de Operação Eureka, a ação policial desta quarta-feira é resultado de mais de três anos de investigação, de acordo com a polícia da Baviera, que salientou que ela é “uma das mais importantes e significativas dos últimos anos no domínio do crime organizado em Itália”.
No âmbito das investigações, as autoridades italianas e belgas conseguiram atribuir à ‘Ndrangheta a importação e tráfico de cerca de 25 toneladas de cocaína entre outubro de 2019 a janeiro de 2022. A droga foi trazida da América do Sul. Também foram identificados fluxos financeiros de mais de 22 milhões de euros da Calábria para a Bélgica, Holanda e América do Sul.
PCC, pizzaria e sorveterias
De acordo com a imprensa alemã, as investigações revelaram que, para trazer a cocaína para a Europa, a ‘Ndrangetha atuou junto com o Primeiro Comando da Capital (PCC), no Brasil, o Clã do Golfo, na Colômbia, e com um grupo albanês que atua no Equador.
A droga era transportada em navios-contêineres para os portos da Antuérpia, Roterdã ou Gioia Tauro, na Calábria. Parte da cocaína seria ainda enviada para a Austrália.
Uma rede para lavar o dinheiro do tráfico teria ainda sido construída na Alemanha, Bélgica, Portugal e Argentina. Ela inclui restaurantes, sorveterias, cafés, imóveis e lava-jatos. Uma pizzaria na Bélgica foi o ponto de partida da investigação.
Brasileiro testemunhou ação da polícia na Alemanha
“Acordei às 4h da manhã com dois policiais no meu quarto falando em alemão”, disse à DW Brasil um brasileiro que vive na Alemanha e trabalhava em uma das sorveterias alvo da operação internacional contra a máfia italiana e o PCC nesta quarta-feira.
O jovem de 24 anos, que pediu para não ser identificado por medo de represálias, relatou que suspeitava que havia algo de errado com o estabelecimento. Ele trabalhou por cerca de um mês no local, que fica no estado da Renânia do Norte-Vestfália.
Na Alemanha, a operação envolveu mais de mil agentes que realizaram buscas em dezenas de casas, escritórios e lojas nos estados da Baviera, Renânia do Norte-Vestfália e Renânia-Palatinado. Entre os suspeitos, mais de 30 tinham mandados de prisão pendentes.
Em busca de um emprego na Europa, o brasileiro chegou ao continente no segundo semestre de 2022, mas só desembarcou na Alemanha no começo de abril para trabalhar na sorveteria. “Assinei o contrato, mas não me deram nenhuma cópia. Eu tentei pedir uma vez, mas fui ignorado. Sabíamos que poderíamos ser facilmente substituídos, então aceitávamos as condições.”
Vindo do sul do Brasil, ele afirma ter conseguido a vaga por meio de uma agência administrada por um casal também brasileiro que vive na Europa.
A ele foi prometido moradia, alimentação e um salário líquido de 1.400 euros (o equivalente a cerca de R$ 7,7 mil). O salário poderia ser pago em espécie ou depósito. “Trabalhei muito mais do que deveria e agora nunca vou receber.”
A jornada de trabalho prevista em contrato, segundo o brasileiro, era de 11h30 —das 9h às 20h30. Mas a realidade era de 13h de trabalho diário com apenas uma folga por semana.
Como alimentação, recebeu apenas produtos disponíveis no estabelecimento. “Só tinha crepe e sorvete”, afirma.
A situação era degradante e de exploração de trabalho. A moradia prometida era compartilhada com outros seis funcionários da mesma sorveteria. Três pessoas dormiam na sala e o restante dividia quartos. “Eu dei sorte, dividi o cômodo com apenas uma pessoa”.
A polícia alemã apreendeu notebooks e celulares de algumas das pessoas com quem ele dividia o apartamento, segundo o brasileiro. Questionado, ele diz que nem teve bens apreendidos nem precisou prestar depoimento.
Pelo menos outros três brasileiros também trabalhavam em estabelecimentos alvos da operação. A DW Brasil os procurou, mas eles não optaram por não conceder entrevista.
Fonte: Agências