28 de dezembro, 2024

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Mais de 100 botos já foram encontrados mortos em meio à seca na Amazônia

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Em meio à extrema seca que afeta a região amazônica, mais de 100 botos e tucuxis (outro tipo de golfinho de água doce) já apareceram mortos desde o último sábado (23), segundo a ONG WWF Brasil.

Os animais foram encontrados principalmente às margens do Rio Tefé, no Amazonas. Esforços estão sendo feitos por organizações como o Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que vem tentando transferir os botos e tucuxis ainda vivos em poças rasas para locais com profundidade mínima para sua sobrevivência.

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Peixes mortos se proliferam nos rios do Amazonas — Foto: Rede social X/Eduardo Braga
Peixes mortos se proliferam nos rios do Amazonas (Foto: Rede social X/Eduardo Braga)

“O primeiro esforço é retirar os corpos dos animais mortos da água, mas com o grande número de animais mortos se tornou impossível. O translado dos botos vivos para outros rios não é seguro, pois além da qualidade da água é preciso verificar se há alguma toxina ou vírus. Estamos mobilizando parceiros para coleta e análise e outras instituições que possuem expertise em resgate de animais”, ressalta André Coelho do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá”, em comunicado emitido pela WWF Brasil e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

A situação preocupa sobretudo por ainda estarmos no início da estação seca do bioma – o auge do período seco costuma ocorrer em outubro. “É esperado que a situação se agrave nos próximos 15 dias com a forte seca e acometa outras regiões do médio Solimões resultando em mais mortes de botos e tucuxis em zonas sem equipes disponíveis para resgate. Isso faz com que o evento tome proporções ainda maiores e mais impactantes em um dos locais de maior densidade e abundância de golfinhos de rio da América do Sul”, diz a WWF.

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A organização aponta que os animais da região já sofrem a pressão de fatores antrópicos como impacto das hidrelétricas, contaminação por mercúrio, o conflito com humanos em atividades de pesca. Mas, atualmente, diz a WWF, é a questão climática que está gerando a morte dos animais. “Precisamos de uma ação efetiva de proteção imediata, mas a longo prazo faz-se necessário mais pesquisas para sabermos como eles são e serão afetados pelas constantes mudanças do clima e a redução dos corpos d’água”, afirma Mariana Paschoalini Frias, especialista em Conservação do WWF-Brasil.

Não são apenas os botos que sofrem. Diversas publicações nas redes sociais mostram grandes quantidades de peixes mortos nos rios amazonenses.

A seca deste ano na Amazônia vem sendo impulsionada pelo El NIño e pelo aquecimento das águas do Atlântico Norte. Com o El Niño, padrão climático formado a partir do aquecimento das águas do Oceano Pacífico Equatorial, são esperadas menos chuvas e aumento das temperaturas em parte das regiões Norte e Nordeste do Brasil. De outro, o oceano Atlântico Norte vem passando por um processo de aquecimento “sem precedentes”, contribuindo para trazer ar quente para a Amazônia e dificultar a ocorrência de chuvas.

A situação fez com que os rios baixassem seu volume a níveis preocupantes, e levou 17 municípios do Amazonas a declararem situação de emergência. A capital Manaus foi a última a fazer isso, depois que o Rio Negro chegou à cota de 16,11 metros. Além da baixa dos rios, as queimadas são outra consequência do tempo extremamente seco.

A situação prejudica as pessoas de diversas formas – impossibilita em muitos casos o transporte fluvial, fundamental para as comunidades ribeirinhas; além do abastecimento de água, com peixes apodrecendo nos leitos de onde ela sairia.

Boto da Amazônia: em meio à extrema seca na região amazônica, mais de 100 botos e tucuxis (outro tipo de golfinho de água doce) apareceram mortos. (Foto: Christian Dimitrius/Sea Shepherd)

A WWF alerta para a situação de prolongada perda de água que o Brasil apresenta. Nos últimos 31 anos, o país perdeu o equivalente a 10 cidades de São Paulo em superfície de água, segundo pesquisa do MapBioma Água. Além disso, segundo o IPCC, entre 1970 e 2019, 7% de todos os desastres em nível mundial estiveram relacionados com secas, contribuindo com 34% das mortes relacionadas com catástrofes.

“A natureza está dando um alerta. A emergência climática agravada pelo fenômeno do El Niño indica que teremos um cenário dramático se continuarmos no ritmo atual de aquecimento do planeta. O IPCC já alertou que, mesmo nos melhores cenários, podemos ultrapassar 1,5°C de temperatura na próxima década. Eventos como redução de rios, falta de chuva, enchentes e ondas de calor como as que afetaram o centro-sul do Brasil recentemente, podem ser a normalidade das estações”, diz a WWF.

Fonte: Um Só Planeta

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