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A maioria das raças modernas de cães possui pequenas quantidades de ancestralidade de lobos provenientes de cruzamentos ocorridos muito depois da domesticação, segundo estudo publicado nesta segunda-feira, 24, na revista PNAS. O DNA lupino não é resquício de quando cães e lobos divergiram, mas resultado de reprodução entre as espécies nos últimos milhares de anos.
“Os cães são nossos companheiros, mas aparentemente os lobos foram uma grande parte na formação deles nos parceiros que conhecemos e amamos hoje”, afirmou Logan Kistler, coautor do estudo e curador de arqueobotânica e arqueogenômica do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian, em Washington, para a Live Science.
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Pesquisadores analisaram os genomas previamente publicados de quase 2.700 cães e lobos, desde o Pleistoceno tardio (última era glacial) até o presente. O grupo incluiu 146 cães e lobos antigos, 1.872 cães modernos e cerca de 300 “cães de aldeia” que viviam próximos a humanos, mas não eram animais de estimação.

Pelo menos 264 raças modernas de cães apresentam ancestralidade de lobos transmitida por acasalamentos que ocorreram em média há 900 gerações caninas, o equivalente a cerca de 2.600 anos atrás — muito depois de os cães terem sido domesticados há pelo menos 20.000 anos. Os cães mais lupinos tinham até 40% de ancestralidade de lobo em seus genomas, mas a maioria apresentava entre zero e 5%.
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“Antes deste estudo, a principal teoria científica sugeria que, para um cão ser um cão, não poderia haver muito DNA de lobo presente, se é que havia algum”, disse a coautora Audrey Lin, bióloga evolutiva do Museu Americano de História Natural de Nova York. “Mas descobrimos que, se você olhar de perto nos genomas de cães modernos, o lobo está lá. Isso sugere que os genomas de cães podem ‘tolerar’ DNA de lobo até um nível desconhecido e ainda permanecerem os cães que conhecemos e amamos.”
Os cães-lobo checoslovacos e os cães-lobo de Saarloos apresentaram o maior grau de ancestralidade lupina, o que não surpreende, já que foram intencionalmente criados pelo cruzamento de cães domésticos com lobos no século 20. Cães maiores e certas raças de trabalho — como cães de trenó árticos, cães de caça e algumas raças de cães guardiães da Ásia Ocidental e Central, como os pastores da Anatólia — tenderam a ter níveis mais altos de ancestralidade de lobos.
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No entanto, muitas raças não se encaixaram nesses padrões. Alguns cães guardiães grandes, como bullmastiffs e São Bernardos, não tinham ancestralidade de lobo detectável. E alguns cães menores apresentaram pequenas quantidades de DNA lupino. Por exemplo, 0,2% do genoma do Chihuahua pode ser rastreado até lobos.
“Isso faz todo o sentido para quem tem um Chihuahua”, brincou Lin. “E o que descobrimos é que isso é a norma — a maioria dos cães é um pouco lupina.”
Todos os “cães de aldeia” testados tinham DNA de lobo em seu genoma, possivelmente relacionado à sobrevivência. Os trechos de DNA lupino encontrados continham genes relacionados a receptores olfativos, o que pode ter ajudado esses cães de vida livre a sobreviver em ambientes hostis e voláteis.
Algumas características de personalidade que os clubes de canil usam para descrever certas raças também se alinharam com a quantidade de influência lupina. Raças com menor ancestralidade de lobo foram frequentemente descritas como “amigáveis”, “fáceis de treinar” ou “animadas”, enquanto raças com mais DNA de lobo foram caracterizadas como “desconfiadas de estranhos”, “independentes” e “dignas”. Ainda não está claro se os genes de lobo são diretamente responsáveis por essas características.
Fonte: Um Só Planeta