Anúncios
Daniela Bombini, mãe do menino Francisco Bombini, o “Super Chico”, ainda vivia o luto pela perda do filho quando descobriu que teria de passar por uma nova batalha em sua vida: a luta contra um câncer de mama.
A advogada, de 49 anos, perdeu o filho que tinha síndrome de Down e complicações de saúde no dia 6 de fevereiro, após ele sofrer uma parada cardíaca enquanto dormia. Menos de seis meses depois, em junho, recebeu o diagnóstico da doença durante um exame de rotina.
Anúncios
“O médico encontrou dois nódulos suspeitos no meu peito direito. Provavelmente já estou com a doença há cerca de sete meses”, revela.
Após a descoberta do câncer ainda em sua fase inicial, Daniela deu início ao tratamento em um hospital particular de Bauru, no interior de SP, onde realiza sessões de quimioterapia. No entanto, a aceitação levou tempo e muitos questionamentos com a nova condição.
Anúncios
“Foi um baque tremendo para ser honesta. Passei pela negação, pela revolta, cheguei a questionar Deus. Me sentia um pouco injustiçada. Fiquei os cinco primeiros dias na cama, mas aos poucos fui encontrando forças. Não é fácil, mas são propósitos que nos são dados. Digo que ‘o duro é emendar o luto na luta”, comenta.
O baque inicial pelo diagnóstico do câncer se mistura com a dor do luto pela recente perda de Chico. No entanto, é na própria vivência do filho que Daniela afirma encontrar inspiração para “viver um dia de cada vez” e vencer a doença.
“Ainda vivia o luto pelo falecimento do Chico quando aconteceu. E não só eu, mas como toda a família. Mas o Chico me ensinou que não devemos perguntar ‘por que’, mas ‘para que’. Ele é parte do combustível para seguir na luta. Vivemos um dia de cada vez e sei que vou vencer”, conta.
Após realizar uma série de exames, incluindo tomografias e cintilografia óssea, as boas notícias deram esperança à advogada. Felizmente, o câncer de mama não é metastático e não deve se espalhar para outras partes do corpo.
Das seis sessões de quimioterapia previstas para a aplicação do remédio, ela realiza nesta terça-feira (15), a segunda delas. Ao final da quimio, passará por uma cirurgia. Tem na família e nos amigos o apoio necessário para encarar o desafio.
“Meu marido tem sido um companheirão nesse momento. Minhas filhas também, uma delas fez questão de me acompanhar na sessão da quimio. O trabalho também tem me mantido ocupada. Procuro não estipular longos prazos, mas me mantenho ativa”, comenta.
Os sintomas da quimioterapia incomodam, mas não tiram a motivação de Daniela. “Estou com algumas feridas, muitas aftas na boca, mas não tive náusea ou enjoo”, relata.
Enquanto ainda aprende a lidar com o vazio na casa pela perda do filho, Dani encontra na luta contra o câncer mais uma oportunidade de ser uma voz ativa e de suporte para pessoas que passam por uma situação semelhante à dela.
“Pensei em não divulgar o câncer. Mas quando o Chico chegou na minha vida, me tornei uma voz ativa na luta pelas pessoas com deficiência, me tornei ativista. Agora, quero poder mostrar para mulheres que estão passando por isso que elas não estão sozinhas”.
‘O menino mais forte do mundo’
O garoto que nasceu com síndrome de Down e outras complicações de saúde acumulava milhares de seguidores nas redes sociais. Ele viralizou no ano passado e ficou conhecido no país todo ao superar a Covid-19 por duas vezes.
Na primeira delas, Chico chegou a ficar internado por 13 dias na UTI e, quando recebeu alta, foi tema de uma reportagem do Fantástico. Mas, essa não foi nem de longe a primeira vez que o menino, na época com 3 anos, enfrentava a rotina de internação hospitalar.
Super Chico precisou passar por uma cirurgia ainda durante a gestação, na barriga da mãe, e por outras seis depois que nasceu. Os procedimentos foram necessários devido a problemas renais, cardíacos e hipotireoidismo.
Logo após o parto prematuro, foram seis meses “morando” no hospital para realização desses procedimentos.
Foi quando Daniela decidiu compartilhar a rotina do ainda Francisco nas redes sociais. Para simbolizar a vitória dele sobre as complicações de saúde, ela vestia o pequeno com fantasia de super-heróis, em especial o superman.
Foi assim que surgiu o apelido “Super Chico”, como o garoto passou a ser conhecido nas redes sociais, nome inspirado nos heróis e em São Francisco de Assis.
Pequeno super-herói
Pelos seus perfis nas redes sociais, Daniela fazia postagens com fotos e vídeos de Chico e costumava “dar voz” ao filho, que apesar de ter 6 anos, tinha o metabolismo e o desenvolvimento de um bebê de 9, 10 meses, e por isso não falava.
Foi pelas redes sociais que a família compartilhou as duas vezes que o menino esteve internado por causa da Covid-19, e também comemorou quando ele completou 5 anos e pôde receber as doses da vacina.
Coincidentemente, ele recebeu a segunda dose e pôde completar o ciclo vacinal no dia 21 de março de 2021, quando é celebrado o Dia Internacional das Pessoas com Síndrome de Down.
Devotos de São Francisco de Assis
Chico fazia aniversário em 6 de outubro, dois dias depois do dia do santo que inspirou seu nome, São Francisco de Assis, a quem a família é devota.
Todos os anos nessa data, a família fazia um evento beneficente para arrecadar verba para entidades assistenciais da cidade. Mesmo durante a pandemia, o evento foi realizado no formato drive-thru.
No seu aniversário de 4 anos, em outubro de 2020, depois de superar a Covid-19 pela primeira vez, ele recebeu parabéns de vários famosos, inclusive do seu xará, o cantor Chico Buarque.
Comoção no adeus
Nas redes sociais, o adeus ao menino causou comoção. A postagem de Daniela sobre a morte do filho possui mais 35 mil comentários e quase 200 mil curtidas.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também elaborou uma nota de pesar e lamentou o ocorrido. A mãe de Chico é presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB em Bauru. “Com muita tristeza e pesar, informamos o falecimento de Francisco Guedes Bombini”, diz a nota.
Além deles, em comentário na publicação de Daniela, a cantora Roberta Miranda confessou que amava o menino e escreveu que sente muito pela perda.
A modelo com síndrome de Down Maria Júlia de Araújo reforçou as lamentações: “O mundo vê partir um dos maiores super-heróis que já conheceu. Chico trouxe só alegria e inspiração de como devemos enxergar a nossa vida e será pra sempre lembrado dessa maneira”, escreveu Maria Júlia.
Em seu perfil oficial no Instagram, a mãe escreveu uma homenagem ao pequeno: “Tenho certo pra mim que todos temos uma missão nessa vida e a do Chico foi a de plantar sementes de amor no coração das pessoas!”.
Chico foi velado no Salão Nobre 1 do Centro Velatório Terra Branca, às 9h, e enterrado no Cemitério Jardim do Ypê, em Bauru.
Fonte: G1