26 de dezembro, 2024

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‘Maduro é problema da Venezuela, não do Brasil’, diz Lula após escalada de hostilidades

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que Nicolás Maduro, presidente declarado reeleito na Venezuela, não é um “problema” do Brasil.

Lula avaliou que não pode ficar se “preocupando” com a Venezuela e que Maduro é um “problema” do país sul-americano. Ele defendeu, ainda, que cabe à população cuidar do chefe do governo venezuelano.

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As declarações — registradas em uma entrevista à RedeTV!, concedida na última quarta-feira (6) e veiculada neste domingo (10) — quebram um jejum de falas do petista sobre o tema.

Lula vinha evitando falar sobre a relação com o país vizinho desde o início de uma ofensiva de Nicolás Maduro e de órgãos controlados por ele contra o governo brasileiro.

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“Eu aprendi que a gente tem que ter muito cuidado quando a gente vai tratar de outros países e de outros presidentes. Eu acho que o Maduro é um problema da Venezuela, não é um problema do Brasil”, disse o petista.

Na entrevista, o presidente brasileiro respondeu a um questionamento do senador Jorge Kajuru (PSB-GO). O parlamentar havia perguntado se estava na “hora” de Lula começar a “ignorar” Maduro.

“Eu quero que a Venezuela viva bem, que eles cuidem do povo com dignidade. Eu vou cuidar do Brasil, o Maduro cuida dele, o povo venezuelano cuida do Maduro, e eu cuido Brasil. E vamos seguir em frente. Porque também não posso ficar me preocupando. Ora brigar com a Nicarágua, ora brigar com a Venezuela, ora brigar com não sei com quem. Tenho é que tentar brigar para fazer esse país dar certo”, declarou Lula.

Ao falar sobre a relação com o país comandado por Nicolás Maduro, o petista relembrou como o Brasil acompanhou as eleições da Venezuela, questionadas por diversos países e organismos internacionais.

O processo eleitoral, considerado por instituições globais como controverso e viciado, terminou com a proclamação da vitória de Maduro.

O presidente Lula (PT) em entrevista, no último dia 6, aos senadores Jorge Kajuru (PSB-GO) e Leila Barros (PDT-DF) (Foto: Reprodução/RedeTV)

À época, em meio aos questionamentos de opositores sobre os resultados, o governo brasileiro, em conjunto com a Colômbia e o México, cobrou a divulgação de atas eleitorais — uma espécie de boletim das urnas. Também defendeu que a soberania popular fosse respeitada com uma “apuração imparcial” dos votos.

Os órgãos venezuelanos, controlados pelo regime de Maduro, não apresentaram o detalhamento da apuração.

Sem a certeza da lisura do processo, Lula e o governo brasileiro não reconheceram a vitória de Nicolás Maduro. A postura deu início a um agravamento na relação entre os dois presidentes, considerados aliados históricos (veja a cronologia aqui).

“O que nós fizemos lá foi a gente acompanhar o processo eleitoral. E, no dia que terminou as eleições, o meu ministro, que era meu enviado lá, o Celso Amorim, perguntou pro Maduro se ele poderia mostrar as atas da votação. Perguntou pra ele e perguntou pro candidato da oposição. Os dois disseram que iriam mostrar. A verdade é que os dois não mostraram”, relembrou Lula.

“Nós fizemos uma nota, junto com a Colômbia, dizendo da nossa inquietação de você não ter uma prova do resultado eleitoral. Ele [Maduro] deveria ter mandado a nota para o Conselho Nacional Eleitoral, que foi criado por ele próprio, que tinha dois membros da oposição e três do governo. Ele não mostrou. Foi direto pra Suprema Corte. Eu não tenho o direito de ficar questionando a Suprema Corte de outro país, porque eu não quero que nenhum outro país questione a minha Suprema Corte”, prosseguiu.

Maduro contra o Brasil

Nicolás Maduro, que foi recebido por Lula com honras de chefe de Estado em maio de 2023, começou uma ofensiva contra o Brasil nos últimos meses.

O desalinho entre os aliados teve início em março deste ano. Na ocasião, depois de uma candidata de oposição ter sido impedida de registrar candidatura, o Itamaraty disse acompanhar com “preocupação” o desenrolar do processo eleitoral no país.

O governo da Venezuela classificou o posicionamento do Brasil como intervencionista.

Em julho, dias antes da eleição, Maduro mentiu ao afirmar, sem citar qualquer prova, que as eleições brasileiras não são auditadas. As declarações foram rebatidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Na sequência, com um resultado questionado interna e externamente, o Brasil e o presidente Lula evitaram reconhecer a proclamação de vitória de Nicolás Maduro no pleito.

O conflito voltou a escalar, em outubro, depois de a Venezuela não ter sido incluída na lista de 13 países que serão convidados a integrar o Brics — bloco que reúne economias emergentes e do qual o Brasil faz parte — como parceiros.

O governo venezuelano atribuiu a ausência a um veto do Brasil, classificado como uma “agressão inexplicável”. Segundo apuração da TV Globo, o governo brasileiro fez pressão política para que Venezuela e Nicarágua não entrassem na lista.

No fim de outubro, a polícia venezuelana fez uma postagem com a foto da bandeira do Brasil e a frase “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”. Sobreposta à bandeira brasileira estava a silhueta de um homem que se assemelha à de Lula.

Um dia depois, já em novembro, o Itamaraty divulgou uma nota na qual classifica como “ofensivo” o tom das declarações da Venezuela.

Em seguida, o regime Maduro voltou a criticar o Brasil e disse que o governo brasileiro promove “agressão descarada e grosseira” contra o presidente venezuelano.

Relembre abaixo alguns dos episódios que mostram momentos de maior proximidade entre Lula e Maduro e momentos de maior distância:

  • 29 de maio de 2023: Maduro faz visita ao Brasil e é recebido com honras de chefe de Estado;
  • 29 de maio de 2023: Lula defende Maduro e diz que venezuelano precisa construir a própria “narrativa” sobre cenário no país;
  • 29 de junho de 2023: Brasil defende publicamente a entrada da Venezuela no Mercosul;
  • 17 de outubro de 2023: Lula envia Celso Amorim a Barbados para mediar acordo eleitoral na Venezuela;
  • 29 de janeiro de 2024: Corina Machado, opositora de Maduro, é inabilitada e não pode disputar eleição;
  • 1º de março de 2024: Lula e Maduro se reúnem em São Vicente e Granadinas e discutem processo eleitoral;
  • 26 de março de 2024: Substituta de Maria Corina Machado, Corina Yoris não consegue registrar candidatura;
  • 26 de março de 2024: Itamaraty manifesta “preocupação” com desenrolar do processo eleitoral na Venezuela (com opositores sendo impedidos de participar do pleito);
  • 24 de julho de 2024: Maduro não apresenta provas e mente ao dizer que o Brasil não tem eleições auditáveis;
  • 28 de julho de 2024: Eleição presidencial da Venezuela;
  • 29 de julho de 2024: Conselho Nacional Eleitoral reconhece vitória de Maduro nas eleições;
  • 30 de julho de 2024: Lula cobra divulgação das atas eleitorais pelo governo Maduro;
  • 22 de agosto de 2024: Suprema Corte da Venezuela declara Maduro vencedor e proíbe divulgação das atas eleitorais;
  • 23 de outubro de 2024: Brics se reúne e barra entrada da Venezuela após articulação do Brasil;
  • 24 de outubro de 2024: Venezuela chama veto do Brasil de ‘agressão inexplicável’ e diz que governo Lula reproduz ‘ódio de Bolsonaro’
  • 28 de outubro de 2024: Maduro cobra explicação pública de Lula sobre episódio envolvendo o Brics;
  • 29 de outubro de 2024: Assessor de Lula diz que houve “quebra de confiança” entre os dois países.
  • 30 de outubro de 2024: Governo da Venezuela convoca o embaixador em Brasília para retornar ao país;
  • 31 de outubro de 2024: Polícia venezuelana publica foto com bandeira do Brasil e a legenda “quem se mete com a Venezuela se dá mal”;
  • 1º de novembro de 2024: Governo brasileiro responde a ataques e define como “ofensivo” o teor das declarações dadas pelo presidente Nicolás Maduro;
  • 2 de novembro: Venezuela diz que Brasil pratica “agressão descarada e grosseira” contra Maduro;
  • 3 de novembro: Lula recusa responder à imprensa sobre a relação com a Venezuela: “Hoje o assunto é o Enem”.

Fonte: G1

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