Louva-a-Deus-orquídea: conheça inseto que se disfarça de flor para caçar e se proteger

Em um primeiro momento, parece uma flor delicada, mas se olhar direitinho, é na verdade um mestre da camuflagem. Como um ninja da natureza se disfarçando entre as flores, o louva-a-Deus-orquídea (Hymenopus coronatus), nativo do sul da China e do Sudeste Asiático, usa seu corpo colorido e pernas que imitam flores para caçar e se proteger.

Esse truque natural não só o protege de predadores, como também atrai presas desavisadas, tornando-o um caçador eficiente e quase invisível na vegetação. Apesar de ser uma espécie fascinante e amplamente estudada em alguns aspectos, não é considerada particularmente comum na natureza.

Além da sua aparência singular, o animal surpreende também pelo comportamento. Segundo o entomólogo e especialista em louva-a-Deus César Favacho, a espécie não mantém uma relação específica com orquídeas, como o nome sugere, mas habita diferentes tipos de vegetação verde, geralmente repousando sobre folhas em superfícies abertas, próximas às copas das árvores.

“Eles são ativos durante o dia e utilizam sua camuflagem não apenas para se esconder, mas para atrair presas, como abelhas e borboletas, que se aproximam acreditando estar diante de uma flor real”, explica.

De acordo com o especialista, a estratégia é tão eficaz que, em estudos, pesquisadores observaram que insetos polinizadores eram mais atraídos pelo louva-a-Deus-orquídea do que por flores verdadeiras.

“O louva-a-Deus-orquídea é um predador de emboscada. Ele fica imóvel, parecendo uma flor, e ataca rapidamente quando uma presa se aproxima. Suas patas dianteiras são adaptadas para agarrar e segurar as presas com precisão. Eles são mais ativos durante o dia, quando suas presas (insetos polinizadores) também estão mais ativas”, diz César Favacho, entomólogo e especialista em louva-a-Deus

A espécie é carnívora e se alimenta principalmente de insetos voadores, como moscas, abelhas, borboletas e mariposas. Sua dieta é composta por essas presas que são atraídas por sua aparência floral.

Outro detalhe curioso sobre a espécie é sua capacidade de mudar de cor ao longo da vida, especialmente durante a muda – processo de troca de exoesqueleto. Embora essa mudança não seja tão dinâmica quanto à de um camaleão, ela permite ao inseto se adaptar melhor ao ambiente ao longo do crescimento. A coloração geralmente varia dependendo da fase de vida e do ambiente.

Além disso, os lobos femorais – estruturas semelhantes a pétalas nas patas – não servem apenas para imitação, mas também auxiliam na aerodinâmica do animal, permitindo que ele plane quando ainda é jovem e não possui asas.

O ciclo de vida do louva-a-Deus-orquídea passa pelas fases de ovo, ninfa e adulto, com uma expectativa de vida média de um ano. Os ovos são colocados em uma massa espumosa chamada ooteca, que protege os ovos até a eclosão. As ninfas passam por várias mudas até atingirem a fase adulta, processo que leva cerca de seis meses.

“Depois de adultos, em cativeiro, eles vivem em média de mais 6 a 8 meses, mas na natureza, a expectativa de vida pode ser menor devido a predadores e condições ambientais. O tempo de vida total é de cerca de um ano, na média, que se conhece, em cativeiro”, elucida o entomólogo.

O canibalismo sexual, um comportamento relativamente comum em muitas espécies de louva-a-Deus, não é uma regra. No caso do louva-a-Deus-orquídea, há alguns relatos de fêmeas devorando machos após o acasalamento, mas isso depende de fatores como a fome da fêmea e a habilidade do macho em escapar. No entanto, não há muitos registros específicos publicados sobre a frequência desse comportamento no H. coronatus.

As fêmeas da espécie apresentam um tamanho significativamente maior do que os machos, exibindo um forte dimorfismo sexual, o que é típico em louva-a-Deus, mas ainda mais forte nesses indivíduos.

O louva-a-Deus-orquídea não está classificado como ameaçado de extinção, mas sua população pode estar em declínio devido à destruição do habitat (desmatamento) e a coleta ilegal para o comércio de animais exóticos. Segundo César, faltam estudos de densidade populacional e ecologia para poder afirmar o status de conservação da espécie.

“Um dos equívocos mais comuns é que ele vive exclusivamente em orquídeas, quando na verdade habita diversas plantas e não mantém uma relação específica com essas flores, já que sua aparência garante que ele seja confundido com flores (tanto pelos predadores quanto pelas presas) em qualquer lugar que esteja. Normalmente são bichos incomuns e sem muitos relatos de sua importância na cultura popular local (exceto pelas menções à sua beleza)”, finaliza o especialista.

Fonte: G1