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Lobos que vivem em ilhas da costa do Alasca e da Colúmbia Britânica, no Canadá, estão apresentando níveis elevados de mercúrio no organismo. Segundo um estudo publicado na revista Science of The Total Environment, a contaminação está relacionada a uma mudança na alimentação desses predadores: em vez de caçarem alces e veados, como fazem os lobos do continente, eles passaram a consumir principalmente lontras-marinhas — que hoje representam cerca de 70% de sua dieta.
Essas lontras, por sua vez, acumulam mercúrio ao se alimentar de peixes e outros organismos marinhos contaminados. O resultado é um processo conhecido como bioampliação, no qual as toxinas se concentram progressivamente em animais de topo da cadeia alimentar, como os lobos.
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A descoberta foi motivada pela morte de uma loba jovem em Pleasant Island, no sudeste do Alasca. Exames revelaram níveis inéditos de mercúrio em seus órgãos. O caso chamou atenção da bióloga Gretchen Roffler, do Departamento de Pesca e Vida Selvagem do Alasca, e do ecotoxicologista Ben Barst, da Universidade do Alasca. Eles constataram que os lobos das ilhas têm concentrações da toxina muito superiores às dos lobos continentais.

A poluição por mercúrio tem origem principalmente na queima de carvão, na mineração de ouro e, mais recentemente, no derretimento acelerado das geleiras. No Ártico, esse processo libera partículas de mercúrio antes retidas no solo, que acabam chegando ao oceano. Lá, o metal se transforma em metilmercúrio, uma neurotoxina altamente perigosa que se infiltra na vida marinha.
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Ainda não está claro se essa mudança alimentar será permanente, nem quais os impactos de longo prazo na saúde dos lobos. No entanto, os cientistas alertam para os riscos da exposição crônica ao mercúrio, que pode afetar o sistema neurológico, reprodutivo e imunológico dos animais. “Eles estão consumindo tantas lontras que estão recebendo doses elevadas de mercúrio, que se acumulam com o tempo”, explica Barst.
Os pesquisadores também investigam se o mesmo fenômeno está ocorrendo em outras populações de lobos, inclusive na costa da Colúmbia Britânica. Para os cientistas, o caso evidencia como a poluição e as mudanças climáticas estão alterando ecossistemas de formas inesperadas — e perigosas.
Fonte: Um Só Planeta