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George, a “lesma mais solitária do mundo”, está morto, e com ele provavelmente também chega ao fim sua espécie, Achatinella apexfulva. Nativo das matas do Havaí, os cientistas passaram anos à procura de uma parceira para o animal, único exemplar conhecido da espécie, sem sucesso. Nascido em cativeiro num laboratório da Universidade do Havaí, George morreu no dia de ano novo aos 14 anos, já bem velho para animais do tipo.
Embora as lesmas sejam em essência hermafroditas, isto é, com os órgãos reprodutivos de ambos sexos, os cientistas se acostumaram a se referir a George como “ele”. Assim, para conseguir salvar a espécie, bastava que os cientistas achassem outro animal adulto, o que não conseguiram em cerca de uma década de buscas nas poucas áreas de mata original remanescentes do arquipélago havaiano.
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Hoje superpovoado e superexplorado, o arquipélago do Havaí, isolado no Pacífico Norte, já foi uma área praticamente a salvo da ação humana, onde muitas espécies de animais e plantas puderam evoluir de forma independente nas suas várias ilhas. Só de lesmas terrestres como George, por exemplo, os cientistas identificaram 752 espécies de dez famílias diferentes. Mas com a expansão da presença humana e a introdução acidental ou deliberada de outros animais, entre 60% e 90% das espécies pertencentes a cada uma dessas famílias já foram extintas.
– Pense neste processo como espetaculares fogos de artifício – comparou Sea McKeon, professor de biologia do St. Mary’s College em comentário sobre o caso ao site “Mashable”. – Uma discreta e sortuda espécie viaja uma distância absurda e então explode numa diversidade de cores e formas de tirar o fôlego. A linhagem de George foi um destes fogos de artifício e sua morte apenas a mais recente perda em uma série de extinções provocadas pela ação humana. Nosso mundo está ficando cada vez menos colorido e vibrante com cada uma dessas perdas, e apenas algumas poucas pessoas estão em posição de ver isso.
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Coordenador do Programa de Prevenção de Extinção de Lesmas do Departamento de Terras e Recursos Naturais do Havaí, o também biólogo David Sischo liderou as buscas por uma parceira para George e também lamentou sua morte.
– Sei que é apenas uma lesma, mas ele representava muito mais que isso – disse Sischo ao site da revista “National Geographic”. – Tínhamos populações que monitorávamos por mais de uma década e pareciam estáveis, e então nos últimos dois anos elas desapareceram completamente. Todos n[os já desabamos e choramos nos trabalhos de campo.
Além de estarem restritas a pequenos vales ou trechos únicos das matas havaianas, nos últimos anos as lesmas nativas do arquipélago enfrentam a invasão de espécies exóticas em seus derradeiros refúgios. Uma das mais perigosas, e também conhecida dos brasileiros, são os caramujos gigantes africanos (Lissachatina fulica). Para piorar a situação, a introdução deliberada de outra espécie na tentativa de combater os caramujos africanos, a chamada “lesma canibal” (Euglandina rosea), acabou saindo pela culatra, com ela também passando a exterminar as variedades únicas do arquipélago. Outro problema, segundo Sischo, são as mudanças climáticas, com secas históricas que estão afetando as áreas de florestas das ilhas e abrindo caminho para grandes incêndios.
Fonte: Extra