26 de julho, 2024

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Jovem de 19 anos morre 4 dias após cirurgia de extração de sisos

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“Não é uma causa só nossa, mas sim de toda a população”, começa Grasiela Belon Albanese ao falar sobre a petição criada por ela e o marido, Ricardo Costa Albanese, depois da morte da filha, Isadora Belon Albanese, por complicações após a extração dos terceiros molares, popularmente conhecidos como dentes do siso.

A petição pública, que já conta com 55 mil assinaturas, pede por um protocolo oficial registrado em normativa que estabeleça critérios coletivos a serem cumpridos por todos os profissionais da área antes, durante e após a extração. O documento foi encaminhado para o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo e relembra outros dois óbitos pelo mesmo motivo: Marina Mesquita Silva, de 23 anos, e José Eliezio Oliveira Silva, de 50. Ambos os casos aconteceram em 2023.

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Isadora Albanese morreu quatro dias após extrair os sisos do lado esquerdo (Foto: Acervo Pessoal)

Para conseguir mais visibilidade, Grasiela usa o TikTok, onde compartilha informações sobre casos parecidos – ou iguais – ao da filha. Um dos relatos sobre a causa da morte de Isadora atingiu a marca de 7 milhões de visualizações. Na conversa com Marie Claire, Grasiela e Ricardo estão lado a lado na câmera e relatam que a filha, de 19 anos, era uma menina animada e cheia de sonhos. Na época, ela cursava psicologia.

“No dia 10 de abril, ela fez a extração dos dois sisos do lado direito e ficou combinado que voltaria em outra data para retirar os sisos do lado esquerdo. De início, ela teve um leve inchaço, nada que fugisse do comum. A primeira cirurgia ocorreu bem”, começa Grasiela.

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A extração dos terceiros molares do lado esquerdo aconteceu no dia 19. “Ela foi com a mesma profissional e, aparentemente, estava tudo certo. Às 18h daquele dia, voltamos para casa. A recomendação foi a mesma: ela tomou antibióticos, se alimentou com comidas líquidas. No dia 21, no feriado, relatou uma dor muito forte e, por isso, conversamos com a dentista, que pediu que a Isadora voltasse ao consultório para que os antibióticos fossem trocados. Fizemos isso, mas não melhorou”, explicou Ricardo.

Grasiela conta que a filha nunca havia reclamado tanto por sentir dores, o que acendeu um alerta. “Ela sempre foi muito forte e corajosa, desde pequena. Quando vi ela reclamando daquela forma, pensei em levar ao hospital, mas fui acalmada pela profissional. Ela afirmou que não precisaria e que dores e incômodos estavam dentro do previsto.”

Ricardo Albanese, Isadora Albanese e Grasiela Albanese: a jovem, de 19 anos, morreu após extração do siso — Foto: Acervo Pessoal
Ricardo Albanese, Isadora Albanese e Grasiela Albanese: a jovem, de 19 anos, morreu após extração do siso (Foto: Acervo Pessoal)

No mesmo dia, após vomitar os antibióticos, Isadora foi levada a um dos hospitais de Sorocaba, cidade em que a família mora. “Tentei dar um banho antes de levá-la ao hospital, mas ela já estava muito mole”, continuou Grasiela. Isadora foi atendida por um bucomaxilo, profissional que cuida de diversas patologias e condições relacionadas à região da face, do crânio, do pescoço, dos maxilares e da cavidade bucal.

“Na hora que ele olhou, notou que estava infeccionado. A Isadora precisaria operar e ficaria na UTI. Tomei um susto. Foi feito um procedimento para drenagem do pus e foi constatada a sepse, desencadeada pela inflamação. Ela teve duas paradas cardíacas, e morreu. A causa da morte foi dada como choque séptico refratário e disfunção múltipla dos órgãos, tudo causado pela infecção após a extração dos sisos”, falou Ricardo, que reiterou que a filha não tinha comorbidades e o dente não estava inflamado antes do procedimento.

Em seus desabafos, inclusive na internet, a família faz questão de não culpar a profissional. “A hora da minha fifi chegou. Não culpo a dentista e nem o hospital, mas acredito que melhorias tanto de um como de outro amenizariam o sofrimento dela. Ela teria falecido, mas sem tanta dor”, escreveu a mãe de Isadora em um de seus posts.

“Vieram até mim dizendo que esse tipo de caso é muito raro. É a hora que você se pergunta: por qual motivo aconteceu conosco, então? Mas fazendo uma busca rápida, me deparei com outros casos, sendo dois deles de maior repercussão. É difícil de processar. Você leva a sua filha para tirar os sisos, depois vai ao hospital, e volta sem ela”, comentou Ricardo, abalado.

Isadora sentiu dores muito fortes após cirurgia do siso (Foto: Acervo Pessoal)

“Nos sentimos sozinhos”

A dor se transformou em força quando Grasiela encontrou mães que passaram pelo mesmo. “Não quero que nenhuma outra mãe chore pelo motivo que estou chorando, é importante que a maioria saiba que complicações e até óbitos acontecem (…). Muitos dentistas, conhecidos da família, começaram a perguntar sobre a Isa. Notamos que cada um dava uma recomendação diferente, cada um age de um jeito. A ideia da petição surgiu a partir dessa pesquisa. Sempre gosto de dizer que não estamos batendo o martelo no que é certo ou errado dentro de uma cirurgia de extração do siso, estamos apenas pedindo um protocolo registrado em normativa para que todos os profissionais, independente do local em que formaram, sigam as mesmas recomendações seguras. Hoje, existe um protocolo para pessoas com comorbidades, mas é preciso estender isso”, alega Grasiela.

petição, que atingiu 10 mil assinaturas rapidamente, conseguiu ser protocolada no Conselho Federal de Brasília (CFO). De acordo com o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), em nota enviada para Marie Claire nesta quarta (12): “O CROSP tem ciência do abaixo-assinado e se solidariza com a família, que inclusive foi recebida no Conselho. O Conselho reforça que todos os protocolos da Odontologia são fundamentados na Ciência, preconizados na literatura odontológica e utilizados nos cursos de graduação, pós-graduação e especialização da Odontologia. Dito isso, o CROSP não tem, em suas atribuições, determinadas pela Lei 4118/64, a função de criar protocolos para procedimentos odontológicos.”

“Ressaltamos, contudo, que por intermédio de denúncias, representações e constatações realizadas pela Fiscalização, o CROSP apura infrações à Lei Federal nº 5.081/66, que regula o exercício da Odontologia em território nacional, ao Código de Ética Odontológica, instituído pela Resolução CFO-118/2012, às Leis que regulamentam as categorias profissionais odontológicas e às demais normas regulamentadoras do Conselho Federal de Odontologia e às normas pertinentes. O CROSP, ao receber denúncias, adota providências para a devida e regular apuração dos fatos, notificando o responsável técnico e demais profissionais envolvidos, para fins de esclarecimentos. Neste caso, com a repercussão na imprensa, o CROSP está em busca de informações que possibilitem a identificação do profissional, visto que a família não protocolou denúncia no Conselho. A partir dessa identificação, e mesmo sem denúncia formal, o CROSP acionará a Comissão de Ética e a Fiscalização para o devido acompanhamento do caso”, finaliza a nota.

O primeiro sentimento após a morte da filha, Isadora, foi solidão. “Nos sentimos azarados, sozinhos. Quando descobrimos que outras pessoas passaram pelo mesmo, foi uma libertação. É como se cada um sentisse a falta de sorte quieto, no seu canto. De repente, nos unimos. Se fosse por mim, teria apenas dito ‘Deus quis assim, parece impossível, mas ele permitiu que nossa filha partisse’, mas a minha mulher começou a contar a história”, fala Ricardo.

Para a família, a visibilidade que a internet trouxe ao caso já os fazem sentir vitoriosos. “O nosso objetivo foi alcançado. Alertamos para milhões de pessoas sobre o procedimento e o cuidado que se deve ter. Não queremos assustar, só informar. Se a petição vai gerar resultados ou não, é algo que não sabemos. Entendemos que é muito burocrático, mas fizemos o que julgamos necessário. Esse foi nosso objetivo, e deu certo”, finalizou Grasiela.

Fonte: Marie Claire

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