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A área atingida pelo fogo no primeiro semestre deste ano no Brasil foi de 4,4 milhões de hectares, um território equivalente ao de países europeus como Holanda e Suíça. É o que revelam dados da rede MapBiomas divulgados nesta sexta-feira (12). Os incêndios florestais consumiram na primeira metade de 2024 pouco mais que o dobro (+119%) do terreno queimado no mesmo período do ano anterior.
O Monitor do Fogo, plataforma gerenciada pelo coletivo de especialistas, faz o mapeamento mensal das áreas queimadas no Brasil desde 2019, produzidos a partir de imagens de satélites e processamento de dados com uso de inteligência artificial.
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Amazônia
Entre os biomas, a Amazônia registrou a maior área queimada, com 2,97 milhões de hectares, dois terços do total atingido pelo fogo no país. A área corresponde ao território da Bélgica. A região sofreu com uma seca severa no ano passado que manteve influência sobre a estação de chuvas, emendando em 2024 mais um período de baixa nos rios que preocupa autoridades e a população local.
Como resultado das queimadas no primeiro semestre de 2024, o Brasil teve o maior índice de emissões de CO2 causadas por incêndios florestais e queimadas nos últimos 20 anos, de acordo com o acompanhamento do observatório espacial europeu, Copernicus. Antes mesmo de se completarem os primeiros seis meses do ano, o país emitiu 81,8 milhões de toneladas de CO2 equivalente (t/CO2e), cerca de 22 megatoneladas de carbono, um padrão não registrado pelo sistema desde 2005.
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O estado de Roraima sozinho foi fonte de cerca de um quarto destas emissões. Segundo dados europeus, até o mês de maio as queimadas no estado haviam gerado 19,8 milhões de t/CO2e.
“No início de 2024, observamos uma concentração significativa de incêndios na Amazônia, especialmente nas áreas de vegetação campestre de Roraima. Este estado, diferentemente do restante do bioma, enfrenta um período de seca nos primeiros meses do ano. Esse fenômeno foi intensificado pelas condições climáticas mais secas resultantes do El Niño, criando um ambiente propício para o alastramento do fogo, com desafios adicionais de controle e mitigação”, afirma Felipe Martenexen, pesquisador do IPAM responsável pelo mapeamento da Amazônia no Monitor do Fogo.
Cerrado
O Cerrado foi o segundo bioma mais atingido pelas chamas, com 947 mil hectares queimados nos seis primeiros meses de 2024, área aproximada a 950 mil campos de futebol. Foram 307 mil hectares (48%) a mais na comparação com o mesmo período de 2023.
A maior parte do fogo ocorreu em áreas de vegetação natural (72%). Em junho, esse bioma foi o que mais registrou áreas queimadas, com 534 mil hectares.
Segundo levantamento do WWF-Brasil, a zona entre os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, região conhecida como Matopiba, concentrou cerca de 52% das queimadas detectadas no bioma.
Queimadas nos estados
De acordo com dados do MapBiomas, no primeiro semestre deste ano, os estados com mais áreas queimadas no país foram:
- Roraima – 2 milhões de hectares (44% do total no Brasil)
- Pará – 535 mil hectares
- Mato Grosso do Sul – 470 mil hectares
Juntas, as três unidades da federação concentram 67% do total da área afetada pelo fogo no semestre.
“Em junho, o fogo se concentrou mais no Cerrado e no Pantanal, regiões que enfrentam sua temporada de fogo devido à redução das chuvas e ao aumento das temperaturas. No Cerrado, é comum queimar mais durante esta época por causa da estiagem, porém a área queimada no primeiro semestre no bioma foi a maior dos últimos seis anos monitorados. Já no Pantanal, a temporada de fogo começou mais cedo do que o esperado, intensificando os desafios para a gestão”, explica Vera Arruda, pesquisadora no IPAM e coordenadora técnica do Monitor do Fogo.
Pantanal
No Pantanal, 468 mil campos de futebol queimaram no primeiro semestre deste ano, 370 mil hectares em junho, a maior área queimada no bioma no primeiro semestre já observada pelo Monitor do Fogo.
Uma das áreas mais afetadas pelo fogo no Pantanal em 2024 foi nas proximidades da cidade de Corumbá (MS), com 299 mil hectares queimados apenas em junho. O município, que compreende uma área que toma mais da metade do bioma, concentra mais de 80% dos incêndios monitorados pelo governo federal até agora nesta temporada, considerada a mais seca em 70 anos.
Nos seis primeiros meses do ano, a área queimada no bioma aumentou cinco vezes (529%). Foram 394 mil hectares a mais em comparação à média histórica dos cinco anos anteriores.
O Pantanal, proporcionalmente, foi também o bioma que mais secou ao longo dos últimos 39 anos. A superfície de água em 2023 foi de 382 mil hectares – 61% abaixo da média histórica.
O ano de 2023 foi 50% mais seco do que 2018, quando ocorreu a última grande cheia no bioma. Em 2024, o Pantanal não teve período de cheia, fenômeno crucial para o sistema e a sobrevivência de fauna, flora e populações dependentes das águas da região, afirma estudo divulgado pelo WWF-Brasil. Especialistas alertam para a possibilidade de exceder-se um “ponto de não retorno”, o que pode significar um colapso do bioma.
Mata Atlântica, Pampa e Caatinga
Na Mata Atlântica, 73 mil hectares foram queimados entre janeiro e junho de 2024, a maior parte (71%) concentrada em áreas agropecuárias. No Pampa, nesse mesmo período, a área queimada foi de 1.145 hectares, figurando entre as menores observadas nos últimos seis anos, aponta o relatório do MapBiomas.
“Normalmente, o Pampa apresenta pouca extensão de áreas queimadas, que ficam ainda mais reduzidas em períodos de El Niño, fenômeno climático que no sul do Brasil se manifesta de modo inverso, resultando em aumento das chuvas”, destaca o documento. Na Caatinga, queimaram cerca de 16 mil campos de futebol (16.229 hectares) nos seis primeiros meses do ano, um aumento de 54% em relação ao mesmo período de 2023.
Fonte: Um Só Planeta – Foto: Um Só Planeta