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A violência da temporada de incêndios florestais de 2024, que cobriu o céu do país de fumaça, fez com que o ano passado ficasse 62% acima da média histórica do Brasil, afirma o Relatório Anual do Fogo publicado pelo coletivo científico MapBiomas nesta terça-feira (24). A Amazônia teve seu pior registro em 40 anos, com 15,6 milhões de hectares (Mha) consumidos pelas chamas, quase a área de um país como o Uruguai.
No ano passado, o Brasil teve 30 Mha queimados. A marca é a segunda maior registrada desde 1985, quando iniciaram os monitoramentos via satélite de incêndios florestais no país, superada apenas pela temporada de 2007.
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No entanto, 2024 chamou a atenção pela maneira como a mudança climática vem causando secas que estão corroendo florestas até então preservadas do Brasil. No ano passado, 72,2% de todo o território queimado era formado por vegetação nativa, sendo que a formação florestal foi a classe que mais queimou, com 7,7 Mha, quase quatro vezes (+287%) acima da média histórica, aponta o levantamento.
“Em 2007 a maior parte da área queimada concentrou-se no Cerrado (58%) e na Amazônia (36%), em um contexto de forte seca impulsionada pelo El Niño. Já em 2024, o perfil se inverteu: a Amazônia passou a liderar com 52% da área queimada, seguida do Cerrado (35%), Pantanal (7%), Mata Atlântica (4%), Caatinga (1%) e Pampa (0,03%). Os vetores permanecem majoritariamente antrópicos [de ação humana]– como o uso do fogo para abertura de áreas, grilagem, manejo de pastagens e incêndios criminosos –, mas os impactos se intensificaram diante de condições climáticas cada vez mais extremas, com efeitos particularmente graves sobre as florestas da Amazônia”, observa Vera Arruda, pesquisadora do IPAM (Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia) e coordenadora do MapBiomas Fogo.
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A Amazônia sofre nos últimos anos com baixas severas nos rios na estação seca, seguida de retomadas que não chegam a estabilizar a floresta. Assim, a vegetação seca fica vulnerável às chamas de incêndios causados pela ação humana, seja para desmatamento intencional ou limpeza de pastagens que saem do controle, analisam especialistas responsáveis pelo estudo.
Um reflexo mostrado nos dados do MapBiomas está no tamanho das cicatrizes de fogo do ano passado, que colocam o Brasil na era dos megaincêndios. Mais da metade dos registros indicam uma área afetada maior de 10 mil hectares, sendo que quase um terço (29%) dos eventos de 2024 superou 100 mil hectares de área queimada, afirma o relatório.

Incêndios florestais no Brasil em 2024:
- Total: 30.034.749 ha
- Vegetação nativa: 21.835.262 ha
- Florestas: 7.773.123 ha
- Florestas na Amazônia: 6.731.767 ha
Dados como este ajudam a demonstrar a fragilidade de florestas não habituadas ao fogo, e que, atingidas pela seca, se tornam um verdadeiro palheiro, que permite que apenas um foco de incêndio possa se espalhar por áreas imensas. Em 2024, este foi o caso observado na Amazônia e no Pantanal, que teve sua última grande cheia em 2018.
No início do mês, o secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco, atribuiu o aumento do desmatamento na Amazônia em maio ao que classificou como uma situação “dramática” provocada pelo agravamento de incêndios florestais.
A proporção de floresta incendiada no desmatamento era de 6,6% em média nos meses de maio no período de 2016 a 2022, afirmou Capobianco, e chegou a 32% em maio de 2023, 21% em maio de 2024 e ao recorde de 51% em maio de 2025.
Megaincêndios no Pantanal
Entre os seis biomas brasileiros, o Pantanal foi o mais afetado pelo fogo nos últimos 40 anos, proporcionalmente: 62% do bioma já foi atingido por incêndios ao menos uma vez desde 1985, aponta o relatório. Nesta região do país ocorrem um quinto dos megaincêndios que ultrapassam 100 mil ha. Cerca de 93% do fogo se concentra em vegetação nativa, muito devido à queima da matéria orgânica no leito de rios secos, os chamados corixos.
Eduardo Rosa, coordenador de mapeamento no Pantanal, ressalta que isso não exime a atividade agropecuária de impacto nos incêndios, uma vez que muitas pastagens naturais do bioma são usadas para gado, e portanto sujeitas a incêndios para renovação do pasto que podem sair do controle.
Estados com maior área queimada (acumulado 1985-2024)
- Mato Grosso: 44.981.584 ha
- Pará: 31.251.958 ha
- Maranhão: 20.422.849 ha
- Tocantins: 19.394.209 ha
- Bahia: 12.485.234 ha
No caso da Mata Atlântica, o ano de 2024 representou um recorde. Os 1,2 Mha afetados pelo fogo no ano passado ficaram 261% acima da média histórica para o bioma, de 338,4 mil hectares por ano. Foi a maior extensão de área queimada em um único ano desde 1985, afirma o MapBiomas.
São Paulo concentrou 4 dos 10 municípios com maior proporção de área queimada no Brasil, todos no entorno do município de Ribeirão Preto, uma região predominantemente agrícola. A maior parte (60%) das cicatrizes mapeadas ocorreu em área de interferência humana, sendo a pastagem a classe com maior ocorrência (3,9 milhões de hectares).
Municípios com maior área queimada (acumulado 1985-2024)
- Corumbá (MS) – Pantanal: 3.841.661 ha
- São Félix do Xingu (PA) – Amazônia: 3.135.355 ha
- Altamira (PA) – Amazônia: 1.539.714 ha
- Cumaru do Norte (PA) – Amazônia: 1.390.812 ha
- Formosa do Rio Preto (BA) – Cerrado: 1.388.520 ha
No Cerrado, a área queimada, de 10,6 milhões de hectares em 2024, equivale a 35% do total queimado no país no ano passado e representa um crescimento de 10% em relação à média histórica de 9,6 milhões de hectares por ano. O bioma já teve 45% de seu território atingido pelo fogo ao menos uma vez desde 1985.
Juntos, Cerrado e Amazônia responderam por 86% da área queimada pelo menos uma vez no Brasil entre 1985 e 2024: foram 89,5 milhões de hectares e 87,5 milhões de hectares, respectivamente. Caatinga e Pampa tiveram áreas queimadas abaixo da média anual em 2024.
Fonte: Um Só Planeta