Anúncios
“Gabriel e a Montanha”, de Fellipe Barbosa (Foto: Divulgação)
O cineasta brasileiro Fellipe Barbosa levou a Cannes neste domingo o filme com o qual homenageia seu amigo de infância Gabriel Buchmann – que morreu em 2009 ao tentar escalar o Monte Mulanje, no Malawi, na Africa, dispensando um guia local – e que narra os últimos dias do fatídico ano sabático do economista, que tinha 28 anos.
“Gabriel e a Montanha”, projetado na Semana da Crítica da 70ª edição do prestigiado festival, conta a passagem do economista por Quênia, Tanzânia, Zâmbia e Malawi, onde tentou chegar ao pico mais alto do país, com mais de 3 mil metros de altitude.
Anúncios
A história em si, como o diretor contou à Agência Efe em Cannes, tinha “muitos mistérios”. “Como desapareceu, por que estava sozinho, por que dispensou seu guia. Essas perguntas eram muito cinematográficas. E, depois, havia algo também sobre a alegria de viver, a busca da pureza. Era alguém que queria engolir o mundo”, afirmou.
O corpo de Gabriel foi encontrado 19 dias após seu desaparecimento, e é o ponto de partida do longa de Barbosa, que levou à grande tela algumas das pessoas com as quais o amigo se relacionou na vida real.
Anúncios
A mãe e a irmã do jovem economista, assim como amigos comuns com o diretor, estiveram hoje na projeção em Cannes, desafio que este último disse considerar “um sonho”.
A família de Gabriel, acrescentou Barbosa, lhe proporcionou material pessoal, e pessoas que ele conheceu lhe relataram os encontros que tiveram, com os quais o cineasta terminou de montar o quebra-cabeça.
“Tentei me ajustar o máximo possível à verdade, o que não significa que não tenha sintetizado muitas coisas em alguma cena. É uma interpretação da verdade, a verdade de cada um que me deu o seu ponto de vista, e quis ser muito fiel ao que me contaram, ainda que às vezes houvesse contradições”, disse.
O filme é também uma crítica velada a todos os estrangeiros com um sentimento de superioridade em países pobres, que apesar das advertências assumem riscos desnecessários sem conhecer o local.
“Pode ser que haja certo aspecto colonialista, mas não é o mesmo que em um europeu. Gabriel não se passa por um ‘muzungu’ (homem branco), e não me parece ridículo. Tem parte de verdade, porque ainda que fosse branco de pele, não acredito que seja normal para muitos viajar assim, de uma forma tão pobre como ele fez”, contou.
As gravações duraram 70 dias e foram feitas também nos quatro países pelos quais Gabriel passou nesse último trecho da viagem, em que esteve acompanhado em parte pela namorada, que ajudou o cineasta no relato dos acontecimentos.
Este filme é o quinto de Barbosa na direção, após “Casa Grande” (2014), o documentário “Laura” (2011) e os curtas “Beijo de Sal” (2007) e “La Muerte es Pequeña” (2005).
“Não faço os filmes para mim, mas tampouco só para os outros. É uma combinação. Ao escrever o roteiro, sempre tento pensar no que as pessoas vão sentir. O filtro é tentar sentí-lo, ainda que às vezes, quando se trabalha sete meses na montagem, seja difícil”, comentou.
Atualmente, ele está focado em “City of Alex”, o primeiro filme em inglês de sua carreira, coproduzido com Estados Unidos e Alemanha, e em outro projeto menor, que será desenvolvido no Brasil.
“O sistema público (brasileiro) de financiamento funciona muito bem na atualidade. Houve uma grande renovação do cinema brasileiro nos últimos 15 anos”, opinou Barbosa, que apresentou pela primeira vez um dos seus filmes em Cannes.
Fonte: Yahoo!