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O artefato utilizado para assassinar o ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe parece ter sido uma arma de fogo artesanal e improvisada.
Registros do assassinato mostram um dispositivo de cerca de 40 centímetros de comprimento no chão após o ataque, com dois tubos colados lado a lado com fita isolante preta sobre uma base de madeira, com um cabo. O artefato se parece com um revólver de cano duplo rudimentar.
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Não se sabe qual tipo de munição foi usada no ataque que matou Abe. Nos registros em vídeo, dois tiros podem ser ouvidos, com aproximadamente dois segundos e meio de intervalo.
De acordo com o jornal Kyodo News, que tinha um repórter no local, a arma fez um barulho que poderia ser comparado a uma explosão, e uma fumaça branca subiu no ar depois dos disparos.
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Há a possibilidade de que os canos estivessem carregados com cartuchos como os utilizados por caçadores amadores. Esse tipo de munição, em geral usada para caçar animais pequenos , geralmente contém algum tipo de explosivo propulsor, como pólvora, e vários projéteis esféricos sólidos, chamados de bagos, ou então um único projétil maior, chamado de balote.
Quando disparados, os bagos se espalham de acordo com um padrão cônico que se expande com a distância. Já os balotes seguem um caminho balístico simples, como um projétil disparado de uma espingarda ou de uma pistola.
A quantidade de fumaça vista nos vídeos do ataque, no entanto, não é característica de munição moderna comprada comercialmente, o que sugere que a substância explosiva e a munição também podem ter sido improvisados. Testemunhas relataram ter sentido cheiro de pólvora.
O Japão tem regulamentações excepcionalmente rígidas que proíbem cidadão comuns de adquirirem armas de fogo de fabricação industrial. A posse civil de armas de fogo, exceto aquelas usadas para fins de caça, é geralmente proibida de acordo com a Lei de Controle de Armas de Fogo e Espadas do país.
Mesmo para armas de caça, o processo de obtenção de uma licença é demorado e caro, e poucas pessoas passam pelo incômodo.
Uma pessoa deve passar 12 etapas antes de comprar uma arma de fogo, começando com uma aula de segurança de armas e depois passando em um exame escrito administrado três vezes por ano. Um médico também precisa aprovar a saúde física e mental do comprador da arma. Outras etapas incluem uma extensa verificação de antecedentes e uma inspeção policial do cofre de armas e do armário de munições exigidos para armazenar as armas de fogo e as munições.
“As licenças para posse de armas de fogo são emitidas para armas específicas para determinadas aplicações, como caça ou erradicação de pássaros ou animais nocivos”, diz a lei.
Cidadãos japoneses com antecedentes criminais ou viciados em narcóticos estão proibidos de possuírem armas de fogo. Também é totalmente proibido carregá-las escondidas.
Qualquer forma de violência é incomum no Japão, mas a violência com armas de fogo é quase inexistente. Houve apenas uma morte relacionada a armas de fogo em todo o ano de 2021. Desde 2017, houve 14 mortes relacionadas a armas, um número consideravelmente baixo para um país de 125 milhões de pessoas.
O tiroteio foi ainda mais chocante porque, antes de sexta-feira, até a ideia de um assassinato político parecia uma relíquia de uma era distante. A política japonesa é notoriamente pacata, e até mesmo os grupos de extrema direita que rondam regularmente as ruas de cidades em vans pretas fazendo propaganda política são vistos mais como um incômodo do que uma ameaça à segurança pública.
Em vistas disso, a segurança em eventos políticos é leve, e, durante campanhas eleitorais, os eleitores têm muitas oportunidades de interagir com os principais líderes do país.
Ao contrário dos Estados Unidos — e, mais recentemente, do Brasil —, onde os direitos de ter armas são um tema de constante debate, as armas de fogo raramente são discutidas nos círculos políticos japoneses. Assassinatos em massa, nos raros casos em que ocorrem, geralmente não envolvem armas de fogo. Em vez disso, os agressores recorrem a incêndios criminosos ou a esfaqueamentos.
Nas últimas semanas, a mídia japonesa cobriu a recente onda de tiroteios em massa nos Estados Unidos com uma mistura de descrença e confusão. Após o tiroteio na escola em Uvalde, Texas, o Asahi Shimbun, o segundo maior jornal do Japão em circulação, publicou um editorial chamando os Estados Unidos de “uma sociedade de armas”, e disse que mais uma tragédia havia transformado uma sala de aula em uma “zona de massacre”.
Fonte: G1