25 abril, 2024

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Grandes hospitais paulistas receitam cloroquina para pacientes graves, mas evitam uso em casos leves, incluindo o HC de Botucatu

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Entre grandes hospitais públicos e privados de São Paulo, a maioria receita a cloroquina para pacientes graves de coronavírus, mas não prescreve o uso do remédio para casos leves. Na semana passada, o Conselho Federal de Medicina (CFM) liberou a prescrição do remédio para pacientes críticos ou não, mas ainda não há pesquisas que comprovem a eficácia do medicamento contra a covid-19.

De dez hospitais públicos e privados paulistas ouvidos pelo Estado, oito receitam a cloroquina para casos graves – um deles indica também para os leves. Só dois recomendam que seus médicos não prescrevam cloroquina ou hidroxicloroquina a pacientes com coronavírus, por causa da falta de estudos conclusivos. Duas das unidades relatam ter observado resultados positivos do remédio, que já é usado há décadas contra malária e lúpus. O governo, o CFM e os especialistas destacam que não pode haver uso preventivo.

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O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, vinculado à Unesp, informou que faz uso da cloroquina apenas em situações especiais, como uso compassivo, e em ensaios clínicos. O hospital é referência para casos graves de coronavírus em uma região com dois milhões de habitantes.

De acordo com o infectologista Alexandre Naime Barbosa, a posição do CFM é de que o médico pode prescrever se achar que terá benefício no uso compassivo, quando não há muito a se fazer, se a família ou o paciente concordar. “Cada médico deve decidir isso de acordo com a gravidade do caso, mas o uso não pode ser feito prioritariamente fora do ambiente de ensaio clínico.”

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O HC da Unesp de Botucatu participa de pesquisas da Covid Brasil com a hidroxicloroquina, aplicada em três níveis de tratamento dos pacientes com coronavírus – ambulatório, enfermaria e internados em UTI. “Os resultados ainda não são definitivos, pois não temos o número suficiente de pacientes tratados para uma conclusão. Fora que é um estudo multicêntrico, não é só nosso, e será juntado com o resultado do Brasil todo. Assim que tivermos o resultado de 150 pacientes em nível nacional é que os resultados do medicamento na covid-19 serão avaliados”, disse Barbosa.

O Hospital Israelita Albert Einstein informou que administra a hidroxicloroquina apenas para pacientes graves, no chamado uso compassivo. O Einstein coordena o estudo da coalizão Covid Brasil, composta por 70 hospitais públicos e privados e várias organizações, entre elas a Rede Brasileira de Pesquisa em UTI (BricNet), para testar a eficácia do medicamento contra a doença. No hospital, pacientes com quadro grave podem receber a hidroxicloroquina isolada ou em associação com azitromicina (antibiótico).

O Sirio-Libanês, que também faz parte do estudo, disse que a decisão de administrar ou não o medicamento cabe às equipes médicas. “O uso não é proibido, mas também não é recomendado. O uso do remédio, quando feito, requer cautela, pois pode apresentar em alguns pacientes toxicidades importantes, cardíacas e hepáticas, com potencial de mortalidade”, informou. Segundo o Sirio, não foi possível avaliar os efeitos do medicamento, pois os estudos ainda estão em andamento.

O Hospital 9 de Julho, outra instituição privada, informou que até agora não há evidências científicas de que a hidroxicloroquina seja eficaz no tratamento do coronavírus, apesar de estudos iniciais apresentarem bons resultados. “Por isso, seguimos a recomendação do Ministério da Saúde de utilização do medicamento apenas em casos graves ou críticos”, disse, em nota.

Já a rede Prevent Senior diz usar a hidroxicloroquina em pacientes graves e também no início do tratamento, conforme critério médico e as normas do CFM, segundo informou. A operadora de saúde chegou a divulgar um estudo preliminar sobre a eficácia da hidroxicloroquina, em associação com a azitromicina, em pacientes com covid-19, em que os médicos relataram resultados satisfatórios. Mas após poucos dias, o estudo, que envolveu uso do medicamento até em pacientes sem diagnóstico confirmado de covid, foi suspenso pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) por ter sido iniciado antes de aval do órgão, além da suspeita de outras irregularidades.

O Hospital das Clínicas de São Paulo, maior complexo hospitalar da América Latina, informou seguir o protocolo do Ministério da Saúde, “mas o uso da cloroquina não é uma recomendação institucional”. Consultado, o Hospital Emílio Ribas, referência nacional em doenças infectocontagiosas, não deu retorno, mas a reportagem apurou que os médicos prescrevem a hidroxicloroquina a pacientes em estado grave.

O Hospital de Base de Rio Preto, referência para 102 municípios do interior, não utiliza a cloroquina fora do contexto de pesquisa clínica, nem para pacientes graves. “A decisão foi tomada após avaliação criteriosa dos médicos intensivistas da instituição diante da falta de orientação clara para seu uso e da inexistência de dados de literatura médica.”

A medida é extensiva ao Hospital da Criança e Maternidade, que integram o mesmo complexo hospital ligado à Faculdade de Medicina de Rio Preto. “Na hipótese de familiares e responsáveis pelo paciente aventarem a possibilidade de se ministrar a cloroquina, os médicos adotam como procedimento padrão esclarecer a eles sobre os possíveis eventos adversos oriundos do uso do medicamento, posicionando-se contra adotá-lo no tratamento do paciente.”

O Conjunto Hospitalar de Sorocaba, maior complexo de hospitais do sudoeste paulista, mantido pelo Estado com gestão do Serviço Social da Construção (Seconci), informou que o uso da cloroquina fica sujeito a critérios de cada médico, mas de acordo com os protocolos do ministério. A pasta indica o uso apenas em casos graves.

Hospital da Unicamp diz não recomendar remédio por falta de estudos conclusivos

O Hospital das Clínicas da Unicamp, em Campinas, referência para 6,5 milhões de habitantes em 86 cidades, orienta seus médicos a não prescreverem cloroquina. A unidade diz que, ouvindo especialistas na área, “corrobora as recomendações dos órgãos sanitários e da comunidade médico-científica mundial de que não há, até o momento, evidência científica suficiente baseada em ensaios clínicos com humanos sobre a eficácia desses medicamentos.”

Segundo a Unicamp, os estudos indicam que o uso da cloroquina é prematuro e potencialmente prejudicial por causa dos efeitos colaterais amplamente conhecidos pela comunidade médica. “No momento, a administração da cloroquina e seus derivados para a covid-19 deveria ocorrer apenas em ensaios clínicos controlados para pacientes internados, sob supervisão médica” diz a nota.

Estudo vai monitorar efeitos em centenas de pacientes

A pesquisa coalizão Covid Brasil sobre a eficácia da hidroxicloroquina foi dividida em três grupos. O primeiro envolve 630 pacientes com nível moderado da doença, sem sintomas graves, mas que se encontram internados em unidades semi-intensivas e UTI. O segundo grupo, formado por 440 pacientes com sintomas graves e na UTI, vai receber a hidroxicloroquina associada à azitromicina.

Já o terceiro grupo reúne 290 pacientes de extrema gravidade, com síndrome de angústia respiratória aguda. Nesse caso, será avaliado o uso de corticosteroides (terapia anti-inflamatória potente) na redução dos dias de ventilação mecânica e de mortalidade entre esses pacientes. Os três estudos serão simultâneos e a parte preparatória já foi concluída. A fase atual é de recrutamento dos pacientes.

O Ministério da Saúde estabeleceu diretrizes para diagnóstico e tratamento da covid-19, orientando o uso da cloroquina como opção para quadros graves (pacientes internados com pneumonia viral), ressalvando que o uso se restringe a casos confirmados, devendo ser feito conforme orientação médica e em conjunto com outras medidas de suporte. A pasta informou que monitora os estudos de eficácia e segurança da cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes com a doença e, em qualquer momento, poderá modificar sua orientação quando ao uso destes fármacos.

Pesquisas pelo mundo tiveram resultados diversos

Segundo Alessandro Silveira, coordenador de microbiologia clínica da Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM), a hidroxicloroquina foi modificada em laboratório para diminuir sua toxicidade – pode causar danos cardíacos e hepáticos – o que torna seu uso mais seguro e seu preço mais caro em relação à cloroquina.

Ele, também professor de Medicina, Farmácia e Biomedicina da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), em Santa Catarina, alguns estudos mostram que a cloroquina foi eficaz no tratamento da covid-19, enquanto outros demonstram que não houve diferença na melhora ou piora do paciente.

Fonte: Terra

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