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Documento divulgado nesta quinta-feira (27) pelo gabinete de transição do governo Jair Bolsonaro informa que, nos primeiros dez dias de gestão, os ministros deverão determinar as políticas prioritárias de cada área e fazer uma revisão dos atos dos últimos 60 dias do governo Michel Temer.
O documento, de 81 páginas, é assinado pelo presidente eleito, pelo futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e por Pablo Antonio Tatim, coordenador de Assuntos Jurídicos do Gabinete de Transição, indicado para Subchefe de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais.
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“Nos primeiros 10 dias, cada Ministério deverá elencar as políticas prioritárias dentro de sua área de atuação – incluindo a revisão de atos normativos legais ou infralegais publicados nos últimos 60 (sessenta) dias do mandato anterior, para avaliação de aderência aos compromissos da nova gestão”, diz o texto.
O documento é uma espécie de cartilha sobre a burocracia estatal e a estrutura do Executivo federal destinada aos integrantes do novo governo. Especifica desde princípios constitucionais, como conceitos de legalidade e impessoalidade, até orientações para nomeações de ocupantes de postos na administração federal, concessão de diárias e passagens e utilização de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB).
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Calendário do governo
O texto também apresenta uma previsão de calendário do novo governo para os próximos 100 dias:
- Em 10 dias – Nomeação de cargos-chave nos ministérios e autarquias, conhecer as estruturas dos ministérios, apresentar aos principais comissionados as linhas gerais, revisar e elaborar o plano de governo até 20 de janeiro, revisar os atos legais e infralegais anteriores e identificar a pauta prioritária dos 100 dias.
- Em 30 dias – Revisão do modelo de governança para adequação às linhas gerais do governo, definição de pautas legislativas (observar MPs que afetam a área e identificar propostas e emendas parlamentares relativas à pasta), elaboração das propostas prioritárias e identificação de decretos e regulamentos que devam ser revogados, verificação de acórdãos do TCU que afetem as pastas.
- Em 60 dias – Revisão dos conselhos e comitês relacionados à pasta e seu funcionamento (com verificação da possibilidade de extinção dos colegiados ou criação de estruturas mais enxutas), encaminhamento à Casa Civil das propostas prioritárias e preparação para balanço de 100 dias de governo.
- Em 90 dias – Encaminhamento do balanço de 100 dias e encaminhamento ao CMAS e ao CMAP as políticas públicas financiadas por subsídios que precisem ser avaliadas.
- Em 100 dias – Evento de divulgação do balanço dos 100 dias.
Recomendações
O manual também dá recomendações, por exemplo, sobre uso de veículos oficiais, imóveis funcionais e auxílio-moradia e lista os cargos-chave de cada ministério.
Em outro trecho da cartilha, há orientações da Comissão de Ética Pública da Presidência para autoridades, como vedação para aceitar presente dado por pessoa, empresa ou entidade que tenha interesse em decisão do gestor público ou do órgão que ele atua.
O manual destaca que súmula do Supremo Tribunal Federal proibiu o nepotismo na administração pública, vendando a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta até o terceiro grau.
Reunião ministerial
Os ministros indicados por Bolsonaro se reuniram nesta quinta na sede do governo de transição. Após a reunião, Onyx Lorenzoni afirmou, sem dar detalhes, que os futuros ministros apresentaram pelo menos duas propostas cada.
Segundo ele, essas propostas serão levadas a Bolsonaro neste final de semana. Caberá ao presidente eleito selecionar as que serão apresentadas como ações do próximo governo.
A intenção, informou Onyx Lorenzoni, é que sejam apresentadas ao menos 22 propostas prioritárias.
“As medidas que nós estamos identificando são aquelas que o governo vai apresentar à sociedade para construir um conjunto, no mínimo, de 22 propostas, que são as entregas que nós queremos fazer nos primeiros 100 dias [de governo]. Tanto que tem uma data [na agenda de governo] que é o balanço dos primeiros 100 dias, onde nós queremos mostrar todas as realizações que o governo fez”, afirmou Onyx.
Sem dar detalhes, Onyx afirmou que o próximo governo vai “promover logo nos primeiros movimentos” uma revogação de uma “série de instruções burocráticas que infernizam a vida de cada homem e mulher no Brasil”.
Entre as revisões que, segundo Onyx, serão feitas, estão reduções de subsídios. O futuro ministro, no entanto, não detalhou quais subsídios serão cortados.
“Com critério, os ministérios vão estudar com profundidade para iniciar lenta e gradualmente um processo de redução de subsídios”, declarou.
Sem quantificar, o futuro ministro da Casa Civil afirmou que os ministérios também vão analisar corte de cargos comissionados.
“Entre a administração direta, que são 23 mil cargos em comissão, e administração indireta, entre cargos em comissão e funções gratificadas, o Brasil tem 120 mil funções. Não há paralelo no mundo. Há uma determinação do presidente Bolsonaro no sentido de que, com critério e estudo, cada ministério [cortará cargos], ainda não está definido o volume dos cortes, mas não é razoável [o alto número de cargos em comissão]”, afirmou.
Onyx acrescentou que existem “inúmeros órgãos” no aparelho governamental com funções sobrepostas e que o futuro governo pretende acabar com “aquilo que é disfuncional” e “focar” na melhoria da qualidade da prestação de serviços.
Reforma da Previdência
Questionado sobre quando o governo apresentará uma proposta de reforma previdenciária, Onyx não estipulou um prazo.
“Está cada vez mais madura [a proposta]. Os grupos estão muito afinados. No momento certo, quando o presidente comandar, ela vai aparecer”, disse.
O indicado por Bolsonaro para a Secretaria de Governo, general Santos Cruz, também foi questionado sobre a reforma.
O futuro ministro disse que é uma pauta “importante” e que os detalhes ainda vão ser definidos.
Para Santos Cruz, a reforma da Previdência é uma “questão matemática” que precisa ser “resolvida”.
Silêncio sobre Queiroz
Além da reunião sobre ações prioritárias, os futuros ministros participaram nesta quinta, pela manhã, de um curso sobre administração pública e orçamento.
Segundo Onyx Lorenzoni, em nenhum dos dois momentos, os ministros conversaram sobre a entrevista ao SBT concedida por Fabrício Queiroz, ex-motorista do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
Ao ser questionado sobre o assunto, Onyx afirmou: “Eu não vou falar sobre isso, não me cabe falar sobre isso”.
O futuro ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, também evitou falar sobre a entrevista. Disse que não acompanhou, mas que este tema “não é um assunto de governo”.
“Qualquer pessoa pública tem que esclarecer aquilo que for duvidoso sem dúvida nenhuma. Isso é normal”, disse.
“Isso aí não é um assunto de governo, né? Apesar do sobrenome, por ser filho do presidente, sempre tem um reflexo. Mas não é um assunto de governo, é de um parlamentar. Pela relação de parentesco, você pode ter uma consequência qualquer. Mas tem que separar as coisas”, completou Santos Cruz.
Em entrevista ao SBT, Fabrício Queiroz afirmou que parte dos recursos veio da compra e venda de veículos. Ele também disse ser um “cara de negócios”.
Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostrou que o ex-motorista movimentou R$ 1,2 milhão em uma conta bancária durante um ano. As operações foram consideradas atípicas pelo órgão.
Fonte: G1