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Em fevereiro, os polos do planeta alcançaram conjuntamente a menor extensão de gelo marinho já registrada, divulgou a agência espacial europeia, Copernicus, nesta quinta-feira (6). O dado se refere à soma conjunta de área de mar congelada para Ártico e Antártida, que são as porções destes continentes mais sujeitas ao degelo e expostas aos efeitos do aquecimento global.
A agência não divulgou o valor exato da extensão de gelo. O recorde anterior, de fevereiro de 2023, foi de 16,6 milhões de km² (quilômetros quadrados), segundo dados do Copernicus. Este ano, a rede britânica BBC divulgou no último dia 14 que as extensões de gelo marinho unidas chegaram a 15,76 milhões de km², de acordo com dados dos Estados Unidos.
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Fevereiro é naturalmente o mês em que a retração de gelo marinho somada no planeta costuma atingir seu ápice. Este ano, porém, o degelo teve o maior impacto já registrado desde 1978 no monitoramento europeu, que utiliza bilhões de medições a partir de satélites, navios, aeronaves e estações meteorológicas ao redor do mundo.
Apesar do relativo “alívio” nas temperaturas, o planeta viveu em 2025 seu 3º fevereiro mais quente já registrado. Segundo a agência europeia, foi o 19º mês nos últimos vinte em que a Terra se mantém com média de calor ao menos 1,5ºC acima dos registros do século 19, o chamado período pré-industrial (1850-1900), era anterior à queima massiva de combustíveis fósseis nas atividades econômicas da sociedade.
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Por que essa retração se o calor não foi recorde?
A resposta, segundo a professora Regina Rodrigues, pesquisadora de mudança climática na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e colaboradora do coletivo científico WWA (World Weather Attribution), está na temperatura da água do mar.
Se fevereiro não foi um recorde absoluto de calor em terra, nos oceanos a temperatura média da superfície do mar para o mês foi de 20,88°C, o segundo maior valor registrado para o período, apenas 0,18°C abaixo do recorde de fevereiro de 2024.
“As temperaturas médias da superfície do mar permaneceram anormalmente altas em muitas bacias oceânicas e mares, embora a extensão dessas regiões tenha diminuído em comparação a janeiro, especialmente no Oceano Antártico e no Atlântico Sul. Alguns mares, como o Golfo do México e o Mar Mediterrâneo, ao contrário, tiveram áreas recordes maiores do que no mês passado”, observou o Copernicus.
Outro ponto que a professora observou em conversa com Um Só Planeta é a consistência com que as temperaturas vêm se mantendo acima da média mês a mês.
“São dois fatores: primeiro o acumulado, do gelo que já está menor e mais fácil de derreter. Um inverno mais quente que o normal cria um gelo marinho em camadas mais finas. Outro fator é a água do mar. Uma atmosfera fria, que resfrie a superfície do mar e forme o gelo, é importante. Mas com uma água mais quente e invernos mais amenos, é uma combinação que forma essa paisagem que estamos vendo”, afirma Regina Rodrigues, pesquisadora de mudança climática na UFSC e colaboradora do WWA
Os dados de Ártico e Antártida para fevereiro
- O gelo marinho do Ártico atingiu sua menor extensão mensal para fevereiro, 8% abaixo da média (que oscila entre 14,4 milhões de km² e 15 milhões de km²).
- Isso marca o terceiro mês consecutivo em que a extensão do gelo marinho estabeleceu um recorde para cada mês correspondente, notam os pesquisadores.
- No Ártico, a extensão mínima de gelo ocorre normalmente entre setembro e outubro, sob influência do verão no Hemisfério Norte.
- O gelo marinho antártico atingiu sua quarta menor extensão mensal em fevereiro, 26% abaixo da média (que fica em torno de 3 milhões de km²).
- Somadas, as retrações de ambos os polos estabeleceram o recorde divulgado pela agência europeia.
“Fevereiro de 2025 continua a sequência de temperaturas recordes ou quase recordes observadas ao longo dos últimos dois anos. Uma das consequências de um mundo mais quente é o derretimento do gelo marinho, e a cobertura de gelo recorde ou quase recorde em ambos os polos empurrou a cobertura global de gelo marinho para um mínimo histórico”, analisa Samantha Burgess, chefe de estratégia para o clima do ECMWF (Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio-Prazo, na sigla em inglês), que integra o Copernicus.
Mundo segue acima da barreira de 1,5°C
Fevereiro de 2025 foi o terceiro fevereiro mais quente globalmente, com uma temperatura média do ar na superfície de 13,36°C, valor que se coloca 0,63 °C acima da média do período 1991-2020 para o mês.
Em comparação à média estimada do período pré-industrial, usada para definir o nível de aquecimento global hoje, o mês passado foi o 19º mês nos últimos 20 meses com temperatura média global do ar na superfície excedendo 1,5 °C acima da média da era 1850-1900.
Nos últimos 12 meses, de março de 2024 a fevereiro de 2025, o mundo esteve 0,71°C acima da média de 1991-2020 e 1,59°C acima do nível pré-industrial, apontam os dados europeus.
O ano de 2025 começou com o janeiro mais quente já registrado pelo Copernicus, ficando 1,75°C acima da era pré-industrial. Cientistas revelaram surpresa com a pouca influência do fenômeno La Niña em curso, que geralmente contribui para arrefecer o calor no planeta ao resfriar as águas do Pacífico Equatorial.
Fonte: Um Só Planeta