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O brasileiro Dennis Cosmo Marin, que morreu nas proximidades de Ushuaia, na Argentina, após um bloco de gelo se romper do teto de uma caverna e atingir seu corpo, relatava com frequência nas redes sociais como sua gata de estimação Lince, de 10 anos e nascida em Sorocaba, interior paulista, era uma “companheira única” de viagem e tinha a Kombi como sua casa.
Segundo a reportagem apurou, após o acidente, Lince ficou com uma amiga de Dennis na Argentina e deve ser encaminhada para a família do paulistano.
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O publicitário paulistano tinha 37 anos e morreu em uma área de acesso proibido conhecida como “Cueva de Jimbo”, ou Caverna de Gelo, dentro do Parque Nacional da Tierra del Fuego, na quarta-feira (2).
Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra o momento em que o grupo que ele estava avançou para o interior da caverna, onde havia uma placa “Alerta. Não entre.” (Veja abaixo).
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#CerroCuevadeJimbo #Ushuaia
— Angel Fretes (@angelfretestdf) November 3, 2022
Desprendimiento de placas de hielo sobre un turista brasileño, quitandole la vida. pic.twitter.com/dfWNLjEeUn
Desde outubro de 2018, Dennis e Lince estavam viajando de Kombi pela América do Sul, o que chamava atenção dos internautas pelo animal ter “espírito aventureiro” e se adaptar facilmente nos novos lugares.
O brasileiro tinha um perfil no Instagram chamado ‘Ô de Kombi’, onde se apresentava como contador de “stories” e mensageiro “natural de coisas naturais”. Além disso, dizia que estava “em busca de autonomia”.
Quatro meses após iniciar a jornada pelas estradas, Dennis compartilhou que a gata tinha a Kombi como casa muito antes dele de começarem a viajar. No relato, ele ainda revela que o portão da ‘casa’ passou a ser a porta traseira do veículo.
“Nascida em Sorocaba, aos 6 anos embarcou em uma grande aventura de kombi. Antes disso, o costume de Lince era dormir quase o dia todo, comer um montão, tomar um solzinho logo cedo e no meio da madrugada espiar o movimento da rua por debaixo do portão, sentindo os cheiros e atenta aos barulhos orquestrados por gatos, ratos e cães na madrugada. Desde o dia que estacionamos a kombi pela primeira vez, antes das reformas, a Lince já entrava nela e dormia em todos os cantos, além de subir no teto”, contou.
“Com 4 meses de estrada, seu portão passou a ser a porta traseira da kombi, que vira e mexe está aberta durante as noites. Dali ela observa o movimento noturno de diversos lugares por onde estamos passando. Entre galinhas, pintinhos, lagartos, gatos, cachorros, banhos de rio, essa gata só nos surpreende entre nossas chegadas e partidas. Na Kombi, assim que damos a partida para pegar a estrada, ela vem pulando e se acomoda na almofadinha que fica no banco da frente”.
Dennis também costumava compartilhar como fazia para que Lince se adaptasse nos novos lugares.
“Se chegamos de noite, só a soltamos no dia seguinte, para devagarinho ela ir se ambientando e sentirmos qual é o movimento por ali. Quando ela sai, uma das primeiras coisas que faz é rolar no chão. Achamos que é para camuflar o próprio cheiro. Sai sempre a procura de um piso gelado pra enredar aquela soneca. Gostamos de deixá-la solta, mas nem sempre rola, por conta de outros bichos”.
“Sempre que chegamos onde vamos ficar, ela percebe um pouco antes, já apoia suas patinhas no vidro da janela e coloca a cabeça para fora observando com ares de novidade e balançando o rabinho caramelo”.
Guadalupe Rausch Tomazzoli é terapeuta comportamental de gatos e conheceu Dennis e Lince no período que ficaram em São Francisco de Paula (RS). Ela contou que chamava atenção a maneira como o paulistano adaptou Lince para o novo estilo de vida.
“Eles moravam em apartamento, e para o processo de adaptação, primeiro adaptou ela para a Kombi. Deixava a Kombi aberta para ela entrar e se acostumar. No início foi mais difícil, até entender as necessidades mais específicas da Lince e adaptar a Kombi e a viagem ao ritmo dela. Logo, a Kombi é a referência de casa que a Lince tem, com o cheiro dela”.
Guadalupe ainda informou que, após a morte de Dennis, a pessoa que está com a gata contou que a polícia levou a Kombi para perícia com todos os objetos do animal.
“Só deixou ela pegar a ração. Fiquei triste com isso, que não puderam pegar as coisas dela com o cheiro dela. Ela [Lince] perdeu seu tutor, sua casa e suas coisas de referência. Para os gatos ter as coisas e espaços com seu cheiro é segurança”, afirmou.
Argentina
Dennis passou por cidades do estado do Rio de Janeiro, da região sul do Brasil, Guiana Francesa, Suriname e Uruguai. Na última semana, ele chegou a compartilhar vídeos e fotos do Ushuaia, inclusive de caminhadas feitas já na Tierra del Fuego.
Em nota, o Itamaraty afirmou que o Ministério das Relações Exteriores, por meio “do Consulado-Geral do Brasil em Buenos Aires, vem prestando a assistência cabível à família da vítima, em coordenação com as autoridades locais e em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local.”
A Comissão de Auxílio do Ushuaia, um grupo civil dedicado a resgates na região, publicou um comunicado nas redes sociais alertando que “o acesso a esta caverna é proibido devido ao perigo representado pela possível queda de gelo ou pelo colapso da caverna, situação que está indicada no outdoor perto da caverna.”
Segundo relato postado no Instagram, o grupo civil disse que recebeu o pedido de resgate por volta das 16h de um turista que sofreu um traumatismo grave na cabeça.
A brigada foi acionada, mas quando chegou ao local a vítima já foi encontrada sem vida. Após uma operação de mais de 6 horas, os socorristas desceram o corpo e os outros turistas até uma base de operações.
Responsáveis pelo resgate disseram que a Justiça da Argentina está conduzindo uma investigação sobre o acidente.
A guarda nacional da Argentina informou que o turista viajava sozinho pelo país e que morava em uma kombi em um acampamento municipal.
O Ministério das Relações Exteriores disse, por meio de nota, que o Consulado-Geral do Brasil em Buenos Aires “vem prestando a assistência cabível à família da vítima, em coordenação com as autoridades locais e em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local”.
Fonte: G1