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Um estudo publicado por pesquisadores brasileiros na revista Nature mostra um domínio do garimpo sobre a mineração industrial no Brasil. Pelos dados coletados, a área ocupada por atividade ilegal em 2022 já era 1,46 vezes maior do que a usada para a extração industrial.
O trabalho destaca que, ao longo de quase quatro décadas, o país exibiu dois períodos distintos em que a área de extração de garimpo excedeu a de extração industrial, de 1989 a 1997 e de 2020 a 2022.
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No início da série temporal, em 1985, a área ocupada por operações de mineração industrial atingiu 360 km2. Em 2022, passou para 1.800 km2, um crescimento de cinco vezes. No mesmo período, os territórios de garimpo cresceram 1200%, de 218 km2 para 2.627 km2.
Os pesquisadores destacam que a taxa de aumento do garimpo nos últimos anos é o aspecto mais alarmante. De 2019 a 2022, a expansão da área de mineração industrial foi de 4%, passando de 1.730 km2 para 1.800 km2.
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Do outro lado, a área de extração de garimpo subiu 55% (de 1.720 km2 em 2018 para 2.670 km2 em 2022). Só de 2021 a 2022, foram 350 km2 a mais (de 2.280 km2 para 2.630 km2).
Mais de 91% da atividade ilegal está concentrada na Amazônia. Lá, quase 40% das áreas têm cinco anos ou menos – a proporção aumenta para 62% dentro das terras indígenas (TIs).
O estado do Pará é o mais relevante para a expansão observada na Amazônia, contendo quatro dos cinco maiores municípios do Brasil em termos de extensão de garimpo. Itaituba (710 km2), Jacareacanga (195 km2), São Feliz do Xingu (101 km2) e Ourilândia do Norte (91 km2) constituem conjuntamente 41,7% da área nacional de garimpo, com um total de 1.097 km2.
O processamento e a análise de dados foram realizados em um ambiente de computação em nuvem combinando o uso da plataforma Google Earth Engine (GEE) e da estrutura TensorFlow. E todos os dados raster e subprodutos foram obtidos de dados do topo da atmosfera (TOA) da Coleção 2 Landsat Tier 1, programa de satélites de observação da Terra gerido pela Nasa em parceria com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês).
Garimpo ilegal ocupa 149 mil hectares no Pará
Como mostrou o estudo, o Pará é o estado que mais sofre com o garimpo ilegal. Outros dados, estes do MapBiomas, revelam que lá a atividade já ocupa 149 mil hectares. Isso é mais que o triplo dos 48 mil hectares destinados à mineração industrial no estado.
“Historicamente, o poder público é pouco atuante no combate ao garimpo ilegal, mas nos últimos anos a situação piorou”, disse o engenheiro ambiental Luís Augusto Oliveira, pesquisador do Instituto Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), ao Valor.
Ele pontuou que o garimpo ilegal gera prejuízos econômicos e socioambientais ao promover o desmatamento e assoreamento de rios e a contaminação dos corpos hídricos com mercúrio. “As comunidades perdem acesso a peixe e água e não há contrapartidas em desenvolvimento econômico”, salientou.
Combater essa situação, acrescentou Oliveira, passa pela fiscalização e repressão policial, mas, também, pela regulação do mercado de ouro, a partir da criação de um sistema nacional de rastreabilidade que permita o acompanhamento de todo o minério legal, da lavra ao consumo final.
Fonte: Um Só Planeta – Foto: Polícia Federal/Divulgação