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Mês passado foi o mês de fevereiro mais quente já registrado. Segundo dados do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia, o período de 1 a 29 de fevereiro deste ano foi 1,77ºC mais quente do que a média pré-industrial do mês, de 1850 a 1900, e 0,81ºC acima dos níveis de 1991-2020.
O órgão destaca que as temperaturas médias globais diárias foram “excepcionalmente altas” durante a primeira metade do mês, atingindo 2ºC acima dos níveis de 1850-1900 em quatro dias, de 8 a 11. Na Europa, os termômetros estiveram 3,3ºC acima da média do mês de 1991-2020.
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“Fevereiro junta-se à longa série de recordes dos últimos meses. Por mais notável que isto possa parecer, não é realmente surpreendente, uma vez que o aquecimento contínuo do sistema climático conduz inevitavelmente a novos extremos de temperatura”, disse Carlo Buontempo, diretor do Copernicus. “O clima responde às concentrações reais de gases de efeito estufa na atmosfera, por isso, a menos que consigamos estabilizá-los, enfrentaremos inevitavelmente novos recordes de temperatura global e as suas consequências.”
Outro dado preocupante é que a temperatura média global dos últimos 12 meses – entre março de 2023 e fevereiro de 2024 – foi a mais elevada de que há registo: 1,56ºC acima dos níveis pré-industriais. Isto coloca o mundo temporariamente acima do limiar de 1,5ºC, determinado no Acordo de Paris.
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Temperatura dos oceanos
Também em fevereiro, a temperatura dos oceanos foi a mais alta já registrada em qualquer mês. Atingiu 21,06ºC de média – o recorde anterior era de 20,98ºC, de agosto de 2023.
Uma das consequências do aquecimento das águas dos mares é possivelmente um quarto evento global de branqueamento de corais em massa, que pode já estar ocorrendo no Hemisfério Sul, e tem tudo para ser o pior da história, relata a Reuters.
Reportagem da agência de notícias explica que os corais branqueiam sob estresse térmico, expelindo as algas coloridas e úteis que vivem em seus tecidos. Isto os torna vulneráveis à fome e doenças e, em muitos casos, provoca a sua morte. O que preocupa é que toda essa situação pode levar ao colapso de ecossistemas de recifes frágeis, deixando as costas desprotegidas contra erosão e tempestades.
O El Niño, fenômeno climático natural caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico, e as mudanças climáticas causadas pelo homem são os responsáveis pelo calor extra nos mares, afirmam especialistas.
Heróis e vítimas do clima
Os oceanos têm uma capacidade de armazenamento de calor maior do que qualquer outro componente do sistema climático da Terra: quase 90% do calor extra retido no sistema terrestre devido a atividades antropogênicas é absorvido pelo oceano. Mas o “heroísmo” acumulado ao longo do tempo também transforma os mares em vítimas do clima. Ao absorverem calor, as águas oceânicas expandem-se e contribuem ainda mais para o aumento do nível do mar, afetando estruturas e o modo de vida das populações que vivem perto dos litorais em todo o mundo.
Outro efeito colateral do aquecimento dos mares é a mudança de salinidade (quantidade de sal dissolvida na água), dada a evaporação oceânica que aumenta de forma simultânea à elevação da temperatura do planeta, o que pode afetar perigosamente a capacidade de sobrevivência de espécies, como corais, ervas marinhas, algas e peixes.
Em entrevista recente ao Um Só Planeta, o oceanógrafo brasileiro Mauro Maida, professor na Universidade Federal de Pernambuco e um dos maiores conservacionistas marinhos, destaca que a proteção dos oceanos passa por soluções que precisam andar de mãos dadas, como a extensão de marcos legais existentes sobre Áreas Marinhas Protegidas (AMPs), melhoria na gestão pesqueira, aprofundamento da base de conhecimento sobre gestão marinha e governança regional, e principalmente fortalecimento da fiscalização das AMPs, que segundo ele, não é efetiva no país.
“Não adianta criar uma área protegida no papel se não há cuidado efetivo. Se o poder publico não tiver a obrigação de cuidar do patrimônio que ele tem obrigação de cuidar, o que será da área? Se numa área de proteção, o governo público não consegue fazer seu papel, e fora da unidade de proteção, o que vai acontecer?”, questiona o especialista, que defende maior interface entre ciência e política, a fim de orientar a tomada de decisões públicas e conscientizar a sociedade sobre a situação dos oceanos.
Fonte: Um Só Planeta