27 de dezembro, 2024

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Fernando Cury, denunciado por importunação sexual, é eleito para o Conselho da Criança e do Adolescente em SP

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O deputado estadual afastado Fernando Cury (Cidadania) foi eleito no último domingo (15) membro do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente do Estado de São Paulo (Condeca-SP) para um mandato de dois anos, entre 2021 e 2023.

O Condeca-SP é um colegiado consultivo composto por 40 conselheiros (20 titulares e 20 suplentes) que participam da elaboração das políticas públicas de atendimento à criança e ao adolescente com o governo estadual. Os integrantes são eleitos todos pela sociedade civil.

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Em abril, Cury foi afastado do mandato da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) por seis meses, após ter sido acusado de importunação sexual ao passar a mão no seio da deputada Isa Penna (PSOL) no plenário da Casa.

Em decisão inédita, o plenário da Alesp suspendeu o mandato dele por 180 dias, empossando o suplente, Padre Afonso (PV), até outubro, quando Cury pode voltar a exercer o mandato parlamentar.

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O deputado do Cidadania também foi denunciado à Justiça pelo procurador-geral de São Paulo, Mario Luiz Sarrubo, pelo mesmo crime de importunação sexual, em abril. A Justiça ainda não aceitou a denúncia contra o parlamentar, segundo o Ministério Público de São Paulo (MP-SP).

Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), a denúncia do MP ainda não foi avaliada pela Justiça porque o deputado estadual precisa apresentar a defesa prévia dele antes e ainda não fez isso.

Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Social informou não ter responsabilidade sobre as eleições do Condeca-SP.

“O órgão é independente, formado por 40 membros (sendo 20 titulares e 20 suplentes) representantes do poder público e da sociedade civil. A eleição de seus membros ocorre de forma completamente autônoma do Governo do São Paulo e é realizada por 453 representantes de organizações da sociedade civil ligadas à defesa dos diretos das crianças e adolescentes. Na eleição realizada no dia 15 de agosto, Fernando Cury foi um dos 40 membros eleitos. Legalmente, a pasta não pode interferir na decisão.”

O que diz o deputado

Também por meio de nota, Fernando Cury disse que foi “eleito no último domingo (15) de forma democrática e exercerá novamente a função de conselheiro” e que “tem sua atuação aprovada no Condeca-SP e a sociedade civil reconhece seu trabalho”.

“Fernando Cury foi reeleito para ocupar uma das 10 cadeiras, representando novamente a sociedade civil e exercerá agora seu quarto mandato dentro do conselho (sendo 2 representando anteriormente o Poder Público e 2 representando a Sociedade Civil). É importante ressaltar que esta eleição nada tem a ver com o mandato de deputado de Fernando Cury. São coisas totalmente diferentes”, disse a nota.

“Vale reforçar que, a despeito das provocações e informações infundadas, cada vez mais fica clara e evidente que a narrativa de algumas figuras públicas tem como objetivo angariar curtidas e comentários e manter-se na mídia. Cabe ressaltar que a defesa do deputado, com provas contundentes, irá reparar no seu devido tempo todos os erros e falsas acusações feitas inclusive pelos veículos de imprensa”, completou Cury (veja íntegra da nota abaixo).

A deputado Isa Penna (PSOL), que foi vítima do ato de Fernando Cury na Alesp, comentou a eleição do parlamentar para o órgão.

“É tudo muito escandaloso. Um deputado afastado por assédio eleito em órgão da sociedade civil para zelar e proteger crianças? O Brasil já não está aceitando mais isso, é claro que o sistema antigo deles ainda falou mais alto, mas não é algo que é bem recebido. (…) O que posso dizer que não sou eu, não é pelo assédio mais, é pelo significado desta eleição. Sei que as organizações estão incomodadas e se elas estão chegando em mim, como deputada eu estou prestando o serviço de atender e ouvir”, disse.

O advogado Ariel de Castro, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, também criticou a votação que elegeu Fernando Cury como membro do Condeca. Ele já foi conselheiro do Condeca e do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente).

“Existem duas incompatibilidades no caso dele, que deveriam impedi- lo de ser conselheiro do Condeca. A acusação de importunação sexual contra a colega deputada e por ser deputado estadual, mesmo atualmente afastado. Ele como detentor de um mandato parlamentar, não poderia representar uma entidade da sociedade civil no Conselho”, falou o advogado.

Condeca-SP

O Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Condeca-SP) foi criado a partir da Lei Estadual nº 8074, de 1992. O conselho articula o governo e a sociedade em discussões profundas sobre os problemas e os desafios na proteção dos menores no estado de SP.

O colegiado também é responsável por administrar o Fundo Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (FEDCA), constituído por recursos públicos e privados doado para as ações de atendimento deste público.

O mandato dos 40 conselheiros é de dois anos, todos eleitos pela sociedade civil e nenhum deles é remunerado.

Denúncia do MP

Em abril, o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) denunciou o deputado estadual Fernando Cury (Cidadania) pelo crime de importunação sexual, no processo em que ele é acusado pela também deputada Isa Penna (PSOL).

Uma câmera de segurança da Alesp flagrou o momento em que o parlamentar passou a mão no no seio da colega no plenário, em um abraço por trás, durante a votação do orçamento do estado em dezembro de 2020 (assista ao vídeo abaixo).

A denúncia foi oferecida pelo Procurador-Geral de Justiça, Mario Luiz Sarrubbo ao desembargador João Carlos Saletti, do Órgão Especial do Tribunal de Justiça (TJ-SP). No documento também consta um pedido de reparação por danos morais.

“O deputado agiu com clara intenção de satisfazer sua lascívia, praticando atos que transcenderam o mero carinho ou gentileza, até porque não tinha nenhuma amizade, proximidade ou intimidade com a vítima, violando assim, também, o seu dever funcional de exercer o mandato com dignidade”, escreveu o procurador de Justiça Mario Sarrubbo na denúncia.

Em nota, a defesa do deputado estadual Fernando Cury informou que “ele se vai se defender perante o Tribunal de Justiça de São Paulo, demonstrando que jamais cometeu crime de importunação sexual contra a deputada Isa Penna”.

Para a denúncia, o procurador se baseou no Código Penal:

  • Artigo 215-A: praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro, cuja pena prevista de prisão de 1 a 5 anos.
  • Artigo 61: que trata dos agravantes para uma pena com “traição, emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido” e com “com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão”.

O MP indicou que a Justiça escute as seguintes testemunhas, todos deputados que estavam próximos aos fatos:

  • Isa Penna
  • Cauê Macris
  • Alex de Madureira
  • Érica Malunguinho
  • Carlos Pignatari
  • André do Prado
O deputado estadual Fernando Cury, do Cidadania.  — Foto: Carol Jacob/Alesp
O deputado estadual Fernando Cury, do Cidadania. — Foto: Carol Jacob/Alesp

O MP informou ainda à Justiça que não oferece proposta de acordo “seja porque o denunciado não confessou a prática do crime, seja porque o crime foi praticado contra mulher por razões do sexo feminino, ou ainda porque o acordo não poderia ser considerado necessário e suficiente para a reprovação de prevenção do crime”.

“Com efeito, o delito foi, em tese, praticado por parlamentar, durante Sessão Plenária da Assembleia Legislativa Estadual, à vista de todos, em cena que, inclusive, foi filmada e transmitida e divulgada pela internet, para escândalo e repúdio de toda a sociedade. A conduta revelou absoluto descaso para com a parlamentar vítima, sua condição de mulher, além de atingir a própria imagem da Casa Legislativa e de seus respeitáveis integrantes. O crime, portanto, é concretamente grave, incompatível com a concessão do benefício despenalizador”, escreveu o procurador.

A investigação começou em janeiro, a pedido das advogadas da deputada Isa Penna e após autorização pela Justiça, uma vez que os deputados têm foro privilegiado.

Deputado Fernando Cury passa a mão na deputada Isa Penna — Foto: Reprodução
Deputado Fernando Cury passa a mão na deputada Isa Penna — Foto: Reprodução

Outras investigações

Na quinta-feira (1º), em decisão inédita, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) aprovou por unanimidade a suspensão do mandato de Cury por 6 meses.

Nunca um deputado havia sido suspenso na Alesp. A casa tem um episódio de cassação, em 1999, do ex-deputado Hanna Garib, acusado de envolvimento na chamada Máfia dos Fiscais.

A punição de 180 dias implica a paralisação do mandato e do gabinete de Cury, com a consequente posse do suplente, que poderá formar sua própria equipe. Quem deve assumir é o ex-deputado Padre Afonso (PV), que integrava a coligação que elegeu o titular em 2018.

O deputado estadual também é alvo de um processo disciplinar no partido dele, o Cidadania. Fernando Cury foi afastado das funções dele no partido em 18 de dezembro, após a repercussão do caso.

O Cidadania considerou que o episódio de importunação sexual na Alesp foi “desrespeitoso, afrontoso e deve ser combatido”, e o Conselho de Ética da legenda recomendou ao Diretório Nacional a expulsão do parlamentar do partido.

A expulsão de Cury seria decidida na reunião do Diretório Nacional no dia 13 de janeiro, mas o encontro foi suspenso por ele ter conseguido uma liminar na Justiça de Brasília para suspender o processo interno. A juíza Thassia de Moura Guimarães, da 20º Vara Cível de Brasília, entendeu que o processo contra o deputado deveria primeiro ser direcionado para a Alesp, no âmbito estadual do Cidadania em São Paulo. Depois disso é que ele deve ser analisado no âmbito nacional.

Íntegra da nota de Fernando Cury

“Fernando Cury tem sua atuação aprovada no Condeca-SP e a sociedade civil reconhece seu trabalho. Ele foi reeleito para ocupar uma das 10 cadeiras, representando novamente a sociedade civil e exercerá agora seu quarto mandato dentro do conselho (sendo 2 representando anteriormente o Poder Público e 2 representando a Sociedade Civil). Além disso, Cury é presidente do Conselho, escolhido e eleito pelos seus pares da sociedade civil.

Ele foi eleito no último domingo (15) de forma democrática e exercerá novamente a função de conselheiro. É importante ressaltar que esta eleição nada tem a ver com o mandato de deputado de Fernando Cury. São coisas totalmente diferentes como explicado acima. Vale reforçar que, a despeito das provocações e informações infundadas, cada vez mais fica clara e evidente que a narrativa de algumas figuras públicas tem como objetivo angariar curtidas e comentários e manter-se na mídia. Cabe ressaltar que a defesa do deputado, com provas contundentes, irá reparar no seu devido tempo todos os erros e falsas acusações feitas inclusive pelos veículos de imprensa”.

G1

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