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A terceira era Luiz Felipe Scolari no Palmeiras teve início na tarde desta sexta-feira. Na Academia de Futebol, o treinador foi apresentado pelo presidente Maurício Galiotte, de quem recebeu uma camisa do clube com o número 3 (referente à terceira passagem pelo clube), e concedeu sua primeira entrevista coletiva como técnico do Palmeiras.
– É com alegria e muita satisfação e orgulho que volto ao Palmeiras. Volto motivado e (certo de) que podemos ter uma boa equipe e que podemos ganhar muito mais coisa – disse Felipão, que se demonstrou empolgado com a construção da arena do Verdão (inaugurada em 2014, dois anos após a segunda passagem do treinador pelo Palmeiras) e com a reforma da Academia de Futebol, um dos centros de treinamento mais completos do Brasil.
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– Na última oportunidade que aqui estive (2012), éramos uma equipe itinerante. Jogávamos em Barueri, no Canindé, em Presidente Prudente… Não tínhamos nosso estádio, e hoje temos um estádio que é maravilhoso. Hoje, temos uma estrutura que, possivelmente, posso te dizer que vivi com uma estrutura assim em Londres, no Chelsea e mais nenhum lugar. É espetacular tudo que o Palmeiras pode dar aos seus jogadores e treinadores.
Felipão brincou com a história dos “camarões”, metáfora criada por ele em 2012 para se referir a “jogadores de qualidade”. Na época, o treinador tinha um elenco limitado, que foi campeão da Copa do Brasil, mas acabou rebaixado no Brasileirão (já sem Felipão, demitido dois meses e meio antes da queda).
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– Eu adoro camarão. Se eu pudesse, comeria camarão todo dia. Mas camarão é caro.
Felipão disse que não se incomoda com o rótulo de “técnico do 7 a 1” e que tinha propostas de “duas ou três seleções”, mas, ao receber a ligação do Palmeiras, decidiu por voltar ao Brasil.
– Eu estava com proposta de duas ou três seleções e eu estudando e quando recebi a ligação na madrugada eu pensei se voltaria ou não, o que eu poderia ser confrontado, como seria. A mim qualquer situação não me chateia em nada: 7 a 1, 0 a 0, 5 a 5… não me afeta em nada. Só afeta a algumas pessoas da minha família, mais sensíveis ao que é escrito por aí.
Sobre a relação com a imprensa, especificamente sobre desentendimentos com jornalistas durante sua última passagem pelo Palmeiras, em 2012, Felipão disse:
– Da minha parte é normal. Eu não mudei, vocês também não devem ter mudado. Vocês vão fazer a pergunta e eu vou responder da minha forma. Quando se perde, perdem os jogadores, técnicos, o país, então não existe um responsável, e esse grupo tem que estar junto para assumir vitória e derrota, e é o que eu espero ter aqui no Palmeiras. Vou tentar fazer com que tenha esse pensamento e ter uma unidade de grupo muito grande. Já passou e não vai adiantar ficar remoendo isso. Eu não gosto de uma ou outra pessoa e não vai mudar nada para mim ou para ele e acabou.
Como foi o contato
Felipão estava em Portugal, onde tem residência. Ele chegou nesta sexta-feira a São Paulo e foi direto para a Academia de Futebol, onde assinou contrato (válido até o fim de 2020) e, na sequência, dirigiu-se à sala de imprensa. Lá, relatou como foi a conversa com o Palmeiras.
– Eu estava dormindo na minha casa, em Cascais, quando tocou o telefone. Era madrugada, assustei, claro. Mas depois que me dei conta da possibilidade de voltar (…), voltei à cama e não dormi mais. Conversei com a família, porque tínhamos outro planejamento. Assustado, mas depois pensando e convicto que poderia voltar ao Palmeiras e que tenho uma identificação com o Palmeiras, com a torcida e aquilo… Projetamos para o dia seguinte o primeiro contato e depois seguimos uma situação normal que eu estivesse aqui só hoje em relação a uma série de coisas que eu tinha que acertar. E posso dizer que estou muito feliz de estar de volta à minha casa.
Durante a semana, o time foi comandado pelo seu auxiliar, Paulo Turra. Scolari chega para substituir Roger Machado e tentar dar sequência ao seu histórico vitorioso no clube. Aos 69 anos, o comandante tem no currículo cinco títulos pela equipe palmeirense: uma Libertadores (1999), uma Copa do Brasil (1998), um Rio-São Paulo (2000) e duas Copas do Brasil (1998 e 2012). Teve também três vice-campeonatos: Brasileirão de 1997, Copa Mercosul de 1999 e Libertadores de 2000.
Felipão foi questionado sobre o fato de técnicos mais experientes, como ele e Cuca, estarem de volta a times paulistas, após demissões de dois treinadores da chamada nova geração (Roger Machado e Jair Ventura). Sobre estes, Felipão citou até Nelson Mandela e disse:
– Falta trabalhar e adquirir experiência. Não é do dia da noite que um técnico é formado. São técnicos muito promissores que estão evoluindo normalmente, que vão passar por uma ou outra dificuldades que vão acrescentar no futuro. Se o Cuca é velhinho, então… As pessoas às vezes aprendem com uma idade maior. Nelson Mandela, com 71 anos, foi presidente da África do Sul depois de passar 27 anos na cadeia, então… Os jovens são bons e vão passar por percalços no caminho. E daqui a cinco anos vão tomar conta do mercado. Nós mais velhos somos mais experientes, sim.
Números de Felipão e contrato no Palmeiras
- Com 408 jogos (192 vitórias, 111 empates e 105 derrotas), Scolari é o segundo treinador que mais vezes dirigiu Palmeiras em toda a história – Oswaldo Brandão é o recordista, com 585 partidas;
- Scolari é o técnico com mais jogos pelo Palmeiras no Brasileirão: 166. Seu melhor resultado com o clube na competição foi o vice em 1997;
- Felipão é também o técnico com mais jogos pelo Palmeiras na Libertadores: 28 (14 vitórias, cinco empates e nove derrotas). Foi campeão em 1999 e vice em 2000;
- Felipão é ainda o treinador com mais jogos pelo Palmeiras na Copa do Brasil: 44 jogos em cinco edições, com 26 vitórias, 12 empates e seis derrotas. Foi campeão duas vezes com o Palmeiras: em 1998 e 2012;
- O contrato de Felipão com o Palmeiras vai até o fim de 2020, quando o treinador estará com 72 anos.
Felipão disse que Murtosa não o acompanhou na comissão por problemas particulares. Mas que isso pode mudar em “dezembro ou janeiro”.
Mês cheio e sem priorizar competições
Felipão assume o Palmeiras em meio a uma maratona de jogos, com dois compromissos por semana em três competições diferentes: Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores.
Veja a tabela de jogos do Palmeiras em agosto:
- 5/8 – América-MG x Palmeiras, em Belo Horizonte (Brasileirão)
- 9/8 – Cerro Porteño (PAR) x Palmeiras, em Assunção (Libertadores)
- 12/8 – Palmeiras x Vasco, em São Paulo (Brasileirão)
- 16/8 – Palmeiras x Bahia, em São Paulo (Copa do Brasil)
- 19/8 – Vitória x Palmeiras, em Salvador (Brasileirão)
- 22/8 – Palmeiras x Botafogo, em São Paulo (Brasileirão)
- 26/8 – Internacional x Palmeiras, em Porto Alegre (Brasileirão)
- 30/8 – Palmeiras x Cerro Porteño (PAR), na arena (Libertadores)
Felipão disse que não vai priorizar competições e falou que, na Europa ou em passagem pelo Rio Grande do Sul, onde mora parte de sua família, sempre assistia aos jogos do Palmeiras.
– Eu assistia ao jogos fora do Brasil e envolvia uma coisa diferente quando jogava o Palmeiras, o Grêmio e íamos um na casa do outro para assistir aos jogos, tomar um chimarrão. Mas sempre soubemos o que acontecia no Brasil. Até o Caxias, na Série C, porque torcemos, sabíamos… Então sabemos tudo que acontece no Brasil – disse Felipão.
– Posso falar do Cerro. Não posso falar lá na frente. O primeiro passo é contra o América. As dificuldades que vou encontrar em Minas agora para conversar com o pessoal de fisiologia e ver como podemos enfrentar as três competições. Não vamos priorizar nenhum competição. Temos três e vamos disputar as três. Depois eu penso no Cerro, mas temos que passar pelo Cerro. Temos Brasileiro até o fim, Copa do Brasil e Libertadores tem que ganhar, se não você não continua. Não pode priorizar, tem que ganhar todas – comentou o treinador.
Veja abaixo outras respostas de Felipão:
Seleção brasileira
– Último título mundial do Brasil foi em 2002, e eu estava lá. A última derrota não foi comigo, não sou o último derrotado no Mundial. Já passou. O Brasil foi o quarto colocado no Mundial de 2014 e ninguém vai mascarar a derrota que sofremos. A vida continuou, e quem não tem problemas que nos fazem mudar? Não tem o que discutir, mas acho eu, pelo relacionamento que tenho vivido desde 2014, que sou lembrado mais com carinho pelos torcedores pelo que fiz na minha carreira e como pessoa, não só por um resultado negativo. Um resultado negativo não mascara 99 positivos. A sequência da vida que vai mostrar como posso ter um resultado negativo e sair fortificado para fazer meu trabalho. Fui para a China, enfrentei 16 clubes, com nove treinadores de várias nacionalidades e levamos sete títulos em 11 possíveis (…) Não foi normal aquela derrota (7 a 1), mas aconteceu. Não posso ficar pensando nisso, como não penso em 2002. Não perdi sozinho em 2014, não ganhei sozinho em 2002. Ganhamos nós, perdemos nós.
Avaliação do elenco e experiência na China
– Deixa eu falar mais uma vez. Fui para o Grêmio e depois para a China. Aqueles jogadores te mostram o que é humildade, dedicados durante o trabalho. Eles ensinaram que às vezes precisamos ter isso para ter uma equipe de qualidade. Se a China não tem um campeonato tão badalado, tem grandes jogadores e grandes técnicos. E os chineses ensinaram que para ganhar lá precisa de um relacionamento bom, saber a cultura chinesa, como eles gostam de se comportar. Tive um capitão de equipe fantástico, maravilhoso, como tive aqui, no meu tempo aqui de “não camarões”, o Assunção, que era espetacular. A China me deu isso Não sei se melhorou minha tranquilidade, mas gostei muito de ter passado esses dois anos e meio na China. É bom para mostrar como podemos ser uma grande equipe com a dedicação dos chineses quando nós recebíamos o trabalho com eles.
Como o Palmeiras precisa de você?
– O Palmeiras precisa de mim como técnico, por isso fui contratado. Preciso fazer dessa equipe competitiva o tempo todo. Não posso falar aqui, porque a ética não me permite falar alguma coisa. Preciso conhecer os atletas para ver como posso trabalhar. Acho que o Palmeiras, pelo convite que me fez, eu quero estar dentro e fora de campo.
Felipão encerra falando sobre Murtosa:
– Murtosa está resolvendo uns problemas particulares, disse que não podia me acompanhar “não quero agora, preciso resolver minha vida e a partir de dezembro, janeiro, se eu tiver resolvido te aviso”. O baixinho vai aparecer qualquer dia para incomodar, visitar a gente, mas nesse momento ele não tem condições de trabalhar com a gente porque está resolvendo problemas da vida particular e nós entendemos.
Fonte: G1