27 de novembro, 2024

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Família britânica ainda procura menina que desapareceu há 40 anos

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Katrice Lee estava com sua mãe e sua tia em um supermercado antes de sua festa de aniversário de dois anos. A menina desapareceu e nunca mais foi vista. Quarenta anos depois, sua família britânica ainda busca respostas sobre o que aconteceu com ela.

O apartamento da família Lee estava tomado por risos e carinho de todos enquanto eles se preparavam para marcar o segundo aniversário de Katrice, em 28 de novembro de 1981.

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Eles moravam próximo a uma base militar em Paderborn, cidade que ficava na então a Alemanha Ocidental, desde que Richard, pai de Katrice, assumira um posto de sargento do Exército britânico dois anos antes.

Katrice Lee desapareceu num supermercado, no dia em que completava 2 anos de idade (Foto: Arquivo pessoal/BBC)

Mas a alegria vista durante o café-da-manhã – quando a família cantou Parabéns a Você e segurou Katrice em seus braços – seria logo substituída por pavor e horror, quando ela desapareceu sem deixar rastros.

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Naquela manhã, ao perceber que esquecera de comprar batatas fritas para a festa, a mãe da menina, Sharon, deixou Katrice com sua tia Wendy ao lado do caixa do supermercado do Naafi (sigla em inglês para Institutos da Marinha, Exército e Aeronáutica).

Em poucos momentos a menina havia sumido, depois de aparentemente tentar seguir sua mãe. Com os minutos passando, Richard Lee, que esperava ao lado de seu carro sob a garoa daquele sábado frio e nublado, ficava cada vez mais incomodado.

“Eu fiquei lá, em pé, pelo que pareceu ser uma eternidade. Provavelmente uns 30 minutos. Mesmo sabendo que o supermercado estava bastante movimentado, eu sabia que Sharon não demoraria tanto, porque ela teria seguido rigorosamente sua lista de compras e pegado tudo de que ela precisava”, afirma Richard.

“Eu tive uma sensação de que havia alguma coisa errada. Então eu pensei que era melhor ver se elas precisavam de ajuda para carregar as coisas ou se algo de errado havia acontecido.”

‘Nosso mundo mudou’

A família Lee, da Inglaterra, vivia na Alemanha Ocidental quando Katrice desapareceu — Foto: Arquivo pessoal via BBC
A família Lee, da Inglaterra, vivia na Alemanha Ocidental quando Katrice desapareceu (Foto: Arquivo pessoal/BBC)

Não havia sinal das três na área de alimentação do mercado, ele imaginou que talvez elas tivessem ido comprar um presente extra em alguma outra área. Então, através da porta do escritório da gerência, que estava aberta, ele viu sua mulher e sua cunhada, e ambas pareciam aflitas.

“Eu perguntei o que havia acontecido. Wendy respondeu imediatamente: ‘Katrice desapareceu’. Meu lado soldado tomou conta de mim. Eu peguei todo soldado da minha unidade que eu achei no supermercado. Foram pelo menos uns 12, talvez mais”, lembra ele.

“Fizemos uma busca em torno da área, mas sem resultados. Se você perde uma criança, seu coração sobe na boca. Eu nunca senti nada parecido. Esse foi o início do nosso pesadelo.”

“Nosso mundo mudou naquele dia”, diz o pai de Katrice. “Ter acontecido no seu aniversário é como esfregar sal sobre a nossa ferida.”

“Katrice era uma típica criança de dois anos de idade – difícil como qualquer outra criança pequena -, e nós éramos uma família tão normal como era possível, estando nas Forças Armadas e vivendo no exterior.”

Lee explica que a área em torno do complexo Naafi, em Schloss Neuhaus, estava um “pandemônio” naquele dia, com “um monte” de soldados, suas famílias e civis participando de um dia de visitas à faculdade.

A irmã de Katrice, Natasha, que na época tinha sete anos, lembra-se de entender o que estava acontecendo quando seu pai chegou à casa na esperança de que a menina tivesse, de alguma forma, voltado.

Natasha compreendeu o tamanho da tragédia horas depois, quando viu sua mãe abalada. “Eu podia ouvi-la gritando, foi assustador. Eu ainda consigo ouvir aqueles gritos. É algo que nunca vai sair de mim”, diz ela.

Erros da polícia

Nos críticos horas e dias que se seguiram ao desaparecimento de Katrice, investigadores da Polícia Militar Real (RMP) britânica conduziram uma investigação cheia de falhas.

Imaginando que a menina tivesse se afogado num rio próximo dali, guardas não foram avisados de que uma criança pequena havia desaparecido. Funcionários do mercado não foram ouvidos pela polícia por várias semanas, e os hospitais não foram informados sobre uma condição de vista que Katrice tinha e que poderia ter ajudado trabalhadores da área da saúde a identificá-la.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Convencido de que a teoria não era plausível, dada a distância entre o local e o rio, a profundidade da água descrita por ele como “rasa” e a ausência de sinais de um corpo no caminho do rio, Lee acredita piamente numa outra hipótese: “Katrice foi levada por alguém [no supermercado], que saiu do local com ela”.

“Ela está vivendo uma mentira com uma família que escondeu dela sua verdadeira identidade.”

A investigação das autoridades, diz ele com uma frustração bastante evidente, “parou depois de 18 meses”. Depois que o casal Lee se separou, em 1989, eles deixaram Paderborn e se divorciaram no ano seguinte.

Lee, que na época era sargento major, foi dispensado do Exército em 1999, depois de 34 anos de serviço. A luta desesperada da família, porém, continuou.

Escavações

Em 2012, a RMP desculpou-se pelas falhas na investigação inicial. O governo britânico concordou em rever o caso em 2017, mesmo ano em que foi divulgado um retrato falado de um homem, que fora visto colocando uma criança dentro de um carro.

O retrato falado, produzido pouco depois do desaparecimento, fora descartado como evidência na época – a Polícia Militar Real não soube explicar o motivo – e ficou sem ser visto por 36 anos. Foi redescoberto quando a polícia pesquisou informações antigas sobre o caso.

No ano seguinte, o foco mudou para o rio Alme, perto de onde Katrice desapareceu, quando mais de cem soldados realizaram uma escavação durante cinco semanas.

Enquanto olhava para os trabalhos, Richard Lee confrontava a possibilidade de que sua filha estivesse morta.

Para a irmã mais velha de Katrice, aquele período trouxe uma mistura “devastadora” de emoções que ela tem dificuldade em processar.

“Era para ter sido o melhor ano da minha vida, porque eu estava me casando. Eu queria aproveitar a preparação, mas às vezes eu me sentia envergonhada, porque eu lamentava o fato de que Katrice estava desaparecida. 2018 era para ter sido meu ano, mas em vez disso eles estavam escavando em busca de um corpo.”

“Eu tenho de viver com o momento em que eu pensei aquilo Se tivesse dado respostas aos meus pais, mesmo que tivessem sido respostas terríveis, então aquilo era para ter encerrado a história.”

A operação, que custou 100 mil libras (R$ 750 mil), não conseguiu encontrar nenhuma pista sobre o destino de Katrice, e o local foi descartado para buscas adicionais.

Homenagem e lembranças

Seis meses depois, Natasha casou-se com seu companheiro, Mike Walker. Numa comovente homenagem, seu vestido incluiu uma lembrança carinhosa – um botão de uma malha vermelha pertencente a sua irmã.

“Isso era tudo o que eu tinha [de Katrice]. Ela deveria estar caminhando atrás de mim, como minha dama de companhia, mas não estava. Ela era um botão no meu vestido de noiva.”

Uma possível reviravolta acabou não dando em nada, quando um ex-soldado foi preso e liberado sem indiciamento após buscas em uma casa e um jardim na cidade inglesa de Swindon.

A família sofreu uma nova decepção em dezembro de 2020, quando a RMP anunciou que estava reduzindo sua investigação depois de não ter conseguido identificar nenhuma nova linha investigativa.

A agonia foi acentuada ainda mais pelo que Natasha descreve como “incansáveis” abordagens de enganadoras alegando que eram sua irmã desaparecida.

Num esforço para manter o caso visível para o grande público, a parlamentar Jill Mortimer – representante da cidade inglesa de Hartlepool, de onde vem a família Lee – levou o caso ao Parlamento no início de novembro e obteve a promessa do primeiro-ministro, Boris Johnson, de que ele se encontraria com Richard Lee, num encontro “de pai para pai”.

O Ministério da Defesa, enquanto isso, disse que seus “pensamentos e simpatia continuam com a família de Katrice Lee” e que investigaria “qualquer informação nova que seja relatada”.

No quadragésimo aniversário do desaparecimento de Katrice, porém, a dor da família continua tão profunda quanto antes.

“Quarenta anos depois, eu continuo tentando superar o que aconteceu”, admite Natasha, que vive em Gosport, na região de Hampshire. “Eu não acho que eu vá superar até que nós saibamos o que aconteceu.”

“Seu desaparecimento me deixou com cicatrizes emocionais. Eu tento lidar com elas devagar, um dia após o outro. Eu só posso imaginar como meus pais se sentem.”

“Minha mãe a carregou por nove meses e deu Katrice à luz. Para meu pai, deve ser devastador.”

“Eu me lembro ficar deitada na cama, não muito depois do desaparecimento, e meu pai sentado do meu lado. Eu chorava, e ele acariciava minha cabeça, me dizendo que tudo iria ficar bem.”

“Eu só percebi anos depois que ele se trancava no banheiro e chorava. Ele não chorava na minha frente ou na frente da minha mãe. Ele estava destruído.”

Esperança

Apesar do passar dos anos, Natasha mantém a esperança de que boas notícias chegarão em algum momento. “Todo dia a gente acorda pensando que hoje pode ser o dia em que a gente tenha respostas. Eu só tenho esperanças de que ela esteja viva e bem e que tenha tido a melhor vida possível.”

“Eu não quero que a minha irmã esteja em algum bosque, enterrada, sem ninguém podendo dizer adeus ou ter um túmulo para visitar.”

Dez dias atrás, Lee, hoje com 72 anos e vivendo em Hartlepool, voltou mais uma vez à Alemanha, onde “reviveu seu pesadelo” numa tentativa de manter o drama de Katrice sob os olhos do grande público, no Reino Unido e no exterior.

Embora o supermercado Naafi já tenha desparecido faz tempo, muito da área ao seu redor continuamente estranhamente familiar para ele. Sua luta, diz Lee de forma determinada, continuará.

“Eu sou questionado com frequência, ‘Fica mais fácil [com o passar do tempo]?’ Não, não fica. As pessoas também dizem ‘Desista. Ela se foi. Você tem que aceitar’. Eles não devem ter filhos ou não fariam esses comentários.”

“Eu acho frustrante que outros casos conhecidos tenham recebido tanta publicidade e recursos. Nenhuma criança é mais importante que outra.”

“Eu não gostaria de tirá-la de sua vida atual, mas eu posso ser avô e não saber. Se eu não falar publicamente, como as pessoas saberão que Katrice continua desaparecida? Como ela vai encontrar seus pais verdadeiros?”

Fonte: BBC

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