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“Pagode Cumpadre”. Isso pode ter vários significados. Pagode com o compadre; para God (Deus) e pagode com o padre”. É assim que o ex-padre do interior de São Paulo que largou batina para tocar em grupo de samba descreveu seu novo projeto.
Douglas Oliveira, de 38 anos, é de Sorocaba (SP) e já deu detalhes de quando decidiu deixar as atividades sacerdotais após 13 anos de dedicação à igreja católica. Um dos seus motivos foi algo que tocava em seu coração, a música. Segundo o cantor, após toda repercussão da última reportagem, ele decidiu dar start no seu projeto.
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“Era algo que estava na minha mente e lancei agora, em abril. Minha maior incentivadora é a minha esposa. A galera adorou o nome do projeto e eu brinco com os significados.”
Douglas contou que já realizou alguns eventos, como inauguração de uma loja, festas de aniversários e apresentações em bares.
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“A visibilidade não é tão intensa ainda, mas já é um primeiro passo. Devagar estou começando”, conta.
Junto ao pagode e com seu grupo, o cantor conta que começou um projeto acústico voz e violão e já tocou em alguns lugares. Nesses primeiros trabalhos, ele lembra que todo recurso que está pegando é para investir em equipamentos.
“Preciso de duas coisas: de um som e de casas que me chame para tocar. Quanto mais casas me chamarem para tocar, tanto voz violão acústico, ou pagode, mais visibilidade, mais trabalho, mais dinheiro”, explica.
Como assim ex-padre?
O cantor conta que dentro da comunidade da igreja, ficou entre os anos de 2006 e 2016. Nesse tempo, ele descobriu que gostava da vida sacerdotal, da comunicação, da catequese, da formação humana, da espiritualidade. Então, fez filosofia, depois se formou em teologia e foi ordenado como padre missionário.
Depois que se ordenou, Douglas veio para a Diocese de Sorocaba e ficou padre no bairro Trujillo e depois na catedral da cidade. Na comunidade missionária, ele conta que ficou afastado de tudo, chegou a trabalhar com música por um tempo dentro da igreja e tinha até músicas gravadas, mas não participava de nenhum evento.
Quando veio para a Diocese, como padre, Douglas conta que tinha uma vida menos rígida, com um pouco mais de liberdade, com os seus horários, e voltou a frequentar o samba.
“Pessoal me chamava de caríssimo, para não ficar me chamando de padre. Eu sempre cantava, fazia participações, tocava, às vezes, com eles, porque o pessoal sabia que era do samba. Fiquei amigo da galera e fiquei conhecido”, relembra.
Com dois anos e meio do sacerdócio, ele resolveu sair. “Mas ainda me chamam de padre. Eu acabo não ligando. Segundo a igreja católica, não existe o ex-padre, mas como não exerço mais as funções, não me importo que falem assim”, explica.
Em sentido rígido, não existe “ex-padre”. O que existe são padres que receberam a dispensa do exercício do ministério sacerdotal e de todas as obrigações específicas que dele decorrem, mas que, ainda assim, permanecem sacerdotes para toda a eternidade do ponto de vista do caráter sacramental.
“Muitas vezes a primeira coisa que as pessoas pensam quando você sai da igreja é por causa de mulher. Na verdade, eu não saí por causa de mulher. Eu saí porque estava em xeque com a obra que eu morei. Depois, vim para a Diocese fazer uma experiência e vi que não era aquilo que eu queria. Eu já estava envolvido com o samba naquela época. Como padre eu já ia nos sambas, então, foi tudo junto”, conta.
História no samba
O samba entrou na vida do sorocabano aos 14 anos, quando ganhou de um amigo um pandeiro e por começou a estudar música.
“Eu entrava no carro do meu pai, colocava samba, pagode e comecei a tocar. Até um dia e que um amigo me chamou para tocar no grupo dele. Então, a gente começou fazendo a apresentação em escola, em festa. Ganhei um pouquinho de visibilidade com isso. Quando eu fui por ensino médio, no primeiro ano, fui chamado pra entrar no grupo”, relata.
Ele gostava tanto de música que acabou reprovando no colegial. Mas com 15 anos já era registrado e tocava em vários lugares.
“Na minha família nunca teve ninguém envolvido com isso, assim, esse lado do samba, do pagode. Eu não tinha influência nenhuma em casa, foi por conta, mesmo, e por gostar do estilo. Eu descobri que conseguia cantar, descobri que eu era afinado, mas meu pai e minha mãe sempre escutaram sertanejo”, comenta.
No mundo do samba, Douglas conta que ficou até os 20 anos. Nessa época, ele disse que teve uma situação difícil e resolveu parar de tocar. Ele frequentava a igreja católica com os pais e conheceu uma jovem de São Paulo que era de uma comunidade missionária, de um movimento eclesial e isso fez ele decidir entrar na comunidade.
Novos rumos
Atualmente, Douglas não trabalha mais na cafeteria em que era gerente e decidiu buscar algo mais flexível nos horários para que não atrapalhasse suas agendas no fim de semana, pois, além de cantor, ele é celebrante de casamento.
“Eu sai para trabalhar mais com a música, para me dedicar. Como eu não vivo de eventos, eu faço a ronda do estacionamento de uma universidade, assim tenho os finais de semana livres para cantar e continuar como celebrante de casamento, que adoro”, explica.
Em 2018, quando saiu, reencontrou uma amiga da comunidade, que hoje é sua esposa. Os dois trabalham juntos nos eventos de casamento.
“Como trabalhei muito tempo com comunicação na igreja, fiz um programa de rádio também. Isso facilitou muito meu trabalho com a cerimônia.”
“São nove anos que eu celebro e eu sou apaixonado. Me encanta as histórias das pessoas. Comecei em 2015, quando era diácono, cobrindo um padre que era meu professor. Nesse mesmo casamento fui indicada para vários outros.”
Agora, ele continua trabalhando como celebrante, mas não vinculado à igreja. Chegou a se vincular com uma instituição que só trabalha com cerimônias e, hoje ,consegue fazer o casamento com efeito civil.
“Meu sonho, mesmo, ainda é viver só da cerimônia e do samba, mas eu ainda não consigo. Quem sabe um dia isso vai se realizar. Quero viver disso”, finaliza.