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A embaixada americana em Havana retomou, nesta quarta-feira (4), a emissão total de vistos para os cubanos que desejam se radicar nos Estados Unidos, em um contexto de êxodo recorde para este país, mas sem sinais de “normalização” das relações com a ilha.
“Entramos e foi tudo muito rápido. Já tenho que buscar o visto e posso viajar”, declarou, eufórica, a jovem Melissa Vázquez, de 18 anos, à AFP. Ela acrescentou que esperou “sete anos” para poder se reunir com seu pai, que vive nos Estados Unidos.
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Na sexta-feira, a embaixada americana destacou em um comunicado que a “expansão” de seus serviços consulares busca “garantir uma migração segura, legal e ordenada”.
Essa missão anunciou, em março, a reabertura de seu consulado. Na sequência, ocorreram vários encontros de alto nível sobre o tema migratório, primeiro em Washington e depois em Havana, com o objetivo de reativar os acordos migratórios bilaterais, interrompidos sob o governo de Donald Trump (2017-2021).
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“Com isto, concretiza-se o que sempre dissemos: buscamos encontrar meios práticos de apoiar o povo cubano”, declarou nos Estados Unidos o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.
Sem vistos para turistas
Em maio, o consulado começou a entrega limitada de vistos de reunificação familiar e, em setembro, anunciou o processamento completo de vistos, exceto os de turismo, para janeiro de 2023.
“Demos passos muito discretos voltados a encaminhar a cooperação bilateral para o cumprimento dos acordos migratórios”, disse, em dezembro, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel.
Êxodo histórico
A ilha caribenha, que passa por sua pior crise econômica em três décadas, também enfrenta o seu maior êxodo migratório neste momento.
Essas saídas dispararam desde novembro de 2021, quando a Nicarágua, um forte aliado de Havana, eliminou a exigência de visto para os cubanos. Estes, em sua maioria, voam para o país centro-americano para iniciar a travessia por terra rumo aos Estados Unidos.
Segundo números oficiais dos EUA, entre dezembro de 2021 e o mesmo mês de 2022, as autoridades fronteiriças interceptaram, em 277.594 ocasiões, cubanos que haviam entrado ilegalmente no país por terra. A emigração ilegal pelo mar também disparou nos últimos meses.
O governo cubano reconhece que Washington entregou no ano passado, pela primeira vez desde 2017, mais de 20.000 vistos de imigrantes, um número estabelecido nos acordos migratórios de 1994-95.
Mas, “enquanto continuarem com o bloqueio (…) e o tratamento privilegiado na fronteira” conferido aos imigrantes procedentes de Cuba, “será difícil diminuir consideravelmente o fluxo migratório irregular”, reagiu no Twitter o ministro cubano das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez.
Embora em Washington “não queiram admitir, existe um vínculo direto entre o recrudescimento das medidas extremas contra a economia cubana e a proporção com que disparou o fluxo migratório dramático”, declarou em novembro à AFP a vice-diretora da chancelaria cubana para os Estados Unidos, Johana Tablada.
‘Caminho do meio’
Embora tenha flexibilizado algumas das disposições de Trump contra Cuba, o presidente Joe Biden tem evitado retomar a política de maior aproximação de Barack Obama (2009-2017), de quem foi vice-presidente.
Quando chegou à Casa Branca, em janeiro de 2021, Biden prometeu rever a política de seu antecessor republicano para Havana, mas endureceu seu discurso após os protestos antigovernamentais de julho de 2021, os maiores registrados na ilha em seis décadas de regime.
No mês passado, Biden reiterou sua reivindicação de libertação de “centenas de presos políticos” após os protestos. Seu governo mantém Cuba em uma lista de países que patrocinam o terrorismo e o incluiu recentemente em outra dos que atentam contra a liberdade religiosa.
Para Jorge Duany, especialista em Cuba da Universidade Internacional da Flórida, “Biden tenta recalibrar sua política para Cuba, a fim de traçar um caminho do meio entre a ‘pressão máxima’ de Trump e a ‘aproximação’ de Obama, mas, até agora, as mudanças na política americana têm sido mínimas”.
“Por enquanto, não há condições para avançar na normalização das relações”, afirmou Michael Shifter, da Universidade de Georgetown em Washington.
Fonte: Yahoo!