27 de novembro, 2024

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Estudo com participação brasileira muda o que se sabe sobre a idade da Lua

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A hipótese mais aceita para a formação da Lua é a do Big Splash – ou “grande impacto”.

De acordo com ela, logo após a formação do Sistema Solar, um planeta do tamanho de Marte, chamado Theia, se chocou de lado com a Terra, jogando ao espaço bilhões de toneladas de rochas e outros materiais, que se aglutinaram e deram origem ao satélite.

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O problema é saber a época em que essa batida gigantesca teria ocorrido.

Até recentemente, as estimativas variavam de 30 a 200 milhões anos após o surgimento do Sistema Solar. Agora, um trabalho com a participação de um pesquisador brasileiro, dá uma data mais precisa: 4,51 bilhões de anos atrás, ou seja, 50 milhões de anos após a aparição do Sol e seus planetas.

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No trabalho, realizado nos laboratórios de geoquímica da Universidade de Colônia, de petrologia experimental, da Universidade de Bonn – ambos na Alemanha – e de Geologia Isotópica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os pesquisadores analisaram, com métodos modernos e precisos, amostras de solo e rochas coletadas na Lua pelos astronautas do Programa Apollo, da Nasa, a agência espacial americana.

Material raro

No total, foram 17 missões entre 1969 e 1972, das quais seis – 11, 12, 14, 15, 16 e 17, cada uma com três tripulantes – pousaram no satélite, levando os 12 únicos seres humanos que pisaram em solo lunar.

No conjunto, eles trouxeram para a Terra 2.200 pedras, pesando no total cerca de 400 kg.

Esse material vem rendendo estudos e descobertas até hoje. O brasileiro do grupo, o geólogo Felipe Padilha Leitzke, da UFRGS, explica que a Lua logo depois de formada estava coberta por um oceano de magma, que formava diferentes tipos de rochas à medida que ela esfriava.

“As amostras coletadas na sua superfície pelos astronautas registraram informações sobre esses processos”, diz.

Durante a pesquisa, as amostras lunares fornecidas pela Nasa foram dissolvidas em ácido, para que os cientistas pudessem analisar a proporção das substâncias que as compõem — Foto: Divulgação/PA Media
Durante a pesquisa, as amostras lunares fornecidas pela Nasa foram dissolvidas em ácido, para que os cientistas pudessem analisar a proporção das substâncias que as compõem (Foto: Divulgação/PA Media)

Durante a pesquisa, as amostras lunares fornecidas pela Nasa foram dissolvidas em ácido, para que os cientistas pudessem analisar a proporção das substância que as compõem.

Eles estavam interessados principalmente em dois elementos químicos raros, o háfnio e o tungstênio, mais especificamente nos isótopos háfnio-182 e tungstênio-182.

‘Relógio natural’

O háfnio-182 e tungstênio-182 têm uma particularidade: eles formam um sistema de decaimento radioativo, com o primeiro se transformando no segundo com o tempo. “Isso os torna um relógio radioativo natural”, diz Leitzke.

Em 17 missões, foram trazidas para a Terra 2.200 pedras lunares, pesando no total cerca de 400 kg — Foto: Divulgação/Nasa
Em 17 missões, foram trazidas para a Terra 2.200 pedras lunares, pesando no total cerca de 400 kg (Foto: Divulgação/Nasa)

Os pesquisadores analisaram, por meio de métodos de alta precisão, esses elementos nas amostras das missões Apollo. “A relação, principalmente entre háfnio e tungstênio, foram utilizadas para entender tais processos de formação das rochas da lunares”, explica Leitzke.

“Constatamos que o decaimento radioativo deles durou apenas os primeiros 70 milhões de anos do Sistema Solar. Combinando essas informações com dados de experimentos de laboratório, o estudo descobriu que a Lua já começou a se solidificar a partir de 50 milhões de anos após a formação do Sol e seus planetas.”

De acordo com Leitzke, essa informação sobre a idade do satélite significa que qualquer impacto gigantesco entre um planeta e a Terra deve ter ocorrido antes disso, o que responde a uma questão debatida entre a comunidade científica sobre quando a Lua se formou.

“Este impacto é importante também, porque se assume que é o último grande evento de diferenciação do nosso planeta”, diz o pesquisador brasileiro.

“Esta descoberta deve implicar em refinamento da teoria do Grande Impacto, que envolve a formação de Theia e os mecanismos que a fizeram colidir com a Terra primitiva”, complementa do astrônomo Enos Picazzio, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas Universidade de São Paulo (IAG-USP).

Segundo ele, quem primeiro propôs a hipótese desse grande choque foi o matemático italiano Joseph Louis Lagrange (1736-1813), nascido como Giuseppe Lodovico Lagrangia, ainda no século XVII.

Foi ele que descobriu os pontos no espaço, que hoje levam o seu nome (pontos Lagrange), onde a força gravitacional entre dois corpos que giram em torno de um centro de massa comum, como a Terra e o Sol, se anula.

Há cinco deles no sistema Sol-Terra, L1, L2, L3, L4 e L5. “Lagrange dizia que nas regiões L4 e L5 (a cerca de 150 milhões de quilômetros do nosso planeta) é possível que corpos grandes tenham existido e que poderiam ter colidido com a Terra, dando origem à Lua”, conta Picazzio.

“Mas as teorias mais embasadas cientificamente foram propostas na década de 1970, já com informações colhidas de análise de rochas lunares trazidas pelas missões Apollo.”

Nova estimativa é de que a Lua tenha 4,51 bilhões de anos, ou seja, 50 milhões de anos após a aparição do Sol e seus planetas — Foto: Divulgação/Nasa
Nova estimativa é de que a Lua tenha 4,51 bilhões de anos, ou seja, 50 milhões de anos após a aparição do Sol e seus planetas (Foto: Divulgação/Nasa)

Seja como for, o impacto deve ter sido colossal. “Estima-se que a colisão de Theia, que estava no ponto L4, teria ocorrido a uma velocidade relativa da ordem de 40.000 km/h”, diz Picazzio.

“Foi uma colisão de raspão (não frontal). Parte das crostas dos dois planetas foram ejetadas e ficaram em torno da Terra como um anel. Cerca de menos de 30 horas após a batida, a maior parte desse material em órbita aglomerou-se para formar a Lua.”

Fonte: BBC

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