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Com a invenção das mídias sociais e dos aparelhos celulares, os movimentos sociais ganharam ferramentas para facilitar o diálogo entre os integrantes e dar projeção a suas reivindicações e denúncias. O que faz com que se pense como era a comunicação de um movimento em particular antes de tudo isso, como o das pessoas em situação de rua, que têm menos recursos à disposição. Um desafio, de fato, para as articulações em coletivo.
No Dia Nacional da Luta da População em Situação de Rua, comemorado neste sábado (19), também ocorre outra dúvida. Muitas autoridades do poder público prometem divulgar serviços a esse grupo populacional, mas de forma online, o que evidencia que talvez as autoridades ainda precisem compreender e aprimorar dinâmicas desse contexto.
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Conforme destaca Edvaldo Gonçalves, coordenador estadual do Movimento Nacional de Lutas da População em Situação de Rua, há muita descrença em torno do potencial da população em situação de rua para se mobilizar. Na prática, o movimento de luta, classifica, é “atípico” por não ter recursos, e que “sobrevive pela força, pela vontade”. Na época em que o celular ainda não existia, o jeito era repassar informes no boca a boca, estratégia que resistiu aos tempos, devido à realidade de parcela significativa do grupo.
“A gente tem dois movimentos em nível nacional. Formados por quem? Pela rua. Depois é que a gente chamou os técnicos para participar”, disse.
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O encontro que deve reunir lideranças de todo o Brasil deve ocorrer de 27 a 29 de outubro, em Praia Grande, na Baixada Santista, litoral sul de São Paulo.
O estereótipo da pessoa em situação de rua precisa acabar, na opinião de Gonçalves. “Eles têm uma visão da rua como um doido, um cachaceiro, todo sujo. Tem uma coisa que eu brigo muito, que é o fato de que, quando vai se falar sobre qualquer coisa da rua, se coloca uma pessoa toda suja, mal-acabada. A rua não é isso. Quem anda assim geralmente tem algum transtorno mental, e a rua tem muito disso”, argumenta.
O representante do movimento comenta que se nota, por todos os cantos, o crescimento da aporofobia, termo que designa a aversão a pobres, principalmente em municípios em que a direita predomina. Esse aspecto tem rendido contestações por parte de uma figura que acabou se tornando um símbolo da luta por quem tem o direito à moradia negado, o padre Júlio Lancelotti, que mantém um projeto na capital paulista, no qual trabalha incansavelmente.
Gonçalves viveu 30 anos na rua, período que, segundo ele, trouxe uma lição sobre suscetibilidade e o que o move e no qual sempre se engajou ativamente. “A gente aprende. Eu saí da rua, mas, um dia, posso voltar de novo. A gente saiu da rua, mas a rua não saiu da gente. Então, luta pela política pública. A rua é muito marginalizada. Todas problemáticas que acontecem em uma cidade, a culpada é a rua. Não se culpa a sociedade, se culpa a rua. É a rua quem paga primeiro”.
O líder ainda questiona que o que define o tratamento dado a cada pessoa é a presença ou ausência de moradia. “A diferença é ter casa ou não ter casa. O que usa [drogas ilícitas] e tem casa é melhor do que o que usa na rua? O que rouba e tem casa não é considerado ladrão?”, provoca.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 11,4 milhões de imóveis vazios em todo o país. O dado foi divulgado em junho deste ano. Somente na capital paulista, há cerca de 590 mil imóveis vagos, quantidade que corresponde a quase 20 vezes a de indivíduos em situação de rua.
Fonte: Agência Brasil – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil