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Milene Estácio e a filha dela de 17 anos foram detidas pela morte do professor (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
Presa pela participação da morte do marido, a viúva do professor de física assassinado em São Carlos (SP) no mês passado disse que está arrependida. “Ela está chocada, inconformada e muito arrependida por ter deixado a coisa acontecer da maneira como ocorreu dentro da casa dela”, afirmou o advogado de defesa dela, Carlos Renato Lira Buosi.
Milton Taidi Sonoda, de 39 anos, era professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e foi morto com três facadas no dia 18 de maio em São Carlos, onde a família morava. Segundo a Polícia Civil, o principal motivo do crime foi o dinheiro gasto na reforma de uma casa.
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A enteada dele, de 17 anos, confessou o homicídio. Ela está detida na Fundação Casa de Cerqueira César. Já a mãe dela, a advogada Milene Estácio, está presa na Cadeia Feminina de Ribeirão Bonito. A mulher de 36 anos será indiciada pelo crime de homicídio duplamente qualificado combinado com corrupção de menores e ocultação de cadáver. Se condenada, pode pegar de 12 a 30 anos.
Dopado para ser morto
De acordo com o delegado Gilberto de Aquino, o professor foi dopado pela enteada antes de ser morto com três facadas na barriga e, após o homicídio, mãe e filha doparam o filho do casal para que ele dormisse enquanto elas escondiam o corpo. Segundo a polícia, elas levaram o corpo até a Rodovia Luís Augusto de Oliveira (SP-215) e colocaram fogo no carro.

“Elas viram que ficariam vestígios, pois havia impressões digitais de ambas e, como a viúva é advogada e tem conhecimento jurídico, decidiram atear fogo no veículo”, disse o delegado.
O advogado de defesa conversou com Milene e, segundo ele, a viúva assumiu a participação na ocultação do corpo, mas afirmou que não sabia o que estava fazendo na ocasião e que estava nervosa. “Ela disse que ajudou porque era a filha dela e por um filho se faz qualquer coisa. Quando percebeu, já tinha acontecido tudo. A menina que teve essa articulação macabra, criminosa, e a mãe entrou nessa por não ter pulso firme”, disse Buosi.
Crime planejado
Mensagens de WhatsApp interceptadas pela Polícia Civil com autorização da Justiça mostram mãe e filha planejando a morte do professor. O advogado disse que tocou no assunto, mas Milene afirmou não se lembrar do conteúdo das mensagens.

conversas do WhatsApp (Foto: Reprodução/ EPTV)
“Ainda não mostrei, mas farei isso futuramente. Por ela ser advogada, por ela estar envolvida nisso, ela vai ter dar algumas respostas para que a nossa linha de defesa seja mais eficaz. Para que ela pague, se for o caso, tudo pelo que ela deve. Para que não haja abuso, não haja ilegalidade e que a penalidade seja administrada a cada um de acordo com sua culpabilidade”, disse o defensor.
Questionado se existe a possibilidade de uma terceira pessoa ter participado do crime, o advogado afirmou que não. “Eu a questionei a respeito disso. Não tem indício de materialidade nenhuma quanto a uma suposta terceira pessoa. Estou falando com base no que ela falou e com base no inquérito policial”, afirmou Buosi, que ainda estuda a linha de defesa de Milene.
‘Nunca desconfiei’
O pai do professor disse que ficou bastante surpreso com a notícia de que a mulher e a enteada do filho seriam as autoras do assassinato.
“Conheci ela e a enteada, mas em termos de frieza, nunca desconfiei de absolutamente nada. A relação deles sempre foi totalmente normal, marido e mulher, enteada, inclusive ele era muito amoroso com ela também”, disse Taizo Sonoda.
Morador de Formosa, em Minas Gerais, ele disse que sempre que podia visitava o filho e descreveu Sonoda como uma pessoa brincalhona, um bom marido e bom pai. “Ele mandava fotos de acampamento, de praia, levantando barracas, tudo com o filho de cinco anos”, contou.
Preocupado com o futuro do neto de 5 anos, ele concorda que a guarda da criança fique com a sua ex-mulher, que mora em Itapetininga (SP). “Eu acho que essa é a melhor solução no momento”, afirmou. “Acredito eu no que a Justiça deve fazer e aquilo que a Justiça achar que deve pagar, que assim seja”.
Mensagens entre mãe e filha
Segundo a Polícia Civil, Milene induzia e cobrava a filha para que matasse a vítima. Veja abaixo trechos das mensagens interceptadas:
Milene: O Milton saiu com R$ 700. O último suspiro que eu tinha. Ele não pode viajar amanhã. Porque senão nossos planos terão que ser adiados. As contas bombando na minha cabeça. Enquanto isso o Milton só pensa em gastar R$ 1,6 mil de mármore.
Em outro trecho, a mulher e a enteada combinam o dia do assassinato.
Filha: Como o Milton é chato! Mas tudo isso vai acabar amanhã! Amanhã mesmo!
Milene: Tomara! Tô de saco cheio!
A mãe orienta a filha sobre como agir.
Milene: Leve a faca a afiar.
Filha: Tá
Milene: Leve umas três. A partir de amanhã acabou tudo. Leve o negócio pra afiar.
A polícia acredita que a enteada marcou até uma manicure, já pensando no dia do crime.
Filha: Marquei terça! Já que a gente vai ter enterro.
Em outro trecho, Milene deixa claro que a filha deveria assumir o crime.
Milene: Se acontecer da polícia chegar até você, não tenha medo.
Filha: A polícia, eu não.
Milene: Mas não põe eu no meio.
Filha: Não tenho medo nem de você, vou ter da polícia?
Milene: Eu pegaria mais de 30 anos de cadeia.
Em outra mensagem, mãe e filha planejam se sustentar com a morte do professor.
Milene: Tem que dar entrada no INSS logo.
Enteada: Calma!
Milene: Para não passar necessidade. Porque vamos ficar sem dinheiro.
Enteada: Nem caixão ainda!
Elas também demonstram frieza ao planejar o crime.
Milene: Mas vai dar tudo certo! Deus tem um lugarzinho bom pra ele!
Adolescente confessa o crime
Apreendida, a adolescente de 17 anos confessou o crime durante uma audiência realizada na última quinta-feira (9). “Ela assumiu a responsabilidade por esses fatos e não atribui a participação de mais ninguém”, disse Arlindo Basílio, advogado da jovem.
Após ouvir a garota e testemunhas, o juiz julgou procedente a acusação e aplicou uma medida socioeducativa de internação na Fundação Casa. “Nós, da defesa, insistimos que a medida deveria ser mais branda, de semi-liberdade, por fim foi decidido pelo juiz a medida de internação, que vai de um mínimo de 6 meses até 3 anos”, afirmou Basílio.
Homenagem na rede social
Um dia antes de ser presa, na segunda-feira (30), a viúva postou uma homenagem em vídeo na rede social na página do marido. No arquivo de 6min58 há imagens do professor com o filho, e a música ‘Naquela Mesa’, interpretada nesta versão por Nelson Gonçalves. No dia 8 de maio, a mulher também postou uma figura com as frases “Luto…saudades eterna”.

Fonte: G1