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Botucatu, a cada ano, solidifica-se como Cidade e seu ritmo de crescimento está aliada ao resgate do próprio passado. Alguns dos principais corredores comerciais e empresariais do município estão ligados diretamente com este dinamismo sem esquecer do passado.
A Rua Curuzu está intimamente atrelada a este contexto. Afinal, é a primeira rua efetivamente constituída da Cidade. É o que consta no livro Achegas para a História de Botucatu, de Hêrnani Donato. Nos registros históricos, só existiam caminhos abertos- denominados “o de baixo” e “o de cima” entre as casas e propriedades na então incipiente aglomeração urbana. Com as primeiras edificações sendo construídas, surge então a chamada Rua das Flores, substituindo o “caminho de baixo”. As passagens nasciam no traçado da atual Praça Coronel Moura (Paratodos) e se estendiam até encontrar a estrada que ligava a outras cidades como Sorocaba, Itapetininga, Piracicaba, Tietê, além da capital.
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“O caminho de baixo” foi, efetivamente, a primeira rua oficial constituída em Botucatu. Recebeu posteriormente o nome de “Rua das Flores”, tendo em vista a presença maciça da colonização portuguesa. Já o chamado “caminho de cima” recebeu o nome de Rua do Riachuelo (atual Amando de Barros). A Rua das Flores cresceu exponencialmente tendo em vista que a primeira igreja matriz foi edificada nas proximidades. Os nomes das primeiras ruas de Botucatu, no entanto, foram dadas de forma popular sendo que não havia registros em atas na administração municipal sobre as mesmas, segundo relata João Thomaz de Almeida, no livro Ruas de Botucatu.
Com a Guerra do Paraguai (1864-1870) e a participação brasileira no conflito, oficializa-se o nome de Rua do Curuzu, em substituição a Ruas das Flores. A nova denominação foi para atender o anseio do patriotismo latente da população. Este nome permaneceu inalterado até 1944, quando o decreto 64 do mesmo ano alterou novamente a nomenclatura para Clovis Bevilacqua, fato que causou descontentamento aos moradores. Uma comissão de populares foi criada para negociar com o prefeito João Maria de Araújo Junior, a volta da antiga denominação, o que ocorreu novamente em 1947, na gestão do prefeito Adolpho Pinheiro Machado.
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Todos os livros históricos sintetizam a importância da Rua Curuzu no desenvolvimento de Botucatu. Tanto que, em seus mais de três quilômetros de extensão (faz divisa com a Avenida Petrarca Bachi e se encerra na rotatória da Rua Mário Barbieris, no Conjunto Habitacional Humberto Popolo, a Cohab 1). É um dos principais corredores comerciais e empresariais da Cidade, concentrando 285 empreendimentos entre lojas de varejo, serviços e atividades diversas, conforme consta nos cadastros de março de 2019 da Secretaria Municipal de Desenvolvimento. Nos últimos anos recebeu investimentos do Poder Público como um completo calçamento asfáltico e, mais recentemente, sendo a primeira rua do centro junto com a Avenida Petrarca Bachi, a receber iluminação por LED, mais eficazes e econômicas. Foram aplicados R$ 140 mil.
A Curuzu tem uma particularidade que a diferencia das demais ruas de Botucatu. Ainda guarda uma mescla entre local para se empreender a residir.
Algumas edificações representam parte do cotidiano como o Centro Espírita Caminho da Luz, além de muitas consideradas patrimônios da Cidade, sintetizada pela antiga Fundição Irmãos Lopes e, a sede da Associação Comercial e Empresarial de Botucatu (ACEB), quando da inauguração da sede na rua, em 1984 na região.
Uma rua que representa conquistas
São histórias de vida e de relevância espalhadas por seus quarteirões. Desde residências históricas como a casa do ex-vereador e político histórico Progresso Garcia, a do professor Gastão Dal Farra; do empresário Mário Sartor, entre muitas outras pessoas que atuaram em prol do desenvolvimento de Botucatu. E os casos não param. Para se ter ideia, a primeira agência bancária da Cidade foi instalada na rua, o Banco Mercantil de Desconto. Também foi ao longo da Curuzu que as indústrias pioneiras foram se instalando, como o moinho de fubá de Viriato Ribeiro, o curtume de Júlio Techhio, a fábrica de ladrilhos de Eugênio Fatori, além da fábrica de chapéus Santana, do Barão do Amaral. Por décadas, também foi sede da oficina gráfica do extinto jornal A Gazeta de Botucatu (fundado por Milton Mariano e que por anos passou a ser administrado pelo jornalista Adolpho Dinucci Venditto). Foram dezenas de comércios, profissionais liberais que construíram seus nomes e desempenharam importante papel para o crescimento da rua. Quanto a comércio, a rua também abrigou algumas das maiores feiras livres da região durante anos.
Uma guerra que deu o nome à primeira rua de Botucatu
A palavra Curuzu, em tupi guarani significa cascalho de mineração. Mais do que representar um mineral, tem relevância extremamente importante para a solidificação do Brasil como potência militar na América Latina. Na segunda metade do século XIX, a América do Sul viu-se diante do maior conflito bélico até então registrado: a Guerra do Paraguai (1864 a 1870). Na ocasião, o país vizinho realizava incursões para expansão territorial, tendo como estopim o avanço pelo território da Argentina para a posterior conquista do Rio Grande do Sul e promover o acesso ao mar. O conflito empregou a força de 150 mil paraguaios contra 235.500 soldados da então Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai). Desse total, 200 mil homens eram brasileiros.
Um dos conflitos mais significativos da guerra ocorreu entre 1º e 3 de setembro de 1866, chamada de Batalha do Curuzu, nome dado ao forte que ficava às margens do Rio Paraguai. Para mostrar o poderio militar e subjugar as forças de Solano López, a Tríplice Aliança se apresentou ao front de batalha com 8.385 soldados, 6 encouraçados e 7 Canhoneiras. Já os paraguaios defenderam o território com 2.830 soldados e 13 Canhões. Após três dias de intenso conflito, os brasileiros saíram vitoriosos, não sem computar 213 mortos e 628 feridos totalizando 941 baixas e um encouraçado afundado (Rio de Janeiro). Já os paraguaios amargaram 832 mortos e 1.300 feridos.
A vitória na batalha do Curuzu mudou o panorama do conflito, já que as forças da Tríplice Aliança apenas defendiam posições do avanço paraguaio. Com isso, os soldados brasileiros, argentinos e uruguaios iniciaram as incursões dentro do então território inimigo.
Por Flávio Fogueral. Matéria originalmente publicada na edição 39 da Destaque Botucatu.