29 março, 2024

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Escrita pela botucatuense Maria José Dupré, “Éramos Seis” começa em setembro na Globo

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Se existe um título que traz embutido um quase spoiler, ele pertence ao famoso romance escrito por Maria José Dupré que virou novela. 

Vale lembrar que, nascida em Botucatu, no interior paulista, Maria José Dupré conheceu, na expansão de São Paulo, um ambiente em que as mulheres tiveram um pouco mais de liberdade. Na década de 1920, quando a história de “Éramos Seis” começa, as mulheres nem sequer votavam. Elas conquistaram esse direito —e também o de disputar eleições— só em 1932. 

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Dupré foi alfabetizada pela mãe e por um irmão mais velho. Em São Paulo, ela se formou professora e se casou com o engenheiro Leandro Dupré. 

Publicou seu primeiro livro, “O Romance de Teresa Bernard”, depois dos 40 anos, em 1941. “Éramos Seis” veio na sequência, em 1943. 

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Éramos Seis

“Éramos Seis”, desse jeito, com o verbo no passado, até assusta. Mas melhor preservar o leitor dos fatos que acometeram essa família, um casal com quatro filhos, que viveu na primeira metade do século passado. Mesmo que esses fatos já tenham sido narrados na TV em quatro ocasiões.

Por ora, tudo bem saber que a narradora tem o perfil de uma dona de casa, dona Lola, mulher paulista dos anos 1920, casada com Júlio, um homem difícil e que, não raro, chega embriagado em casa e deixa de dar atenção à família.

Nesta quinta vez, a Globo escalou Glória Pires para o papel de Lola. É uma adaptação que estreia em setembro no horário das 18h, mas que tem como base o texto da última produção vista na TV, aquela mesma que foi ao ar pelo SBT, em 1994, escrita por Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho.

Na versão anterior, quem viveu Lola foi Irene Ravache. Duas das versões antigas foram exibidas pela TV Tupi —em 1967, com Cleyde Yáconis, e em 1977, com Nicette Bruno. E a outra, primeira de todas, foi ao ar na Record em 1958, com Gessy Fonseca. Quem escreve o remake atual é Ângela Chaves.

A diferença para a nova versão tem dois pontos principais. Primeiro, o ritmo da novela obedece preceitos de uma TV que não admite cenas longas como aquelas dos anos 1990. “As cenas podiam ser maiores antes. Hoje ninguém aguenta cenas enormes. Não dá para ter cena de cinco páginas e acontecer pouca coisa. Com isso você já precisa fazer adaptações ao longo de tudo”, afirma.

Mudança ainda mais discreta é na forma como a mulher, especialmente a protagonista, passa a ser retratada. “Éramos Seis” estreia ainda sob o calor de um movimento feminista que, especialmente no audiovisual, ganhou temperatura com o MeToo, nos Estados Unidos, e seus desdobramentos pelo mundo, inclusive no Brasil. A protagonista vai sofrer a influência desse momento.

“Nossa Lola é uma personagem diferente daquela de 1994. Como força motriz da família e daquela história, ela agora é menos submissa, tem mais voz, e ela descobre essa voz”, conta Chaves. “Vai ter mais força naquela casa, na maneira como se comporta, ainda que continue sendo uma mulher típica dos anos 1920.” 

Na visão da autora, o original tem essa matriz, sem que uma bandeira feminina seja explicitamente levantada. “Essa protagonista nos dá o registro de um feminino daquela época. É um livro importante porque ele tem essa marca, que pode ser vista como uma denúncia, como crítica”, diz.

O destaque à personagem feminina, vista ali como força propulsora da narrativa, nos leva a compreender o sucesso da novela. Na versão de 1994, o SBT conseguiu boa audiência para a época. A média do Ibope anterior à novela era de 15 pontos. Esse patamar se manteve no início, mas houve crescimento durante a trajetória do folhetim, com um pico de 22 pontos. 

“Éramos Seis” também ficou conhecida por ter sido uma aposta orçamentária do SBT. A emissora investiu então US$ 5,5 milhões na novela. 

Na época, os direitos foram comprados de Silvio de Abreu e Ewald Filho. Em 2001, Silvio Santos reexibiu a novela, mas foi a última vez. Há dois anos, a Globo comprou os direitos, tanto da versão escrita pelos dois roteiristas como do livro original, o que travou no SBT a chance de exibir a própria produção da década de 1990. 

Bom lembrar que foi essa a versão que lançou a carreira de Ana PaulaArósio, até então modelo, como atriz. Também deu destaque a um Caio Blat ainda em início de carreira. Ambos ganharam fama a partir dali.

Na atual versão da Globo, Antonio Calloni, no papel de Júlio, é o marido de Lola, no lugar de Othon Bastos, que encarnou o personagem há 25 anos. 

A história começa em 1921 e, no decorrer de mais de 20 anos, veremos uma São Paulo em grande transformação, passando por momentos históricos, como a Revolução de 1932, e uma expansão urbana movimentada por imigrantes.

Se o papel da mulher, nesta nova versão, se guia por um ambiente de cunho feminista, o que dizer então do principal papel masculino da novela?

Calloni diz que a obra retrata um tipo de homem que era visto basicamente como provedor. “O drama do Júlio é absolutamente humano. Está nas batalhas do dia a dia, em pagar suas contas, realizar sonhos, sustentar a família”, explica o ator. 

Na visão de Calloni, é simbólico também que Júlio pertença a uma geração de homens que tinha “dificuldade muito grande de demonstrar amor”. “A relação com os filhos é conflituosa por ele não conseguir se expressar. É bonito contar essa história agora num momento tão delicado, tão belicoso”, diz o ator. 

Este repórter acompanhou Calloni num dia de gravação numa antiga estação de trem, construída no século 19, e que hoje ainda é ponto turístico na cidade de Campinas, no interior paulista. Era uma cena de poucas palavras, num dia ensolarado. Júlio andava pela estação, entrava no trem e, conforme a viagem seguia, o personagem lutava contra o sono provocado por um dia exaustivo.

Calloni reconhece na novela a influência de uma “vertente mais feminista” atual, mas sem que se percam características da época. Segundo o ator, o homem hoje deve  assumir o papel de ouvinte, ainda que um ouvinte ativo. Ele conta que, aos poucos, Júlio vai entendendo que a cultura em que vive responde por dramas pessoais e vai encontrando formas para expressar seus sentimentos.

Dona Lola, só hoje sabemos, tinha muito chão pela frente.

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