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O líder norte-coreano, Kim Jong-un, declarou a Coreia do Sul como seu “principal inimigo”, dissolveu as agências de cooperação e reunificação da península e ameaçou iniciar uma guerra, se violarem “nem que seja 0,001 milímetro” de seu território.
Nesta semana, a Coreia do Norte fez testes de drones nucleares subaquáticos. O governo do país afirmou que os testes foram uma reposta a exercícios militares conduzidos em conjunto por três países:
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- Coreia do Sul;
- Estados Unidos;
- Japão.
O sistema de drones, chamado de Haeil 5-23, foi testado na costa leste do país. Não foi divulgada a data em que o teste ocorreu.
Um porta-voz do governo da Coreia do Norte afirmou que as armas submarinas do exército são parte do equipamento para impedir hostilidades de outros países –ele citou as marinhas dos EUA e de aliados dos americanos.
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Por enquanto, Kim não agiu de fato, mas isso pode mudar. Analistas ouvidos pela AFP avaliam a situação.
O que aconteceu?
Após anos de piora das relações, o governo da Coreia do Norte declarou esta semana que a Coreia do Sul é seu principal inimigo, fechou agências que trabalhavam na cooperação entre os dois países e na eventual reunificação coreana. Também houve ameaças de invasão do Sul durante uma guerra.
Hong Min, analista do Instituto Coreano para a Reunificação Nacional, de Seul, disse à agência de notícias AFP que é uma mudança importante porque, “no passado, quando havia risco de conflito armado, havia um canal (de comunicação) de apoio para mantê-lo sob controle. Agora não existe nada disso.”
A Coreia do Norte se livrou de todos os mecanismos intercoreanos para evitar que os conflitos fiquem fora de controle, afirma Hong.
“A classificação do Sul como o ‘principal inimigo’ do Norte não é apenas retórica: as palavras podem levar à ação”, diz.
Mas Kim vai atacar?
Kim disse que não tem intenção de iniciar uma guerra, mas também não pretende evitá-la. Ele declarou que não reconhece mais a fronteira marítima “de facto” entre as duas Coreias, e seu Exército realizou vários dias de manobras com fogo de artilharia real na área.
Isso cria uma possibilidade crescente de que ambos os lados se envolvam em um conflito militar, o que poderia levar a um conflito mais amplo, diz Hong.
Além disso, a Coreia do Norte se aproximou de Moscou e, segundo os americanos e os sul-coreanos, forneceu-lhe mísseis para a guerra na Ucrânia em troca de ajuda para seu programa de satélites.
A Coreia do Sul ameaçou adotar uma resposta muito mais forte a qualquer provocação, uma postura dura que também acarreta riscos.
“Nunca é inteligente que a Coreia do Sul ou a Coreia do Norte adotem uma estratégia radical em questões intercoreanas”, afirmou o jornal sul-coreano Hankyoreh, em um editorial.
“Quando a Coreia do Norte for mais imprudente, esperamos que o governo concentre seus esforços em lidar com a situação”, diz o jornal.
E agora?
O professor de Estudos Militares na Universidade Sangji Choi Gi-il, em entrevista à AFP, afirma que agora os dois países estão no momento de maior possibilidade de serem arrastados para um conflito armado. “Suponhamos que haja vítimas civis e militares em uma futura provocação do Norte. Atacamos o ponto de origem com mísseis. Mas será que também vamos atacá-los com a nossa Força Aérea?”, questionou.
Em 2010, quando a Coreia do Norte bombardeou uma remota ilha fronteiriça em Yeonpyeong, matando quatro pessoas, os caças F-16 dos sul-coreanos estavam no ar, prontos para atacar, mas o então presidente Lee Myung-bak cancelou a ação para evitar uma escalada. “Se tivermos um incidente semelhante, não há garantia de que o poder aéreo não será utilizado face a estes apelos belicistas” da administração sul-coreana, diz o professor.
A resposta do Norte poderia levar a península a uma guerra total no pior cenário, segundo ele.
Possibilidade de reaproximação?
As perspectivas de uma reconciliação coreana sempre foram sombrias, mas agora ainda mais, depois de Kim ter declarado Seul seu inimigo número um, disse Soo Kim, ex-analista da CIA que hoje trabalha na empresa LMI Consulting.
“Ele não só fechou a porta a uma reaproximação, como colocou um cadeado nela para deixar claro para os sul-coreanos onde está sua relação”, disse à AFP.
Mas esta nova retórica não “altera necessariamente os cálculos da Coreia do Norte”, acrescentou.
O governo da Coreia do Norte desenvolve mísseis e armas nucleares há algum tempo, e Kim aguarda o momento certo para realizar um sétimo teste nuclear.
“Essas armas não se desenvolvem da noite para o dia, e os planos do regime de Kim de usá-las como ferramenta de coerção, ameaças e negociação têm sido seu ‘modus operandi’ há décadas”, argumentou.
Por que Kim age assim?
A nova retórica em relação a Seul “parece ser um ajuste ideológico para a sobrevivência do regime, o que justifica o foco de Kim nos mísseis nucleares”, diz Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha, em Seul.
Os norte-coreanos “estão cada vez mais conscientes dos fracassos econômicos de seu país em comparação com os sucessos da Coreia do Sul”, disse ele. “Portanto, Kim dobra sua aposta na capacidade militar face às ameaças externas à sua legitimidade interna”, afirma.
Além disso, a Coreia do Sul realiza eleições gerais em abril, nas quais o partido do atual presidente, Yoon Suk Yeol, procura recuperar o controle do Legislativo.
“Kim pode estar tentando punir a administração Yoon por suas políticas em relação à Coreia do Norte antes das eleições legislativas de abril”, disse Easley.
Fonte: G1