14 de novembro, 2024

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Em duas décadas, número de acidentes com escorpiões no Brasil aumentou 1.375% e o de mortes, 816%

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Eles estão na Terra há 430 milhões de anos, vivem nos desertos e matas, podem variar de 12 mm a 21 cm em tamanho, são tímidos e furtivos. No ambiente urbano, adoram a escuridão e lugares úmidos e quentes, como interior de porões, pilhas de entulhos, lixo, frestas de residências, sapatos, guarda-roupas e ralos, por exemplo. Sua picada causa dor pode até mesmo levar à morte. A cada ano, os escorpiões picam 1,5 milhão de pessoas no mundo, levando a óbito a 2.600 delas.

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, o número de acidentes com escorpiões saltou de 12.552, em 2000, para 185.264, em 2022, uma alta assombrosa de 1.375% em 22 anos. O número de mortes no mesmo período teve um crescimento menor, mas não menos impressionante: 816%, pulando de 12 para 98. Para comparação, este último número de óbitos, referente 2022, é menor do que o causado por serpentes, os animais peçonhentos mais letais, que foi de 92, resultado de 29.928 ataques.

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Há pelo menos duas razões para esse grande crescimento do números de acidente e mortes causadas por escorpiões no país. Alguns acreditam que as mudanças climáticas têm algo a ver com isso, outros argumentam que o fenômeno está mais ligado à degradação e outras alterações ambientais também ligadas a atividades humanas. Entre os primeiros está o biólogo e bioquímico Malson Neilson de Lucena, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (MS). De acordo com ele, com o aquecimento global aumenta o número de incêndios, como se viu recentemente no Pantanal e no Cerrado.

A consequência dessas queimadas é a destruição dos habitats naturais dos escorpiões e de suas presas e predadores. “Isso ‘empurra’ esses animais para os centros urbanos”, explica Lucena. “Muitos desses predadores não conseguem sobreviver no novo ambiente. O mesmo ocorre com as presas, que são principalmente insetos.” Então, sem animais que se alimentem deles e com novas fontes de comida, como as barata, por exemplo, comuns no lixo das cidades, as populações de escorpiões aumentam significativamente, o que contribui para elevar o número de encontro com humanos e, consequentemente, o de acidentes.

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Escorpião que mais causa acidentes atualmente, o Tityus serrulatus (escorpião amarelo), é nativo do Cerrado, bioma que mais tem sido destruído nas últimas décadas (Foto: Reprodução/Um Só Planeta)

O também biólogo Antonio Carlos Lofego, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) é um dos que não atribuem a proliferação dos escorpiões às mudanças climáticas. “Na verdade, não existe nenhum estudo aprofundado que explique de modo satisfatório esse fenômeno, até porque é recente”, diz. “Apenas nos últimos anos, os acidentes com escorpiões têm se tornado uma preocupação mais seria de saúde pública no país. Mas o que podemos observar é que é algo local, parece restrito ao Brasil.”

Por isso, Lofego afirma que é possível pensar que essa explosão de acidentes está associada ao aumento da população de escorpiões, que pode ter sido induzida por alguma prática de manejo adotada aqui no Brasil. “Temos no país uma cultura muito forte de realizar o controle de pragas, seja agrícolas ou urbanas, com uso de defensivos químicos”, explica. “Esses agrotóxicos são muito nocivos ao equilíbrio ambiental, uma vez que além da praga, acabam matando muitos outros organismos, inclusive vários muito úteis para nós, como aqueles que predam e são inimigos naturais das pragas.”

No caso dos escorpiões, eles são geralmente mais resistente aos defensivos, ou seja, quase não morrem com aplicação desses produtos, mas acabam sendo incomodados por eles e se deslocam, indo colonizar outras áreas. Quando esse processo com frequência leva à dispersão desses animais, que passam a ocupar novas áreas. “E com o agravante de agora não ter seus inimigos naturais, que foram mortos com aplicação dos defensivos”, acrescenta Lofego. “Assim as populações crescem sem controle”.

Outra situação que também favorece a redução dos predadores de escorpiões é a destruição de ecossistemas naturais. “Por exemplo, o escorpião que mais causa acidentes atualmente, o Tityus serrulatus (escorpião amarelo), é nativo do Cerrado, justamente o bioma brasileiro que mais tem sido destruído nas últimas décadas para expansão do agronegócio”, explica. “Assim, a espécie parece ter se adaptado bem a ambientes urbanos para os quais tem migrado, mas seus predadores parecem não ter essa adaptação e estão desaparecendo junto com destruição dos seus ambientes naturais.”

Fonte: Um Só Planeta

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