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Pentacampeão mundial de futebol na Copa de 2002 na Coreia do Sul e Japão, Jenílson Ângelo de Souza, ou simplesmente Júnior, foi um dos mais importantes laterais-esquerdo brasileiros. Ídolo do Palmeiras e São Paulo, conquistou os mais expressivos títulos do futebol, como a Libertadores da América (1999 e 2005), Mundial de Clubes (2005) e Campeonato Brasileiro (2006, 2007 e 2008), além dos estaduais paulista, baiano e mineiro.
Com uma carreira construída pela constante titularidade em todos os clubes pelo qual passou, Júnior teve oportunidade na seleção brasileira como reserva direto de Roberto Carlos. Fez apenas uma partida na Copa de 2002, contra a Costa Rica, onde marcou seu único gol com a camisa canarinho.
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Durante visita a Botucatu, onde participou, na última semana, de um evento reservado promovido pela torcida do Palmeiras, o ex-jogador atribuiu, em entrevista exclusiva ao Leia Notícias, que os sucessivos fracassos da seleção brasileira nas Copas de 2006 a 2018 ocorreram devido ao mau planejamento estratégico da comissão técnica. Usou como exemplo de sucesso a seleção alemã, que após ser derrotada pelo Brasil em 2002 passou por profunda reestruturação e se tornou campeã doze anos depois.
Para Júnior, há um nivelamento no atual futebol mundial, o que fez com que seleções, até então, sem muita expressão, obtivessem resultados inéditos na Copa do Mundo. Ressalta que as cobranças ao elenco, em muitas situações, foram exageradas, mas alerta que Neymar precisa voltar a ter foco somente dentro de campo. Citou que a permanência de Tite à frente da equipe principal foi acertada e que haverá tempo e planejamento diferente a partir do fracasso na Rússia. Ele frisa, ainda, que as saídas precoces de jovens talentos para o exterior podem comprometer a qualidade dos campeonatos nacionais e, com isso, influenciar até mesmo na busca de uma renovação de qualidade na seleção principal.
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Leia Notícias – Passado exato um mês da eliminação da Copa do Mundo da Rússia, pela Bélgica, o que você aponta como o motivo da queda da Seleção Brasileira?
Júnior – Tem-se que analisar que as seleções têm evoluído, e muito, no futebol, e os países que foram às finais trabalharam por anos suas bases. Lembro da Alemanha (derrotada pelo time que Júnior integrou em 2002), demorou doze anos para ganhar uma Copa do Mundo, infelizmente no Brasil. Esses dirigentes têm acompanhado as seleções de base, para se montar um time pronto. Nossa seleção enfrenta uma situação em que falta paciência para a formação do jogador, trabalhar os jovens e se ter um time forte. Montamos a seleção com atletas que atuam na Espanha, Inglaterra, França, Portugal, e isso é prejudicial. Acaba por fazer com que a seleção não tenha uma identidade boa para se ganhar uma Copa do Mundo. E frente a isso, temos as evoluções de outras seleções, como a inglesa, onde todos os jogadores disputam o campeonato nacional.
LN – Faltou consistência à seleção brasileira?
Júnior – Sim, faltou consistência. É difícil unir 23 jogadores e obter êxito, uma unidade, manter a amizade e até criar um padrão de jogo. Mas isso não tira o mérito de que as outras seleções vêm evoluindo. Essa que é a realidade e temos que rever nosso futebol. Se for ganhar só por nome e peso de camisa, a seleção brasileira não voltará a ganhar uma Copa tão cedo.
LN – Uma das consequências diretas foram as críticas aos jogadores, com ataques racistas e cobranças diretas a Neymar. Para você, o que ocorreu após a eliminação foi exagerado e o que realmente faltou dentro de campo?
Júnior – Não temos que sacrificar apenas uma pessoa. Ali tem toda uma equipe, treinador, auxiliares. Mas lógico que depositamos nossas fichas no Neymar, que era a referência para que a seleção tivesse êxito. Esse é um jogador que chama para si a responsabilidade. E, com isso, vem a cobrança do torcedor, da imprensa, dos demais jogadores. Fica complicada a situação. Quando ele é cobrado, sente isso. É um menino (e digo menino por ter 26 anos, mas o Maradona ganhou uma Copa do Mundo sozinho aos 25) pelo comportamento e procura mídia. Queríamos um Neymar 100%, o que não foi. Jogou a Copa com as condições físicas e técnicas abaixo do que ele pode apresentar. Mas é um jogador que esperávamos um pouco mais, assim como também depositamos expectativas em outros atletas. O Willian não foi aquele das Eliminatórias, assim como o Gabriel Jesus, que também não teve uma atuação satisfatória. O próprio Tite aprendeu que jogar uma Copa do Mundo foi totalmente diferente do que disputar um torneio sul-americano. Infelizmente aconteceu essa eliminação e eu, sinceramente, estava confiante com esta seleção até pelo que ela apresentou nos jogos que antecederam o mundial.
LN – A decisão em manter o Tite foi correta ou a seleção precisava de um novo comando e filosofia de treinamento?
Júnior – Foi bem acertada. Ele provou ser um grande treinador e no Corinthians ganhou tudo (Libertadores de 2012, Mundial da Fifa no mesmo ano, os Campeonatos Brasileiros de 2011 e 2015, entre outros títulos). Pegou a seleção desacreditada, com uma campanha irregular nas Eliminatórias, e transformou aquele time, sendo a primeira seleção a ser classificada para a Copa (com exceção da Rússia, país-sede do torneio). É um técnico de muita competência e não é uma derrota como essa que tirará o brilho de tudo o que fez. Terá agora quatro anos para montar a equipe e aprender, com a CBF, para novamente brigar pelo título, em 2022.
LN – Júnior, sua carreira é repleta de conquistas. Em todos os clubes que atuou foi campeão de algum torneio. Quais os jogos que são os ditos inesquecíveis?
Júnior – Isso vem desde o Vitória, com o baiano, passando pelo Palmeiras, com a Libertadores de 1999, o Parma, na Copa Itália (2002) e esse título veio com um gol meu. E depois veio a sequência de títulos com o São Paulo (de 2005 a 2008). Mas a Copa do Mundo de 2002 (na partida contra a Costa Rica, ainda na primeira fase), entrar em campo e marcar um gol, foi algo inesquecível. É o topo e a coroação da carreira que todo jogador espera obter. Tive essa sorte e sucesso, graças a Deus.
LN – Você vem de uma geração em que se fazia carreira no Brasil, almejava a seleção e depois poderia pensar em clubes europeus. Situação que se inverteu atualmente, com promessas indo cada vez mais cedo para o exterior. Como projeta o futebol brasileiro para os próximos anos tendo esse cenário presente nos gramados?
Júnior – Para o futebol brasileiro isso é ruim. Joguei durante quatro anos no Palmeiras, com equipes de ponta e sempre em alto nível, para só depois me transferir para a Europa. Hoje um garoto com 10 anos já tem staff e empresário por trás cuidando da carreira. Vê-se um enfraquecimento do futebol, e como o Brasil é pobre neste aspecto para segurar os jogadores. Os clubes têm dificuldades em pagar a folha salarial e são obrigados a vender cada vez mais cedo suas promessas. Já foram Vinicius Júnior (ex-Flamengo e atual Real Madrid) e Paulinho (ex-Vasco da Gama e atualmente no Bayer Leverkusen). Ambos têm dezoito anos e foram negociados precocemente. Com isso, temos um campeonato nacional mais pobre e isso é ruim até para a Seleção.
Fonte: Flávio Fogueral / Jorna Leia Notícias